São Paulo, 14 de maio de 2025 – A ação da JBS opera em forte queda após resultado do primeirotrimestre de 2025 apresentado na noite de ontem pela companhia. Os analistas citam boasavaliações, com partes acima ou abaixo do esperado, com destaque para expectativas de crescimentofuturas diante do potencial do mercado e do avanço do processo de dupla listagem da companhia nosEstados Unidos e no Brasil, apresentado em julho de 2023, com o primeiro dia de negociação na NYSEcomo ação primária datado para acontecer em 12 de junho. Por volta de 12h47 (horário deBrasília), o papel JBSS3 caía 6,46%, a R$ 38,21.
O Goldman Sachs considera que a JBS apresentou outro conjunto consistente de lucros, com a Pilgrimse a Seara atingindo seus melhores níveis de lucratividade no 1T25 no caminho certo. Embora osresultados possam criar uma expecativa de elevações das expectativas de consenso, os analistasacreditam que os preços da ação da companhia ainda serão limitados no curto prazo porrecomendações contraditórias das agências de ‘proxy’ Institutional Shareholder Services (ISS) eGlass Lewis, antes da assembleia de acionistas agendada para votar a dupla listagem.
O Goldman Sachs continua com classificação de compra para as ações da JBS, citando umacombinação de expectativas elevadas de expansão com base nas projeções de crescimento dapopulação global de, em média 0,7% ao ano até 2050, opções para alocação de capitalacumulativa (prevê que a JBS poderia gerar fluxos de caixa livre agregados equivalentes a 26% deseu valor de mercado nos próximos três anos) e uma avaliação barata (atualmente negociada com umdesconto relativo atualizado de 22% para a Tyson, embora superando consistentemente ambos em termosde crescimento e rentabilidade).
A tese de investimento dos analistas do Goldman Sachs vai além da listagem dupla e vê no balançoabertura para opcionalidades de crescimento gradual. “A alavancagem atingiu 2,0x e o fluxo de caixalivre foi melhor do que o esperado num trimestre sazonalmente fraco, impulsionado pelo capital degiro e uma implantação de Capex mais cadenciada. Continuamos pensando que um pipeline robusto deprojetos focados em produtos de marca e de valor agregado poderia desconectar a JBS de outros paresde commodities e gradualmente aproximá-la de nomes de bens de consumo como Hormel (que atualmenteé negociada a 12,0 vezes seu ebitda futuro de 12 meses)”, opinam.
A XP avalia que “não são tempos normais para a JBS”, com aumento da volatilidade no curto prazo àmedida que a assembleia geral da dupla listagem se aproxima, e as discussões da conferência deresultados deveriam ditar o movimento das ações.
Em relação ao resultado do 1T25, a XP destaca que vieram sólidos, mas com FCF abaixo daexpectativa. “A JBS reportou um início de ano sólido, superando a sazonalidade na maioria dasproteínas, com a carne bovina nos EUA/Brasil como exceção: a receita líquida foi de R$ 114,1bilhões (+29% A/A e +4% vs. XPe) e o EBITDA ajustado, considerando R$ 465 milhões em acordosantitruste, foi de R$ 8,9 bilhões (+39% A/A e +2% vs. XPe). As operações de aves e suínoscontinuam em destaque nos EUA e no Brasil, impulsionando as margens consolidadas, enquanto aAustrália também contribuiu positivamente. No entanto, JBS Brasil contraiu mais do que o esperadoe a margem EBITDA ajustada de US beef foi de -1,8%, levantando a questão de quão baixas as margenspodem chegar ou quão pequena essa unidade de negócios poderia se tornar, algo que iremosacompanhar na conferência de resultados de amanhã. Por outro lado, o consumo de caixa foi maior doque o esperado, totalizando R$ 5,3 bilhões em comparação com nossa estimativa de R$ 1,9 bilhões,impulsionado principalmente por estoques e ativos biológicos.”
O BTG Pactual não viu surpresas no trimestre e destacou o crescimento anual de 39% do ebitda, com acompanhia superando comparações fáceis. “A JBS reportou um trimestre praticamente sólido e emlinha, uma vez contabilizados os resultados já divulgados da subsidiária PPC. As vendas e o EBITDAajustado ficaram 2% e 1% acima de nossa estimativa de R$ 114 bilhões e R$ 8,9 bilhões, embora compartes móveis que, em alguns casos, diferiram um pouco de nossas estimativas. O crescimento anualfoi de 28% e 39%, respectivamente. Os lucros ficaram 37% acima das expectativas, de R$ 2,9 bilhões,impulsionados por menores despesas financeiras líquidas em um trimestre marcado por intensavolatilidade cambial. O fluxo de caixa foi negativo em -R$ 4,9 bilhões, como normalmente acontecedurante o primeiro trimestre, devido à sazonalidade do capital de giro e também aos impostos sobreo caixa”, pontuaram os analistas.
