Bolsa dispara com expectativa de corte de juros no Brasil e nos EUA; dólar cai

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira registra forte alta nesta quarta-feira (26), com investidores repercutindo dados da inflação brasileira e animados com a projeção de corte de juros no começo de 2026, o que intensifica o apetite por risco durante o pregão.

No mercado internacional, a divulgação de relatório do Fed sobre a economia norte-americana e as expectativas para a decisão de juros do banco central dos EUA em dezembro também estão no radar dos investidores.

Às 15h50, o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário do país, subia 1,58%, a 158.385 pontos, a caminho de um novo recorde de fechamento. O resultado era amparado pelo avanço das ações do setor bancário brasileiro em bloco. No mesmo horário, o dólar recuava 0,66%, cotado a R$ 5,339.

No cenário doméstico, dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) alimentaram a expectativa de que um ciclo de corte de juros comece em breve. O levantamento subiu 0,20% em novembro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta, acima da expectativa de 0,18% de economistas consultados pela Reuters.

Os dados divulgados pelo IBGE, entretanto, mostram que a taxa acumulada em 12 meses até novembro foi a 4,5%, resultado que atinge exatamente o teto da meta de inflação —3% medido pelo IPCA, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, afirma que o índice trouxe mais resultados positivos do que negativos. “O quadro inflacionário brasileiro segue em processo de desinflação, reflexo da valorização recente do câmbio, da maior estabilidade das commodities, da queda nos preços dos alimentos e da desaceleração dos custos de produção”.

Para Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, apesar dos dados acima do esperado, eles mostram uma tendência de queda. “O mercado está cada vez mais consolidando um corte de juros em janeiro. A expectativa é que os investidores continuem animados durante o dia”.

Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, concorda e vê um ciclo de cortes de juros no Brasil para o primeiro trimestre de 2026. “Temos um cenário positivo externo, com mais apetite a risco. A certeza do corte está sendo preponderante durante o pregão”, afirma.

Ele também destaca que uma fala de Nilton David, diretor de Política Monetária do Banco Central, na última terça, pesa sobre a projeção do mercado.

Em evento em São Paulo, a autoridade monetária afirmou que uma elevação na taxa Selic não está mais no cenário-base, ressaltando ser esperado que o próximo movimento da autarquia seja de corte, embora não seja possível afirmar quando isso será feito.

“A gente basicamente falou: ainda que o Banco Central não hesitará em aumentar os juros, se necessário for, hoje aumentar os juros não está mais no cenário-base do Banco Central, nem na distribuição”, disse. “Hoje o esperado, se formos bem-sucedidos, é que o próximo movimento seja de corte. A questão só é quando”.

Na véspera (25), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a instituição deve perseguir a meta de inflação de 3%, e não o limite de 4,5%, e que a banda de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo existe apenas para amortecer flutuações. “A meta não é a banda superior (…). De maneira nenhuma a meta é de 4,5%”, disse durante audiência na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.

O presidente do BC também lamentou que, segundo as projeções do boletim Focus, a instituição não conseguirá cumprir a meta de 3% durante todo o seu mandato.

Na segunda (24), em evento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o presidente do BC já havia afirmado que o BC não está satisfeito com o atual nível da inflação. “Não é papel do BC ser ombudsman da política fiscal. A bola que temos que ficar de olho é a inflação”, disse.

No cenário internacional, o foco permanece na divulgação de dados econômicos dos EUA com destaque para o Livro Bege, relatório do Fed (Federal Reserve, banco central americano) que resume as condições econômicas do país.

Na terça-feira, o Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao produtor, um dos que mede a inflação do país, aumentou 0,3% em setembro, em linha com a previsão de economistas consultados pela Reuters.

As vendas no varejo dos Estados Unidos aumentaram menos do que o esperado no mesmo mês, em 0,2%. Economistas consultados pela Reuters previam que as vendas subiriam 0,4%. As vendas no varejo são um indicativo do consumo das famílias americanas, e a alta do índice sugere um maior fôlego na economia.

Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, os dados apontaram para uma fraqueza da economia americana. “Tiveram um resultado mais fraco que o esperado e sugerem que a economia americana não está tão resiliente assim, que ela passa por um enfraquecimento um pouco maior que o esperado […] Há uma expectativa de que as projeções por corte de juros na decisão de dezembro devem continuar majoritárias”.

Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, investidores veem uma chance de 82,9% de que o banco central americano reduza a taxa de juros para 3,50% a 3,75%, em dezembro —hoje é de 3,75% a 4,00%.

Analistas, porém, apontam que os diretores do Fed terão dificuldades para tomar uma decisão na reunião de 9 e 10 de dezembro. Por mais que a paralisação do governo federal dos EUA tenha se encerrado no começo do mês, dados importantes não foram coletados.

Na quinta, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que a economia norte-americana gerou 119 mil postos de trabalho em setembro, ante projeção de 50 mil segundo economistas consultados pela Reuters.

O relatório conhecido como “payroll” é uma das métricas preferidas do Fed (Federal Reserve, banco central americano) para sua política monetária. O dado, contudo, está defasado e só será atualizado em 16 de dezembro, quando o órgão divulgará as informações sobre empregos nos EUA referentes a outubro e novembro.

Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais —e o oposto também é verdadeiro. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.

Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

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