Bolsa acentua queda com dados de inflação nos EUA acima da previsão do mercado (amplia)

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

Acrescenta comentário sobre a inflação nos EUA e atualiza variações do Ibovespa.

São Paulo, 12 de fevereiro de 2025 – O Ibovespa acentuou o movimento negativo e baixou para 124 milpontos após a divulgação do índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dosEstados Unidos.

O indicador subiu 0,5% em janeiro na comparação com o mês anterior, já descontados os fatoressazonais, segundo dados do Departamento de Trabalho do país. O número veio acima da previsão domercado, que era de alta de 0,3% em base mensal. Em dezembro, o índice havia subido 0,4% emrelação a novembro.

Na comparação mensal, o núcleo do índice de preços ao consumidor, que exclui a variação dospreços de alimentos e energia, subiu 0,4% em janeiro, abaixo dos 0,2% registrados em dezembro. Nos12 meses encerrados em janeiro, o núcleo do índice de preços ao consumidor subiu 3%.

O principal índice de ações da bolsa brasileira abriu em forte queda, de mais de 1%, recuando aos125 mil pontos, após a divulgação dos dados locais do setor de serviços em dezembro.

A receita real de serviços, que se refere à evolução do volume da atividade no setor em termosreais, descontada a inflação (deflacionado), recuou 0,5% em dezembro ante novembro, segundo dadosdivulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou abaixodas expectativas do mercado financeiro, de +0,10%, conforme o Termômetro Safras.

Já em relação a dezembro de 2023, o volume de serviços avançou 2,4%. O resultado também ficouaquém das expectativas do mercado financeiro, de +3,20%, conforme o Termômetro Safras. Deste modo,o setor fechou 2024 com alta de 3,1%, quarto ano seguido de crescimento.

Nesta quarta-feira, os investidores também acompanharão mais uma apresentação do presidente doFed, Jerome Powell ao Congresso, desta vez na Câmara. Apesar de não serem esperadas grandessurpresas em seu discurso, suas declarações sempre merecem atenção, especialmente no contextoatual de incertezas sobre juros e inflação.

Às 11h46 (horário de Brasília), o principal índice da B3 caía 1,52%, aos 124.590,90 pontos. OIbovespa futuro com vencimento em fevereiro baixava 1,55%, aos 124.575 pontos. O giro era de R$ 4,8bilhões. Em Nova York, os índices de ações operavam em queda.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a inflação dos Estados Unidos veioacima do esperado: 0,5% contra a projeção de 0,3%, e 3% no acumulado contra os 2,9% projetados,afastando-se da meta de 2%. “O principal fator de pressão foi a inflação de moradias nos EstadosUnidos, que subiu 0,4% no mês e está em 4,4% na comparação anual. Esse componente, sozinho,representou cerca de 30% da inflação mensal, o que justifica a preocupação dos formuladores depolítica monetária americana com os custos de habitação, aluguéis e a escassez de moradias nopaís.”

“Ainda há um desequilíbrio entre os itens de serviços, que seguem pressionados, e os bens, cujospreços já se estabilizaram após o impacto inicial da pandemia. No primeiro e segundo ano da crisesanitária, houve uma pressão sobre os bens, mas essa tendência arrefeceu com o tempo. Já ainflação de energia era amplamente antecipada, uma vez que os preços internacionais sãorapidamente repassados ao consumidor. O petróleo, por exemplo, subiu ao longo do início de 2025,mas recentemente cedeu, o que pode trazer algum alívio em fevereiro”, acrescentou.

Na avaliação de Cruz, o maior desafio, no entanto, segue sendo a habitação. “Enquanto esseíndice permanecer acima de 4% no acumulado de 12 meses, será difícil reduzir a inflação para ameta de 2%. Esse cenário deve levar o Banco Central americano a manter uma postura cautelosa, nãoapenas por questões políticas, mas também devido às pressões inflacionárias internas. OFedWatch indica que o mercado projeta o primeiro corte de juros apenas em julho, o que faz sentidodiante do atual nível da inflação.”

O estrategista-chefe da RB Investimentos disse que alguns itens pontuais, como alimentos, chamam aatenção da população americana. “De modo geral, os preços desse segmento têm se mantidoestáveis, variando entre 0,3% e 0,4% no mês, mas produtos específicos, como ovos, registraramalta de 1,9%, gerando preocupação. No entanto, os principais desafios inflacionários estão emfatores estruturais menos evidentes.”

