AGÊNCIA DC NEWS]. A tensão entre uma política fiscal expansionista e uma política monetária restritiva está desenhando um cenário desafiador para o varejo em 2025. A análise é de Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail. Conselheiro de gigantes como GPA, C&A e Bauducco – ele é um dos principais especialistas do setor no Brasil –, falou ao videocast da Agência DC NEWS, o DC NEWS TALKS. “A queda de braço entre um governo ambíguo na questão fiscal e um Banco Central que se contrapõe não é um bom cenário para o varejo”, afirmou. “A política fiscal um pouco mais frouxa vai continuar empurrando consumo e demanda, mas os juros altos são sempre ruins ao varejo.”
Segundo Serrentino, o embate entre estímulos ao consumo e medidas de contenção monetária tende a travar o crédito, encarecer financiamentos e limitar a expansão das vendas, especialmente no segundo semestre deste ano. Depois de um 2024 marcado por crescimento generalizado no setor, o varejo iniciou 2025 com expectativas positivas e o primeiro semestre ainda pode ser impulsionado pelos efeitos tardios dos bons resultados anteriores, mas o segundo semestre inspira cautela. “Se o BC mantiver os juros elevados, enquanto o governo tenta aquecer a demanda, o varejo fica no meio do fogo cruzado”, afirmou.
Nesse ambiente, o consumo pode até manter algum ritmo, mas sem o suporte necessário do crédito, que está mais caro e restrito. Ele disse que os empresários, CEOs e C-levels com quem conversa estão preocupados com a trajetória dos juros e com a concessão de crédito – nesse quadro, é possível que bancos segurem a oferta. “Eles estão preocupados, todos. E nessas horas você recalcula a rota”, disse. Pequenos e médios varejistas devem ser os mais impactados, com efeitos diretos sobre o fluxo de caixa e a capacidade de investimento.
Com juros altos e cenário instável, a margem para erro fica ainda menor. Apesar disso, Serrentino acredita que há espaço para empresas preparadas atravessarem esse momento com mais segurança. Organizações com gestão financeira conservadora, foco em liquidez e controle rigoroso de custos estarão em melhor posição para enfrentar as turbulências. “O Brasil é um mercado que recompensa a resiliência, mas exige pragmatismo.” Quem está alavancado, no entanto, “pode tombar nessas horas de juros empinados”. Ele recomenda atenção especial à eficiência operacional e alerta para o risco de decisões mal calculadas em um cenário de custo financeiro elevado. “É preciso ler os sinais e ajustar rapidamente. E quem se adaptar primeiro terá vantagem.”
O especialista ainda falou sobre as transformações do setor com a inteligência artificial (IA). Segundo Serrentino, estamos entrando numa nova etapa. “A IA vai transformar todos os processos do varejo. Ela vai obrigar as empresas a redesenharem a maneira de funcionar”, disse. Para ele, os processos operacionais tendem a ser mais difíceis para grandes negócios, porque a sistematização levará mais tempo, já que envolve uma cadeia extensa e um número grande de lojas. “As grandes vão lidar com uma série de obstáculos que as pequenas não têm.” O recado dele é que não há justificativa para não usar inovações desse tipo, e nas empresas de todos os tamanhos, citando ferramentas de IA vendidas ou até alugadas por empresas de tecnologia de pequeno porte e startups. “Existem muitas opções, ferramentas gratuitas, por exemplo, capazes de gerar eficiência. É preciso estar atento.” Confira o vídeo com a entrevista.