Bloqueio completo do X esbarra em VPN e depende de boa vontade da Starlink; entenda

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O recuo da Starlink nesta terça-feira (3) sobre o bloqueio do X, rede social suspensa desde sábado por decisão do ministro Alexandre de Moraes e mantida pela Primeira Turma do STF, não fecha todos os caminhos para brasileiros ao site de Elon Musk.

Um corte completo exigiria a suspensão de provedores de VPN, atitude que esbarra em desafios técnicos e prejudicaria empresas por todo o país, segundo agentes do setor telecomunicações ouvidos pela reportagem.

Operadoras não conseguem saber o que os usuários estão acessando via VPN, apesar de terem capacidade de rastrear o aumento do uso da ferramenta, de acordo com Rogério Moreira, diretor de Tecnologia da Abinc (Associação Brasileira de Internet das Coisas).

“A informação é criptografada dentro do pacote de informações”, diz.

A ferramenta funciona como um túnel entre o dispositivo do usuário e um servidor remoto. Quando ativada, o tráfego de informações na internet passa por esse caminho, ocultando a localização e a identidade digital do usuário na rede.

Para impedir o acesso ao X, as operadoras consideram uma lista de IPs— números que funcionam como endereços na internet— da plataforma. Quando lidam com um pacote de informações que carrega o código em específico, interrompem a conexão.

A camada extra da VPN camufla o IP e torna a tarefa de bloquear seletivamente o acesso à plataforma de Musk inviável.

Somente a interrupção do serviço de VPN barraria o acesso à rede social, mas segmentos econômicos inteiros, alheios a embates entre Musk e o STF (Supremo Tribunal Federal), seriam impactados. A tecnologia é comum em diversos setores, de empresas que adotam o home office às que compartilham dados entre matriz e filiais.

“Existem várias tecnologias diferentes de VPN. Seria algo trabalhoso”, afirma Rodolfo Avelino, conselheiro do CGI (Comitê Gestor da Internet).

A mudança de postura da Starlink desta terça ocorre após a empresa de satélites comunicar à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que não cumpriria o bloqueio ordenado pelo STF. Em resposta, representantes do órgão afirmaram que a Starlink poderia ter a autorização para operar no país revogada

A retirada da permissão é encarada mais como um ato administrativo por especialistas. Seria mais difícil impedir que o sinal chegasse a usuários, se essa fosse a vontade da empresa, mesmo com a autorização revogada, de acordo com Rodrigo Rocha, gerente de arquitetura de soluções da empresa de cibersegurança CG One.

“Não existe como o serviço da Starlink ser bloqueado, uma vez que opera com satélites que são acessados diretamente pelas antenas dos usuários”, afirma.

Se a Starlink optasse por cortar o sinal oferecido ao Brasil, a avaliação é de que, apesar de não depender da tecnologia, o país teria prejuízo ao parar de utilizá-la de maneira abrupta. A empresa ganhou capilaridade nos últimos anos por oferecer conexões mais rápidas a regiões de difícil acesso.

“Temos mais de 150 mil ativações no Brasil de Starlink, que vão desde órgãos governamentais a escolas na região Norte que só tem essa tecnologia de conectividade”, diz Avelino.

Em junho, o Exército afirmou por meio de um posicionamento enviado ao ministério da Defesa que um eventual rompimento de contrato com a Starlink poderia causar prejuízo para “emprego estratégico de tropas especializadas”.

Segundo o documento, tecnologias da empresa proporcionam “redundância operacional” e “elevada confiabilidade” em locais com pouca ou nenhuma estrutura.

A manifestação se refere mais a um auxílio operacional oferecido pela estrutura da Starlink, e não ao trânsito de informações sensíveis, que firam reservadas a tecnologias nacionais como Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas, de acordo com Lucas Fonseca, engenheiro espacial e CEO da empresa Airvantis.

“A Starlink barateou e entregou uma tecnologia melhor, mas não somos dependentes e nem deveríamos ser, por questão de soberania”, afirma.