Boulos dosa embate com Marçal e vê Tabata usar influenciador como trampolim

Uma image de notas de 20 reais
Do total de candidaturas registradas nas capitais, apenas 40 serão lideradas por mulheres, o que equivale a 20,8% dos candidatos às prefeituras
Crédito: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) traçaram estratégias diferentes no enfrentamento a Pablo Marçal (PRTB), com o primeiro dosando ataques e revides e a segunda puxando uma ofensiva contra o influenciador bem recebida por alas do chamado campo progressista.

Separados por 15 pontos percentuais na mais recente pesquisa Datafolha, Boulos —com 23% das intenções de voto— e Tabata —com 8%— têm como alvos comuns o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que marcou 19%, e o influenciador e autodenominado ex-coach, com 21%.

Com o crescimento de Marçal, agora empatado tecnicamente em primeiro lugar com Boulos e Nunes, as rotas foram recalculadas.

Tabata fez dois vídeos que viralizaram nas redes, o mais recente na madrugada desta segunda-feira (26), sobre processos judiciais e polêmicas que pesam sobre Marçal, com as suspeitas de ligações de aliados com o PCC e a condenação dele por furto por atuar em uma quadrilha de fraude bancária.

Aliado de Lula (PT), Boulos usou debates para fustigar Marçal e recorreu à Justiça contra as insinuações, sem provas, de que ele seria usuário de cocaína, mas optou por dosar os conteúdos contrários ao adversário. A linha é a de rebater o candidato do PRTB, sem ignorá-lo, mas evitando dar palanque a ele.

Na semana passada, o deputado do PSOL desistiu de ir a debate promovido pela revista Veja e disse que não iria cair em jogo “de quem quer fazer da eleição um vale-tudo”.

Nos bastidores, a campanha de Tabata avalia como positiva para ela a decisão de usar o influenciador como um trampolim para o maior objetivo da parlamentar: aumentar a taxa de conhecimento, hoje em 61%. A leitura é que a intenção de voto crescerá à medida que mais eleitores souberem quem ela é.

Assessores afirmam, contudo, que a principal intenção da candidata, apoiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), é chamar a atenção para o passado problemático do influenciador e expor a fragilidade da candidatura, sem um plano de governo tão aprofundado quanto o dela.

Boulos adaptou o discurso com a ascensão de Marçal, incluindo-o no apelo de derrotar o bolsonarismo, o que antes se resumia a Nunes, o nome oficialmente apoiado por Jair Bolsonaro (PL). A aposta é na rejeição ao ex-presidente, já que 63% do eleitorado se negam a escolher um candidato indicado por ele, segundo o Datafolha.

A tônica trabalhada nos últimos dias é a de que Nunes e Marçal são “duas faces da moeda bolsonarista”.

Apesar da decisão de priorizar propostas e o diálogo com eleitores de fora da esquerda que podem ser decisivos em eventual segundo turno, Boulos disparou em suas redes nesta segunda um vídeo que mira igualmente Marçal e Nunes e os associa a Bolsonaro. Diferentemente de Tabata, o deputado não aparece nas imagens.

Em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura nesta segunda-feira (27), Boulos repetiu o raciocínio de que Nunes e Marçal são igualmente bolsonaristas, mas usou termos mais fortes para se referir ao candidato do PRTB, a quem chamou de “coisa abjeta”, criminoso, marginal e bandido.

Com o desafio de suavizar o rótulo de radical de Boulos e distanciá-lo de um tom agressivo, auxiliares do candidato entendem que levá-lo para o ringue seria arriscar um trabalho de reputação construído por meses. O próprio já disse que não vai “rolar na lama” e fazer o jogo de Marçal.

Lula, que em comício no fim de semana rechaçou candidatos que se dizem de fora da política, já tinha aconselhado Boulos a “não dar importância” para o autodenominado ex-coach, mas o deputado reagiu a uma afronta num debate e tentou tirar da mão do rival uma carteira de trabalho que ele agitava para provocá-lo.

Pessoas do entorno do parlamentar dizem que faz mais sentido para Tabata antagonizar Marçal, já que ela parte de um patamar inferior, do que para Boulos, que permanece na liderança —mas reconhecem que ele indiretamente é beneficiado pelas investidas da deputada contra o influenciador.

O deputado trabalha com a ideia de que dedicar energia a Marçal só vai tirá-lo do foco de sua campanha, que é conquistar eleitores citando suas promessas, a presença da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice e a aliança com Lula. Diz, por exemplo, que não vai se guiar por “lacração de internet”.

Ele fez uma transmissão ao vivo nesta segunda para responder a seguidores que o cobraram por estar “pegando leve” e dizer que eleição é algo sério, “não é concurso de quem grita mais alto”.

Na campanha de Tabata, o diagnóstico é o de que os vídeos da deputada com tom investigativo contribuíram para ampliar o engajamento dos perfis dela e torná-la mais conhecida.

Os conteúdos angariaram 5 milhões de reproduções até a tarde desta segunda. Vídeos da candidata também críticos a adversários vinham alcançando, em média, entre 100 mil e 500 mil visualizações. Durante esta segunda, ela apareceu entre os assuntos mais comentados do X (ex-Twitter).

Há uma discussão agora sobre a necessidade de equilibrar os conteúdos provocativos e propositivos. Um dos pontos levantados é que os vídeos com ares de denúncia, se repetidos, podem cansar o público e perder o impacto.

Pessoas próximas da deputada avaliam que Boulos tem preferido responder pontualmente a Marçal e descartado um conflito aberto similar ao de Tabata pelo cálculo de que enfrentar Marçal no segundo turno seria mais favorável do que Nunes. A campanha do PSOL nega que queira escolher oponente.

Ainda na visão de assessores da deputada, o que está em jogo é frear um candidato nocivo ao sistema democrático.

“Queira a gente ou não, o Pablo Marçal é o grande personagem da eleição municipal no Brasil, é o cara que está sendo comentado em todos os lugares. Então, quando a Tabata diz que não vai aceitá-lo como prefeito, isso dá a ela também relevância e força”, diz o marqueteiro dela, Pedro Simões.

“Deixar que ele [Marçal] fale sozinho não é inteligente”, segue o estrategista. “Temos um cara que é perigoso, com financiamento ilegal de campanha, envolvido com um monte de gente esquisita. Quando a gente se furta a falar é antiético.”

A avaliação de Simões é que os conteúdos gerados por Tabata desconstroem a imagem de que candidata frágil, por ser mulher e jovem. “Quando ela ataca o Marçal e mostra quem está envolvido com ele, ajuda a derrubar essa tese. É mais difícil aparecer quem diga que ela é fraca.”

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Colaborou Marcos Hermanson, de São Paulo

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