BC volta a intervir no câmbio e realiza segundo leilão do dia

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O BC (Banco Central) voltou a intervir no câmbio nesta sexta-feira (30), dessa vez em leilão adicional de 30 mil contratos de swap cambial no início da tarde.

Do total disponível, estimado em US$ 1,5 bilhão, foram vendidos 15.300 contratos de swap -o equivalente a US$ 765 milhões.

Esta foi a segunda operação extra realizada pelo BC nesta sexta, visando a injeção de recursos novos no sistema. Pela manhã, a autarquia vendeu US$ 1,5 bilhão no mercado de dólares à vista, marcando três intervenções do BC no mercado de câmbio desde o início do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No swap cambial, a autarquia faz uma espécie de venda de dólares no mercado de futuros, como forma de assegurar que há oferta para atender à demanda pela moeda. Trata-se de um instrumento de controle da cotação, para evitar grandes flutuações e disfuncionalidades.

O BC anunciou a operação no início da tarde, e ela ocorreu entre 12h50 e 13h desta sexta-feira, dia de formação da Ptax -uma taxa de câmbio que serve de base para a liquidação de contratos futuros, elaborada sempre no último dia útil do mês.

A disparada do dólar nos últimos dias levou às duas intervenções no câmbio. A mais recente operação nesses termos ocorreu em dezembro de 2021, no valor total de US$ 500 milhões. Já a última venda de dólar à vista aconteceu em abril de 2022, com valor de US$ 571 milhões.

Na prática, os leilões visam estimular a circulação de dólares no país, seguindo a lei da oferta e demanda: quanto mais disponível, menor o preço.

De acordo com Gabriel Meira, especialista em câmbio e sócio da Valor Investimentos, o BC trabalha com dados internos que são desconhecidos para o mercado e pode ter notado um fluxo de compras de dólar fora do comum nesta sexta.

A autarquia, então, “entendeu que o preço estava descorrelacionado do ideal e colocou dólares em leilão como forma de diminuir a cotação, protegendo o poder de compra da moeda”, explica.

O leilão pela manhã ainda atendeu ao rebalanceamento de um dos principais índices de referência para investidores que aplicam em Bolsas internacionais, chamado MSCI (sigla para Morgan Stanley Capital International).

A alta da moeda, porém, não foi contida após a primeira intervenção do BC, com pressão dos dados de inflação dos Estados Unidos e cautela diante dos riscos fiscais do país, em dia de envio do Projeto de Lei do Orçamento de 2025 ao Congresso Nacional.

A divisa começou o dia em queda de 0,81%, mas virou para alta de mais de 1% ao término do leilão, às 9h35. Os dados do PCE (índice de preços de despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês) foram divulgados às 9h30.

Diante da disparada, fez-se necessário o segundo leilão, diz Meira. “O dólar mexe diretamente com a inflação do país, e quase 90% do que consumimos está atrelado à moeda. Quase tudo que é transportado no Brasil é via caminhões, movidos a combustíveis ligados ao petróleo, que é contado em dólar. Quando o dólar sobe, a gasolina sobe e, por consequência, os alimentos também.”

Para evitar que a valorização do dólar impactasse a inflação, explica ele, foram feitos os leilões. Com a venda dos contratos de swap, a moeda desacelerou alta a 0,30%, cotada a R$ 5,639 na venda por volta das 13h45.

Nesta manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a autarquia fará mais intervenções no câmbio se necessário, ressaltando que a moeda é flutuante e que as atuações acontecem em momentos de disfuncionalidade no mercado.

“A gente está tendo um movimento de fluxo atípico por um rebalanceamento de um índice… Cabe ao BC mapear qual o tamanho desse desbalanceamento, quanto precisa para suprir esse fluxo que é atípico, e a gente também está olhando a diferença do que a gente entende que é um descolamento muito grande dos fundamentos, às vezes por critério de liquidez, às vezes por ruídos de curto prazo”, disse, em evento promovido pela XP Investimentos.

Dirigentes do BC -notadamente Campos Neto e Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e indicado à presidência da autarquia a partir de 2025- já falavam de intervenção no mercado de câmbio há alguns dias.

“Possivelmente algum fluxo muito forte de compras em dólares pode ter indicado ao BC que era a hora de intervir”, diz Meira.

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