Alteração no IOF, tarifas de Trump, fiscal aqui e no exterior e agenda cheia

Uma image de notas de 20 reais

São Paulo, 23 de maio de 2025 – O mercado deverá seguir avaliando a confusa divulgação doaumento da alíquota do IOF e seus impactos na última semana de maio. Após vazamentos,especulações e alterações no decreto, a questão do IOF ofuscou o considerado, por parte domercado, realista relatório bimestral de receitas e despesas. Foi anunciado um congelamento de R$31,3 bilhões, acima da expectativa do mercado, de R$ 15 bilhões.

Mas a mistura dos assuntos estressou o mercado. Os investidores e agentes já se mostram preocupadoscom a questão fiscal e a maneira como o anúncio foi feito não acalmou o mercado. O temor demedidas populistas persiste, após o anúncio da isenção de pagamento da conta de luz para 60milhões de pessoas e a promessa de Lula de anunciar, ao menos, mais três programas.

Para além do aumento do IOF, a semana foi marcada ainda, internamente, pela divulgação de umIBC-Br acima do esperado e por uma fala Hawkish do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo,sinalizando que o juro deve permanecer restritivo por ainda mais tempo. O Morgan Stanley divulgou umrelatório indicando compra de ações no Brasil, o que fez o Ibovespa bater nos 140 mil pontos,atingindo a maior marca da história.

No exterior, a semana abriu com o mercado absorvendo negativamente o rebaixamento da nota decrédito dos Estados Unidos pela agência Moody’s. E o encerramento não foi também dos maispositivos, com o presidente Donald Trump trazendo de volta os temores tarifários. O presidenteamericano acenou com uma taxa de 50% sobre a União Europeia a partir de 1o de junho.

Às 13h45 da sexta, 23, o Ibovespa marcava 137.528 pontos, acumulando uma perda semanal de 1,19%,sem conseguir sustentar o recorde atingido no período. O dólar comercial tinha desvalorização nasemana de 0,3%, cotado a R$ 5,6717. As taxas DIs para janeiro de 2029 abriram a semana remunerando13,605% ao ano e vão encaminhando o encerramento na casa de 13,610%.

Na agenda de indicadores da próxima semana, destaque na segunda para o boletim Focus e para asestatísticas do setor externo, que serão divulgados no início do dia. Na terça, o IBGE divulga oIPCA-15 de maio, às 9h. Na quarta, sai o Caged, com dados do mercado de trabalho em abril. Naquinta, será divulgada uma série de indicadores: o IGP-M de maio, as estatísticas de crédito doBC, a Pnad contínua e o resultado de abril do Tesouro. Na sexta, o BC divulga as estatísticasfiscais e o PIB do primeiro trimestre.

Política

Se ganhou tempo sobre a instalação da CPMI sobre as fraudes do INSS, o governo federal enfrentounesta semana novos problemas de coordenação e comunicação. A confusa divulgação sobre oaumento na alíquota do IOF ofuscou os esforços fiscais da Fazenda, que anunciou uma contenção degastos acima da expectativa do mercado.

O que era pra ser uma boa notícia se transformou em um show de má divulgação e abriu espaçopara especulações e rumores, que estressaram o mercado. Como já havia feito em outras ocasiões,o governo misturou a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas com o anúncio daelevação das alíquotas do IOF.

Ao atrasar a divulgação, o governo viu a informação vazar – primeiro na imprensa eposteriormente pelo próprio ministro dos transportes, Renan Filho -, gerando uma série deespeculações. Nitidamente contrariado com tudo isso, o ministro da Fazenda concedeu coletivaexplicando o bloqueio e contingenciamento e evitando tratar do IOF. Para completar, em meio àscríticas e má repercussão, o governo voltou atrás sobre dois pontos e revisou o o decreto aindana noite da quinta.

A questão fiscal ainda é ponto de preocupação ao mercado. O esforço feito pelo Ministério daFazenda ao anunciar a contenção de R$ 31,3 bilhões – acima do esperado pelo mercado – foiofuscado pelo aumento do IOF e também por novas sinalizações de que o Executivo irá adotarmedidas populistas. O projeto para isentar de conta de luz 60 milhões de brasileiros foi anunciadonesta semana. Em discurso, Lula prometeu mais três programas a serem anunciados. A intenção écombater os baixos níveis de popularidade, tentando garantir a reeleição em 2026.

A agenda econômica do governo no Congresso pouco avança. Os destaques em plenário nesta semanaficaram por conta da aprovação do reajuste de servidores, da revisão da lei ambiental e daproibição de descontos em folha para aposentados do INSS.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, informou que vai convocar uma sessão do Congresso Nacionalpara o dia 17 de junho, destinada à apreciação de vetos e à leitura do pedido de criação daCPMI para investigar fraudes nos benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. A sessão será,portanto, antes das festividades de São João no Nordeste. A informação foi passada em uma breveentrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (22). A publicação da convocação deve ocorrernesta sexta-feira (23).

