Atacar programa nuclear do Irã é opção, diz Israel

Uma image de notas de 20 reais

JERUSALÉM, ISRAEL (FOLHAPRESS) – Discutindo com os Estados Unidos a melhor forma de retaliar o ataque com mísseis balísticos cometido pelo Irã na última terça-feira (1º), Israel resolveu dizer em público que uma das opções na mesa é alvejar as instalações do programa nuclear da teocracia de Teerã.

A afirmação foi feita pelo embaixador do país na ONU, Danny Danon, em entrevista à rede americana CNN. Segundo ele, “se o mundo ocidental sabe que o Irã está criando capacidades nucleares, o que ele está esperando?”.

Danon disse que Tel Aviv tem “todas as opções na mesa”. É um jogo de pressão, também: o Estado judeu demonstrou ao longo de um ano da guerra começada pelo Hamas ter meios para ataques de longa distância conta os rivais, sem falar na obliteração de Gaza e na campanha no Líbano.

O ataque de terça não causou danos conhecidos graves, apesar de ter provado que o Irã pode causar estragos se aumentar a intensidade de uma leva de mísseis balísticos, difíceis de interceptar. Isso deixou duas opções ao governo de Binyamin Netanyahu.

Uma, fazer como no ataque iraniano de abril e dar uma sinalização de força limitada. Outra, atacar o bolso dos aiatolás ao bombardear o parque petroquímico do país ou instalações de refino de petróleo. Por fim, as instalações onde Teerã, segundo especialistas, está a meses de fazer uma bomba atômica se quiser.

O último alvo é o objeto de desejo de Netanyahu, mas as implicações são as de uma guerra total. Isso fez o presidente Joe Biden, fiador de Tel Aviv, dizer nesta quarta que os EUA estão conversando com Israel acerca da medida da vingança.

O americano teme que a guerra que já é regional se amplie para lugares como o golfo Pérsico, dono de cerca de 25% da produção de petróleo do mundo. A priori, ninguém tem interesse em prejudicar os negócios, mas conflitos são imprevisíveis.

Com efeito, Biden enviou um segundo grupo de porta-aviões para a região, sugerindo que está com Israel até o fim. A chancelaria do Irã, por meio da intermediária Suíça (uma vez que Washington e Teerã não têm relações diplomáticas), divulgou um alerta de que qualquer apoio americano será visto como uma agressão.

Nessa toada, a guerra em si seguiu em múltiplas frentes nesta quinta. Israel anunciou ter matado o chefe do governo do Hamas na Faixa de Gaza, Rawhi Mushtaha, ao lado de dois outros membros da cúpula do grupo terrorista cujo ataque há um ano contra o Estado judeu jogou o Oriente Médio em uma guerra que cresce diariamente.

Mushtaha, o ministro da Segurança, Sameh al-Siraj, e Sami Ouded, comandante do sistema prisional do Hamas, foram alvejados por caças israelenses em um bunker no norte de Gaza há três meses, segundo as Forças Armadas de Tel Aviv.

O grupo está desarticulado. Na quarta (2), uma comitiva do Hamas no exílio se encontrou no Cairo com membros do Fatah, a facção que comanda a Autoridade Nacional Palestina, um evento que o dirigente Wassel Abu Youssef havia definido à Folha como mais um passo para anunciar um governo de consenso após um cessar-fogo.

A ação mostra a renovada ofensiva de Israel sobre o território, com ataques diários e a consequente morte de civis. Até aqui, o Hamas conta 41,6 mil mortos, mas não faz separação entre seus integrantes e moradores; Israel calcula ter matado ou prendido cerca de 20 mil membros do grupo.

A guerra regional, que ganhou contorno de realidade desde que o governo de Binyamin Netanyahu passou a atacar o Hezbollah libanês com mais intensidade —matando seu líder, Hassan Nasrallah, assim como havia assassinado o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh—, segue em curso.

Israel está na ofensiva. O Hezbollah vinha tocando uma guerra de atrito de baixa intensidade, com escaramuças diárias que levaram 60 mil israelenses a deixar suas casas no norte do país. Houve alguns momentos de maior embate, mas só agora Netanyahu resolveu encarar o rival com quem travou uma guerra em 2006.

Nesta quinta, os israelenses bombardearam Beirute, deixando ao menos nove mortos. O ataque atingiu o coração da capital libanesa, próximo de diversos prédios do governo. Posições do Hezbollah foram atacadas também no sul do país, onde a invasão terrestre de Israel está nos seus primórdios.

A crise jogou o país árabe, com longa história de disfuncionalidade política, numa crise aguda. O governo interino conta 1 milhão de deslocados e quase 2.000 mortos desde o 7 de Outubro, a maioria nessas duas últimas semanas.

Ainda nesta quinta, Beirute disse que trocou fogo pela primeira vez no conflito com forças de Israel. O episódio, contudo, foi menor, e o fato é que o Líbano não tem poderio nem para fazer frente ao Hezbollah internamente.

Após sofrer as primeiras baixas oficiais na quarta (2), com oito mortos, Tel Aviv disse que ao menos 60 combatentes do Hezbollah morreram em choques diretos com suas forças nesta quinta. Um oficial israelense também foi declarado morto.

Ao mesmo tempo, confirmando a ampliação regional do conflito, Israel foi acusado pela Síria de atacar um depósito de armas na província de Latakia. A ação, que como de praxe não foi comentada por Tel Aviv, chamou a atenção de Moscou por ter ocorrido numa área próxima da base russa de Khmeimim.

Quando interveio na guerra civil local em favor do ditador Bashar al-Assad em 2015, Vladimir Putin expandiu sua presença militar e estabeleceu um QG naquela unidade.

Os russos incrementaram também as instalações do porto de Tartus, onde já tinham direito de uso desde o tempo em que o pai de Assad, Hafez, era grande cliente da União Soviética.

Houve também explosões relatadas perto de Damasco. Os israelenses não falam sobre isso, mas sua tática é buscar impedir o reforço do Hezbollah pelo envio por terra de armas do vizinho.

Em outra frente, Israel disse que derrubou dois drones na região central do país. Os houthis do Iêmen, rebeldes apoiados por Teerã, reivindicaram a autoria da tentativa de ataque contra Tel Aviv.

Os alertas de ataques do Hezbollah seguiram ao longo do dia, com mais de cem projeteis sendo disparados contra o país.

Voltar ao topo