Bolsa mantém patamar de 125 mil pontos, de olho na guerra fiscal

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

São Paulo, 4 de fevereiro de 2025 – A Bolsa mantém o movimento negativo, de olho em uma possívelreunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, ainda hoje,para discutir uma pausa nas tarifas anunciadas anteriormente sobre a China. Os investidores seguemmonitorando desdobramentos da adoção de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, especialmente emrelação à China, e possíveis reflexos ao Brasil.

Ontem, o presidente Donald Trump concordou em adiar por um mês as tarifas de 25% sobre Canadá eMéxico após ambos concordarem em reforçar medidas contra imigração e tráfico de fentanil.

Hoje, a China anunciou novas medidas de retaliação às tarifas impostas pelos Estados Unidos edeterminou a aplicação de uma tarifa de 15% sobre US$ 5 bilhões em importações do setor deenergia americano, além de um tributo de 10% sobre petróleo e equipamentos agrícolas. Alémdisso, algumas empresas dos EUA foram incluídas em uma lista de restrições comerciais no país,entre elas a holding responsável pelas marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger.

Na agenda de indicadores internacionais de hoje, os investidores acompanharam a divulgação dorelatório de emprego e vagas (Jolts, na sigla em inglês) divulgado pelo Departamento do Trabalho,e encomendas às indústrias, relativos a dezembro de 2024.

Os Estados Unidos registraram 7,6 milhões de postos de trabalho abertos no último dia útil dedezembro, uma queda em relação aos 8,156 milhões registrados um mês antes (dado revisado),segundo o relatório de emprego e vagas, que não inclui o setor rural. Houve 5,462 milhões decontratações em dezembro, ante as 5,373 milhões feitas em novembro (dado revisado). Houve 5,269milhões de demissões em dezembro, após as 5,231 milhões um mês antes (dado revisado). Orelatório Jolts foi citado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte americano) como uma dasmedidas favoritas sobre a saúde do mercado de trabalho dos Estados Unidos.

As encomendas à indústria nos Estados Unidos caíram 0,9% em dezembro na comparação com o mêsanterior, totalizando US$ 578,5 bilhões, segundo o Departamento do Comércio. O índice veio abaixoda previsão do mercado de queda de 0,7%. Em novembro, as encomendas caíram 0,8% (dado revisado).Excluindo equipamentos de transporte, os novos pedidos às indústrias subiram 0,3% em outubro nacomparação mensal, e excluindo equipamentos de defesa houve queda de 0,9%.

No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista a jornalistas, comentou sobre a atada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada mais cedo, edisse que o BC terá tempo para analisar o prazo necessário de juros restritivos para baixar ainflação, ressaltando que o novo sistema de meta contínua permite uma melhor acomodação e maiorracionalidade na condução da política monetária. Haddad também comemorou o recuo da moedaamericana e espera que isso pode contribuir para a queda da inflação dos alimentos.

Na agenda de hoje, às 15h30 será publicado o Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2025 e orelatório mensal da dívida de dezembro.

No início desta quarta-feira, o mercado também analisou a ata da reunião do Comitê de PolíticaMonetária (Copom) do Banco Central, divulgada antes da abertura, que detalhou as justificativaspara a elevação da Selic, de 12,25% para 13,25%, na semana passada. O comitê também sinalizoumais um aumento igual em março, mas deixou em aberto os próximos passos. Na ata, o BC elencou adesancoragem das expectativas de inflação, o grau de sobreaquecimento da economia e o impacto depolíticas econômicas sobre o câmbio como riscos relevantes para o debate de política monetária.

Às 14h47 (horário de Brasília), o principal índice da B3 caía 0,52%, aos 125.311,18 pontos. OIbovespa futuro com vencimento em fevereiro recuava 0,65%, aos 125.575 pontos. O giro era de R$ 8,6bilhões. Em Nova York, os índices operavam em alta.

Willian Kaya, CIO da gestora Kaya Asset Management, avalia que o movimento dos mercados até omomento reflete as tarifas anunciadas por Trump e pela China e possíveis novas tarifas e a ata doCopom. “Do lado externo, as taxações já anunciadas e possíveis taxações, que diminuem amovimentação comercial e impactam o Brasil devido ao forte relacionamento comercial a China. Issoreduz as nossas exportações e a disputa entre os dois principais países acaba reduzindo omercado, devido ao aumento do protecionismo. Aqui, a ata do Copom trouxe uma perspectiva de que ainflação vai continuar alta, assim como os juros. Os juros elevados pressionam as empresas eaumentam o endividamento, além de diminuir o consumo interno. Com isso, o valuation das empresascai e afeta a qualidade do endividamento das empresas”, comenta o analista.

Mais cedo, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, também atribuiu boa parte domovimento negativo de hoje à cautela dos investidores em relação a possíveis impactos da guerratarifária internacional ao mercado brasileiro. Isso se reflete, principalmente, nos dois papéis demaior peso na Bolsa, Vale e Petrobras. Por um lado, devido às incertezas relacionadas à China, oprincipal mercado de exportação do minério de ferro (e outras commodities brasileiras). Emrelação ao petróleo, as incertezas afetam a expectativa de demanda e fazem os preços do Brent edo WTI caírem – na manhã de hoje, as cotações caíam mais de 2% e 3%, respectivamente.

“O movimento reflete o temos dos investidores em relação às consequências da guerra tarifária equanto desse cenário pode acabar respingando no Brasil, que é um mercado emergente e muitodependente da China. Tudo isso afeta a economia como um todo e acaba refletindo em várias açõesda Bolsa brasileira”, resume o analista.

Em relação à ata do Copom, Lima avalia que não houve muitas surpresas em relação ao que jáhavia sido indicado no comunicado, mas suscitou preocupações em relação ao fato de o Copom estaratento à inflação dos alimentos e à possibilidade da inflação seguir alta mesmo com umapolítica monetária tão restritiva.

“A ata também aponta preocupações com o cenário internacional, então, eu reafirmo que boa partedo que estamos vendo nos mercados hoje é um reflexo do que está acontecendo lá fora”, ressalta oanalista da Ouro Preto.

Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)

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