Internacional

Após uma trégua frágil, a tensão volta a escalar entre Estados Unidos e Europa, e os mercados sepreparam para uma semana de elevada volatilidade. A ameaça do presidente Donald Trump de importarifas de 50% sobre produtos europeus a partir de 1º de junho reacendeu os receios de uma guerracomercial transatlântica, ofuscando quaisquer expectativas de estabilidade após o recente alívionas tarifas sobre a China.

Segundo estimativas preliminares, se as tarifas forem integralmente implementadas, o impacto sobre ocrescimento europeu pode ser severo: uma redução de até 0,6 ponto percentual no PIB da zona doeuro, empurrando a economia para a beira da recessão. Nos EUA, o movimento também pode aprofundarpressões estagflacionárias, ao elevar preços sem contrapartida em crescimento.

A semana, que se anunciava tranquila, termina com um alerta: as apostas protecionistas voltaram àmesa, e o mercado precisa se reposicionar. As empresas dos setores de tecnologia e farmacêuticoaparecem no centro das críticas da Casa Branca, elevando a cautela entre investidores.

Dados sob tensãoNos Estados Unidos, os índices de confiança do consumidor são esperados com alguma recuperação,reflexo do acordo provisório com a China que reduziu tarifas de 145% para 30%. No entanto, osganhos recentes nos mercados acionários podem ser rapidamente anulados pela retórica agressiva deTrump nas redes sociais, que voltou a semear dúvidas sobre o futuro dos acordos comerciais. Areação aos dados, portanto, tende a ser contida.

Na Europa, os destaques econômicos se concentram na divulgação da confiança do consumidor nazona do euro em maio, além de uma bateria de dados na Alemanha: taxa de desemprego e vendas novarejo de abril, além da prévia da inflação de maio (IPC). A depender dos números, a narrativarecessiva pode se fortalecer.

Do lado europeu, uma proposta revisada de resposta às tarifas americanas ainda está sendodiscutida em Bruxelas. Um pacote de retaliação de 95 bilhões está na mesa, embora diplomatasnão descartem uma nova tentativa de acordo de última hora repetindo o padrão já observado nasnegociações com a China.

Olhar voltado para a ÁsiaNa Ásia, o foco estará na decisão de política monetária do Banco da Coreia, em um contexto dedesaceleração global, e na divulgação dos dados de inflação de Tóquio. Além disso, osmercados acompanham atentamente os lucros industriais da China, buscando sinais da resiliência dasegunda maior economia do mundo frente ao novo cenário de incertezas.

A próxima semana promete ser decisiva: se não houver sinal de distensão nas relações comerciaisentre EUA e UE, os investidores devem adotar uma postura ainda mais defensiva, com impacto diretosobre bolsas, moedas e commodities. O risco agora está no radar – e não há garantias de que omercado escapará ileso.

Empresas

A grande notícia da semana foi a aprovação, na última segunda-feira (19/05), pelo InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do plano proposto pelaPetrobras de prevenção a emergências, parte de seu projeto para prospectar petróleo na bacia dafoz do rio Amazonas, em águas profundas do Amapá.

Nas palavras do órgão ambiental, foi aprovado “o conceito do Plano de Proteção e Atendimento àFauna Oleada (PPAF), apresentado pela Petrobras como parte do Plano de Emergência Individual (PEI)para a atividade de pesquisa marítima no Bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas.”

“A aprovação do conceito do PPAF indica que o plano, em seus aspectos teóricos e metodológicos,atendeu aos requisitos técnicos exigidos e está apto para a próxima etapa: a realização devistorias e simulações de resgate de animais da fauna oleada, que testarão, na prática, acapacidade de resposta em caso de acidentes com derramamento de óleo.”

A decisão do Ibama considerou as análises técnicas constantes em parecer e manifestaçãotécnicos que avaliaram a versão mais recente do plano submetido pela Petrobras.

O Ibama ressaltou que a aprovação do plano “representa o cumprimento de uma etapa no processo delicenciamento ambiental, mas não configura a concessão de licença para o início da realizaçãoda perfuração exploratória” e que “a continuidade do processo de licenciamento dependerá daverificação, em campo, da viabilidade operacional do Plano de Emergência Individual.”

Para isso, o Ibama definirá, em conjunto com a Petrobras, um cronograma para a realização deAvaliação Pré-Operacional (APO), etapa que verificará, por meio de vistorias e simulações, aefetividade do Plano de Emergência Individual proposto. “O Ibama reafirma seu compromisso com odesenvolvimento sustentável do país, buscando integrar o desenvolvimento econômico e oaprimoramento da infraestrutura com respeito às características socioambientais de cada região”,finalizou o comunicado do Ibama divulgado no início da semana.

