Checkout.com chega ao Brasil e quer se tornar referência em meio de pagamento cross-border na América Latina
Juarez Borges Filho, que encabeça a operação na América Latina do Checkout.com, é ex-PayPal Brasil
(Divulgação / Checkout)
Com entrada no mercado brasileiro prevista para o segundo semestre, empresa projeta crescimento de 30% nas receitas globais
Com clientes como Alibaba, Netflix e Sony, companhia chega ao Brasil para concorrer com Adyen, Ebanx, Mercado Pago e PayPal
Por Anna Scudeller
[AGÊNCIA DC NEWS]. Depois de atravessar Europa, Ásia, Oceania e América do Norte, a plataforma de pagamentos britânica Checkout.com, que cresceu 40% em 2024, anunciou início de suas operações no Brasil para o segundo semestre de 2025. Com o braço brasileiro estruturado, o plano da empresa será se tornar referência em pagamentos cross-border em toda a América Latina. “Não haveria outro lugar por onde começar [na América Latina] senão pelo Brasil”, disse Juarez Borges Filho, que comanda desde novembro as operações da companhia na região e é ex-executivo de PayPal, Goldman Sachs e HSBC, em entrevista exclusiva à AGÊNCIA DC NEWS. Segundo ele, mais do que o tamanho continental, outros fatores tornam o Brasil um mercado atraente. “Não é só pelo fato de representar uma região extremamente relevante em termos de volume [de vendas no e-commerce], mas também porque é um país com uma taxa de inclusão financeira bastante elevada.”
Com o início das operações no Brasil, a empresa projeta crescimento de 30% nas receitas globais em 2025. O próximo passo, segundo ele, seria o México, mas isso só ocorrerá “quando o Brasil já estiver bem estabelecido”. O tempo de maturação do mercado nacional, afirma o executivo, não deve ser longo. Isso porque a empresa já atende clientes multinacionais conhecidos dos brasileiros, como Alibaba, Netflix e Sony. No Brasil, já atuam neste segmento de pagamento internacional companhias como Adyen, Ebanx, Mercado Pago e Braintree, do PayPal – onde Borges Filho foi diretor e membro do conselho por mais de três anos.
Para competir num mercado de concorrência consolidada, ele afirma que o diferencial da Checkout.com está na simplificação dos processos para aprovação e manutenção dos meios de pagamento. “Quanto mais o cliente compra na sua plataforma, menos passos ele precisará tomar para concluir uma compra”, afirmou. “Isso se traduz em muito mais receita.” Segundo ele, no mundo, os clientes da Checkout.com geraram mais de US$ 9 bilhões em receita agregada apenas com a redução das etapas de pagamento. Para os contratantes dos serviços da plataforma, outra vantagem, diz o executivo, é o dashboard, ferramenta que permite controle total do fluxo de pagamentos.
Regulamentada como meio de pagamento no Reino Unido em 2012, a Checkout.com foi fundada pelo suíço Guillaume Pousaz e demorou para chegar ao Brasil. O motivo, segundo Borges Filho, foi a estratégia da empresa em focar primeiro nos mercados que já apresentavam demanda para os seus grandes clientes. Assim, a internacionalização acompanhava as necessidades dos parceiros, especialmente onde não havia soluções de pagamento cross-border disponíveis. Quando surgiu a demanda na América Latina, a operação foi iniciada no Brasil, em um processo que começou em novembro do ano passado, com a contratação de Borges Filho.
MUROS – Ao assumir o desafio, Juarez Borges Filho foi convocado para liderar a implementação da empresa no Brasil e expandi-la pela região, um processo semelhante ao que realizou no PayPal, ao mudar o foco da companhia de B2C para B2B, fortalecendo a infraestrutura da plataforma de pagamentos. “À época, a maior parte da receita do PayPal vinha da plataforma de pagamento, mas as pessoas só lembravam do PayPal como carteira digital”, disse. “A ideia foi despriorizar a carteira e investir no checkout transparente.” Com essa mudança de estratégia, a plataforma passou a ganhar relevância no checkout transparente (quando o consumidor finaliza a compra sem ser redirecionado a outra página fora do site).
Mas entrar com um produto novo no Brasil carrega desafios, principalmente devido ao volume de inovações financeiras e serviços bancários únicos, como o Pix. Para facilitar o processo, o executivo conta que a plataforma Checkout.com já chega com parcerias globais firmadas com Mastercard e Visa e realiza testes com o Banco Central para aderir ao Pix. “Neste momento, estamos desenvolvendo a infraestrutura de conexão com o BC”, disse.
Sobre a viabilidade de pagamentos via criptomoedas, ele afirma que não está nos planos. “Não temos pretensão de entrar nessa seara tão cedo”, afirmou. Em 2023, segundo a Forbes, a Checkout.com encerrou parceria com a Binance, após polêmicas envolvendo potencial lavagem de dinheiro e falta de transparência. Se as criptos não são prioridade, outra modalidade recebe atenção: as apostas. Ainda que não haja planos iniciais para atuar no mercado de apostas esportivas no Brasil, Borges Filho afirmou que já há clientes que operam no segmento, e que a empresa poderá trabalhar com cassinos online desde que sigam as regulamentações do Ministério da Fazenda. “Não é algo para o primeiro dia, mas, apesar de ser um mercado de alto risco, hoje é regulamentado.”
PONTES – Para iniciar de forma consistente, além das parcerias com Mastercard e Visa, a empresa pretende chegar com um cliente de peso: o eBay. Em abril, as duas empresas firmaram parceria global, e isso pode chegar ao Brasil. “Naturalmente o eBay será um dos clientes que pretendemos atender aqui”, disse Borges Filho. Ele acredita que a Checkout.com tem muito a agregar, tanto por conhecimento de mercado, quanto logística, para apoiar o eBay no país. O eBay, empresa norte-americana fundada em 1995, já atua no Brasil desde 2014, mas ainda não deslanchou. Além do eBay, a Checkout.com tem buscado parcerias com outras gigantes globais que ainda não operam localmente devido aos desafios de adaptação dos meios de pagamento. “Não atendemos apenas um segmento. O que importa é o tamanho das empresas que atendemos.”
Em carta aberta aos colaboradores e ao mercado financeiro, Guillaume Pousaz, fundador da plataforma de pagamentos, disse que a meta este ano é avançar em 30% a receita líquida, após crescimento de 40% em 2024. Ele também informou que a empresa já soma mais de 2,5 bilhões de cartões de crédito registrados em seu banco de dados, além de oferecer 30 novos meios de pagamento customizados para os países em que atua. Hoje, a Checkout.com opera em 55 países e oferece suporte para mais de 145 moedas. No desempenho por cliente, foram firmados 300 novos contratos em 2024.
Entusiasta de um mundo com menos barreiras e mais operações globais, Pousaz tem olhado com atenção para o protecionismo comercial dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump. Em 2024, a empresa cresceu 80% na receita líquida no mercado norte-americano, graças ao comércio internacional. “Firmamos parceria com dois bancos que, juntos, atendem cerca de 15% do volume total do mercado americano”, afirmou Pousaz. Apesar do olhar atento global da companhia, Borges Filho disse que, até agora, não houve impacto relevante no processamento diário de pagamentos. Pelo contrário, ele afirma que a instabilidade pode trazer novos negócios, já que os “clientes preferem parceiros mais seguros em momentos de incerteza”.
Pousaz, fundador da Checkout, prevê avanço de 30% nas receitas globais em 2025 (Divulgação / Checkout)