BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou de “suprema humilhação” as restrições impostas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e disse que nunca pensou em sair do Brasil ou ir para embaixadas.
Ele foi alvo de buscas realizadas pela Polícia Federal nesta sexta-feira (18). Terá que usar tornozeleira eletrônica e não poderá sair de casa à noite e nos fins de semana, além de não poder se comunicar com outros investigados ou com representantes de embaixadas estrangeiras.
“A suspeita é um exagero. Sou ex-presidente da República, tenho 70 anos de idade. Suprema humilhação. É a quarta busca e apreensão em cima de mim”, afirmou. “O inquérito do golpe é um inquérito político. Nada de concreto existe ali.”
Bolsonaro enfrenta um processo por acusação de liderar uma trama golpista e também é foco de outras investigações conduzidas pelo órgão.
Com a tornozeleira, o ex-presidente passará a ser monitorando pelas autoridades às vésperas do julgamento da trama golpista, que poderá levá-lo à prisão.
Na entrevista à imprensa diante da PF, o ex-presidente também se referiu à tentativa de golpe pela qual é acusado de “golpe de festim”.
O ex-presidente ainda afirmou que não tentou fugir. “Sair do Brasil é a coisa mais fácil que tem. Não conversei com ninguém [sobre deixar o país]”.
Segundo ele, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho, deve continuar nos EUA, onde tenta jogar a opinião pública e o governo local contra autoridades brasileiras.
“Ele não vem mais para cá, acredito que ele não vem mais para cá. Se ele voltar para cá, vai ser preso”, declarou o ex-presidente. “Eu não tenho a menor dúvida que é perseguição. Que provas tem contra mim? Não tem nada. São só suposições”
A PF apreendeu cerca de US$ 14 mil na operação de busca realizada contra o ex-presidente, de acordo com agentes que acompanham as ações. Foram realizadas buscas na casa dele e na sede do PL, seu partido.
“Sempre guardei dólar em casa, pô. Todo dólar pego lá tem recibo do Banco do Brasil”, disse Jair Bolsonaro a jornalistas.
O ex-presidente disse que tinha um almoço marcado com embaixadores na semana que vem, mas que não participará por causa das restrições impostas por Moraes. “Eu tenho mais contato com embaixadores do que o próprio ministro das Relações Exteriores [Mauro Vieira]”, declarou Bolsonaro.
Ele também fez críticas à forma como o governo Lula está lidando com as tarifas a produtos brasileiros impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao anunciar as tarifas, o governante americano vinculou a decisão ao processo contra Bolsonaro. Segundo Trump, o julgamento precisa parar imediatamente.
Na decisão, Moraes afirmou que declarações do ex-presidente e a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, que tenta jogar a opinião pública e o governo americano contra as autoridades brasileiras, são atentados à soberania nacional.
O ministro do STF também escreveu que as tarifas são uma “extorsão” contra a Justiça brasileira e mencionou fala de Bolsonaro que condiciona o fim da sanção à sua anistia.
Bolsonaro disse estar à disposição, se tiver o passaporte devolvido, para buscar uma audiência com Trump para negociar as tarifas. “O Lula não conversa com o Turmp”, declarou o ex-presidente.
“O que incomodou o governo americano, e muito, foi por ocasião do Brics, o Lula falar em um novo padrão monetário, que é o dólar fora das negociações do Brics”, disse ele.
Bolsonaro também citou a preferência expressa por Lula por Kamala Harris, adversária de Trump na última eleição americana. “Ele quer ser tratado com cordialidade?”, questionou o ex-presidente brasileiro.
O ex-mandatário disse que, em 2019, o republicano cogitou impor tarifa sobre o aço brasileiro e ele negociou e, agora, o Brasil não está negociando.
ADVOGADOS
A defesa de Bolsonaro afirmou ter recebido “com surpresa e indignação” as medidas cautelares impostas ao ex-presidente. Disse ainda que ele “sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário”.
A decisão contra Bolsonaro se dá no momento em que o bolsonarismo estreita os laços com o governo americano de Trump. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, está nos EUA.
O procedimento sigiloso que levou à aplicação das medidas contra Bolsonaro foi autuado no STF e distribuído ao gabinete de Alexandre de Moraes em 11 de julho, dois dias depois que Trump anunciou a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros citando o processo contra o ex-presidente no STF.