No entanto, o anúncio aumentou a expectativa de que a licença sairá, como comentou aex-presidente do Ibama à BBC, Suely Araújo, atual coordenadora de políticas públicas daorganização ambiental Observatório do Clima, a decisão do Ibama desta segunda-feira é “pontual,mas traz todas as evidências de que essa licença sairá”. Araújo acredita que falta pouca coisapara ser atendida pela empresa em relação ao que o Ibama pediu e que o licenciamento deve seraprovado ainda neste ano. “É uma decisão relevante considerando os documentos mais recentes doprocesso”, disse Araújo à BBC News Brasil, lamentando a aprovação da nova etapa, devido apreocupações com seus impactos sociais e ambientais.

Em entrevista ao Valor, a presidente da Petrobras reiterou seu otimismo em relação à concessãoda licença ambiental pelo Ibama e à capacidade da Petrobras de conseguir cumprir ascondicionantes. A executiva também disse que a empresa planeja furar oito poços na bacia da Foz doAmazonas. A primeira licença em análise no Ibama é relativa ao bloco FZA-M-59 e, depois, aPetrobras considera uma licença conjunta para outros sete, explicou.

Em comunicado divulgado pela Petrobras logo após a aprovação pelo Ibama, Magda Chambriard, disseque a empresa irá instalar na Margem Equatorial, “a maior estrutura de resposta à emergência jávista em águas profundas e ultraprofundas”.

“A Petrobras vem cumprindo de forma diligente todos os requisitos e procedimentos estabelecidospelos órgãos reguladores, licenciadores e fiscalizadores. Temos total respeito pelo rigor dolicenciamento ambiental que esse processo exige. Estamos satisfeitos em avançar para essa últimaetapa e em poder comprovar que estamos aptos a atuar de forma segura na costa do Amapá. Vamosinstalar na área a maior estrutura de resposta à emergência já vista em águas profundas e ultraprofundas”, disse em nota a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.

De acordo com a Petrobras, os testes envolverão mais de 400 pessoas, navios de grande porte ehelicópteros, com a realização de vistorias e simulações no local para verificar como apetrolífera responderia em caso de uma emergência. “Portanto, na próxima e última etapa previstano processo de licenciamento, a Petrobras e o Ibama realizarão uma simulação in loco das açõesde resposta à emergência, a Avaliação Pré-Operacional (APO). Nesse exercício, será simuladoum evento acidental de vazamento de óleo, com o objetivo de avaliar a eficácia do plano deemergência da Petrobras para a atividade de perfuração”, disse a empresa.

“Durante a APO, serão avaliados pelo Ibama aspectos como a eficiência dos equipamentos, aagilidade na resposta, o cumprimento dos tempos de atendimento à fauna previstos e a comunicaçãocom autoridades e partes interessadas. Por meio da APO, a Petrobras será capaz de demonstrar suacapacidade de atuar com prontidão e estará habilitada para receber a licença para perfuração dopoço”, detalha a Petrobras.

O exercício contará com a própria sonda de perfuração NS-42, que será posicionada no local aser perfurado.

Três fontes próximas ao assunto disseram à Reuters que o navio-sonda que a Petrobras planeja usarpara perfurar a Bacia da Foz do Amazonas estará pronto para viajar ao local até o fim do mês,enquanto a empresa corre para obter uma licença de perfuração na região. As fontes disseram quea embarcação deve partir para a região após a limpeza de corais da sonda, que está perto de serfinalizada. O navio-sonda levaria entre 20 e 30 dias para chegar ao Amapá depois de sair do Rio deJaneiro. Assim, até o final de junho a companhia estaria pronta para realizar o simulado.

A Petrobras frisa que o bloco que pretende explorar está “distante mais de 500 km da foz do rioAmazonas e a mais de 160 km da costa, em alto mar”. A região abriga vastos recifes de corais ecomunidades indígenas costeiras.

“A atuação da Petrobras na Margem Equatorial, região que compreende a faixa litorânea entre oAmapá e o Rio Grande do Norte, é pautada no respeito à vida, às pessoas e ao meio ambiente. Asatividades da Petrobras são realizadas sob protocolos rigorosos de responsabilidade social eambiental e a companhia tem ampla e larga experiência técnica, adquirida ao longo de décadasatuando no offshore brasileiro, com reconhecimento mundial em Exploração e Produção em águasprofundas. A confirmação da existência de petróleo na Margem Equatorial poderá abrir umaimportante fronteira energética para o país, que se desenvolverá de forma integrada com outrasfontes de energia e contribuirá para que o processo de transição energética ocorra de formajusta, segura e sustentável”, afirma a Petrobras.

A Petrobras prevê investir US$ 77,3 bilhões dos US$ 11 bilhões previstos em seu Plano deNegócios 2025-2029 em atividades de exploração e produção (E&P), 5% a mais que no planoanterior.

Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua, e Larissa Bernardes / Safras News

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