O BTG destaca que, mais uma vez, os resultados foram salvos por aves e suínos. “Como tem acontecidohá quase um ano, os segmentos de suínos e de frango da JBS foram responsáveis por praticamente100% da expansão anual do EBITDA no primeiro trimestre, mais do que compensando as margensinferiores da carne bovina no Brasil e, principalmente, nos EUA. A Seara roubou a cena com fortesvendas (R$ 12,5 bilhões, + 22% a/a em exportações robustas) e uma margem EBITDA recorde de 19,8%no primeiro trimestre, 220 pontos base acima de nós e 820 pontos base acima de nós e 820 pontosbase acima da nossa projeção”, comentou o BTG.
A carne suína dos EUA também teve um bom desempenho com um EBITDA IFRS de R$ 1,5 bilhão, 9% acimado BTGe e 48% maior ano a ano, com uma margem sólida de 12%. A Austrália também teve um bomdesempenho, com uma margem EBITDA de 10%, beneficiando do aumento da procura externa, nomeadamentedos EUA. O outro lado foi o segmento US Beef, com margem EBITDA negativa de 1,6%, 80bps abaixo daprojeção do BTG e a mais baixa em quase uma década, junto com Brazil Beef, onde a margem EBITDAde 4% ficou 120bps abaixo do BTGe.
Por fim, o BTG reforça a recomendação em JBS como a única opção de compra dentro do setor deproteínas, mesmo sem a confiança de que o ciclo de ganhos e aumentos que alimentou as ações dacompanhia no ano passado se repetirá em 2025, reforçada pelo resultado alinhado com asexpectativas no primeiro trimestre. “E isso se tornará ainda mais evidente se a nossa tese de queas margens de aves/suínos convergirão gradualmente para níveis históricos ao longo do ano seprovar correta. Dito isto, desde o anúncio da luz verde regulatória para a listagem nos EUA,possuir a JBS não é mais um caso de dinâmica de lucros, mas sim um caso de algum potencial realde reclassificação múltipla de negociação. Atualmente, vemos a JBS sendo negociada a 5,4x EV emrelação ao nosso EBITDA de 2025 abaixo do consenso. A Tyson Foods, listada nos EUA, é negociada a7,6x, e a PPC, subsidiária da JBS, é negociada a 6,8x. Não parece razoável acreditar que uma JBSlistada nos EUA não possa, pelo menos, negociar em algum lugar entre eles. Cada 1x EV/EBITDA queele reavalia significa uma vantagem de aproximadamente 40%”, ressalta o BTG.
A Genial Investimentos considerou o resultado 1T25 “sem sal”, mas diz que está de olho na duplalistagem. “A priori, o resultado ficou um pouco aquém das nossas expectativas, com margem EBITDA de7,8% (-0,6p.p. vs. Genial Est.), apresentando retração de -1,4p.p. t/t e leve avanço de +0,6p.p.a/a. Vale ressaltar, no entanto que estávamos +0,5p.p. acima do consenso Bloomberg, de forma que amargem (principal indicador de resultado para o setor de frigoríficos), ficou em linha com omercado.
Na avaliação da Genial, a reprecificação via múltiplos levaria a uma alta de quase +30% nasações. “A JBS é negociada atualmente a 5,8x EV/EBITDA 25E, já refletindo a recente valorizaçãodas ações, que elevou seu valor de mercado. Ainda assim, o múltiplo permanece abaixo dos níveispraticados vs. peers, como Tyson Foods (8,4x) e a própria Pilgrims Pride-PPC (6,6x). Na Europa,companhias do setor de alimentos e bebidas listadas em Frankfurt e Londres são negociadas, emmédia, a 7,2, enquanto os pares asiáticos operam a 6,8. A convergência da JBS para a médiaglobal de 7,5x implicaria em um potencial valorização de +29,3% vs. múltiplo corrente mesmo que aconvergência não seja perfeita e mantenha um gap de +0,5x vs. peers o que modelamos como nossocenário base. Assim como delineado em nosso relatório Poder de voto vs. liquidez , consideramosesse rerating plausível à medida que a companhia avança em sua elegibilidade para índicesrelevantes, como o Russell 1000 e, futuramente, o S&P 500 (provavelmente, janela disponível para secandidatar apenas no 2S26).”
Uma vez tendo o primeiro dia de negociação na NYSE como ação primária, em 12 de junho, a Genialavalia que a crescente demanda por ações da companhia por parte de fundos passivos pode abrirespaço para que essa redução do gap vs. pares ocorra via blocos direcionados. “Outro pontoimportante que destacamos é que o possível ingresso no S&P500 (que ajudaria a trazer ainda maisfluxo comprador para as ações) ainda depende do aumento do free float para o mínimo exigido de50% hoje ~30%. Nesse sentido, vemos elevada probabilidade de que o BNDESPar, detentor de ~21% docapital total, inicie um movimento gradual de redução de participação nos próximos meses. Alémdisso, se olharmos o cronograma, aguardamos os próximos passos: (i) aprovação final do Programade BDRs pela CVM e B3 até junho/25; (ii) efetivação do Form F-4 e listagem na NYSE (provavelmenteaté junho); (iii) exercício de conversão Class AB ao longo de 2026; e (iv) divulgaçãotrimestral de resultados sob novos padrões de report”, detalha a Genial.
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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