“Outro ponto de incerteza para os formuladores de política monetária nos EUA é o impacto dasnovas diretrizes de imigração propostas por Trump. Nos últimos anos, grande parte dos empregosformais vinha sendo ocupada por imigrantes, e uma eventual redução na disponibilidade de mão deobra pode gerar novas pressões inflacionárias. Além disso, o mercado de trabalho segue aquecido,o que adiciona mais um elemento de preocupação para o controle da inflação”, concluiu Cruz.

Mais cedo, Gustavo Cruz comentou que os dados sobre serviços no Brasil ficaram abaixo daexpectativa de crescimento, e a queda de 0,5% em dezembro reforça algumas preocupações nomercado, especialmente porque a produção industrial também mostrou uma desaceleração importanteno final do ano. “Isso sugere que a atividade econômica já estaria sendo impactada pelascondições monetárias mais apertadas e que os estímulos dos últimos anos já estariam seesgotando. Isso pode levar mais analistas a revisar para baixo as projeções de crescimento de2025.”

No entanto, ele acrescenta que, de qualquer forma, como se trata de um dado de dezembro econsiderando o crescimento de 3,1% no ano, esse desempenho ficou dentro do esperado. “Afinal,tivemos 2020 com muitas restrições, em 2021 o consumo foi elevado, e em 2022 e 2023 houve um forteimpulso no consumo de serviços com as reaberturas. Assim, 2024 era o ano esperado para oreequilíbrio, e de fato foi o que aconteceu. As pessoas voltaram a consumir mais bens, após umfoco maior em serviços em 2022 e 2023. O setor de serviços, por sua vez, acabou sentindo um poucodessa normalização, mas não porque houve uma queda drástica no consumo, apenas porque ocrescimento foi desacelerando.”

O analista espera que o setor de serviços como um todo não deve ter um grande desempenho em 2025.”A tendência é que o crescimento siga o padrão de 2024, que, como mencionei, foi um ano dereequilíbrio.”

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, comenta que os dados da PMS se somamaos da PIM e mostram que a perda de ímpeto da economia no fim de 2024 foi além de uma meracorreção do forte desempenho até outubro. “A alta dos serviços às famílias contrabalanceia umpouco a fraqueza da PMS, mas, de maneira geral, os números foram bem fracos. Projetávamosexpansão de 0,5% (3,9% a/a) no PIB do 4T24, mas, os dados de dezembro já divulgados sugerem umviés de baixa à projeção. Além disso, o desempenho ruim do PMI de serviços e da confiança dosserviços da FGV em jan/25 sugerem continuidade do momentum da atividade do setor no curto prazo.”

O analista também destaca que o volume de serviços decepcionou (exp. 0,2%), caindo 0,5% (2,4% a/a)em dez/24, com o número de novembro sendo revisado de -0,9% para -1,4% e com outros mesesanteriores revistos para baixo. “Apesar disso, os serviços às famílias expandiram 0,8% (2,2%a/a), com a performance negativa sendo puxada por serviços de informação e profissionais.Alémdisso, a difusão recuou para 53,6 (2,4% a/a). Com isso, o carrego do 4T24 caiu para 0,8% (1,1% no3T24).”

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, comenta em boletim matinal que hoje (12), o grandedestaque da agenda internacional é a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) dejaneiro nos EUA, um dos dados econômicos mais relevantes da semana. “O Federal Reserve acompanharáatentamente os números de hoje (12), assim como o índice de preços ao produtor (PPI) que serádivulgado amanhã (13), para avaliar a trajetória mais adequada da política monetária nospróximos meses. Entre os componentes do CPI, os preços dos alimentos merecem especial atenção,tanto nos EUA quanto no Brasil, pois representam uma das categorias de maior impacto para oconsumidor final”, disse o analista.

Em relação ao Brasil, o analista aponta que o governo tem entre os desafios a guerra comercialiniciada por Donald Trump, com a percepção de que as negociações podem minimizar as perdas parao Brasil, como ocorreu em 2018, e a batalha do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelaaprovação da lista de 25 projetos prioritários do governo, com avaliação de que “quem tem 25prioridades, não tem nenhuma”. “Mesmo sem tarifas recíprocas o Brasil impõe mais restriçõesaos produtos americanos do que o contrário , o déficit na balança comercial com os EUA dáespaço para negociação.”

Em relação às pautas econômicas, ele pontua que “a viabilidade dessas pautas dependerá, emgrande parte, de uma reforma ministerial, como indicou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner.A necessidade de cortes de gastos se impõe e o governo não pode se contentar com o aumento daeconomia de R$ 15 bilhões para R$ 20 bilhões no orçamento de 2025. O ajuste fiscal precisará sermais profundo, o que coloca Lula em uma encruzilhada: aceitar medidas impopulares ou arriscar umadeterioração adicional de credibilidade”, opina.

Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)

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