Claudio Felisoni, do Ibevar: “Aumento de preço do cacau fez chocolate artesanal perder espaço”
Ibevar estima alta de 5,8% na receita no mercado de chocolates, mas queda de 2,8% no volume de vendas
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"Condições climáticas afetaram o mercado de chocolate, mas também o de outros segmentos relevantes na Páscoa, como azeite e bacalhau"
Segundo o Ibevar, a demanda por ovos artesanais e de produtores independentes passa de um share de 21,4% (2024) para 18,3% (2025)
Por Victor Marques
[AGÊNCIA DC NEWS]. Todos os anos, na época da Páscoa, o brasileiro se depara com a escolha entre ovos de chocolate de mercado e os artesanais (não industrializados). Diversos fatores pesam na escolha, entre preço, conteúdo, sabor, qualidade e marca. Neste ano, porém, o fator preço deve falar mais alto contra a categoria dos artesanais. Isso porque, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), a alta no preço do cacau, que se fortaleceu a partir de 2023, pressionou significativamente o custo da produção. Segundo o Trading Economics, a tonelada variou 53% entre 2015 e 2023, o último ano antes do estouro dos preços. Agora, está em US$ 8,3 mil – elevação de pelo menos 164% em dois anos.
O reflexo deste incremento foi sentido mais entre os produtores independentes ou artesanais de chocolate. Segundo o Ibevar, a demanda por ovos desse tipo passou de um share de 21,4% (2024) para 18,3% (2025). “A incapacidade de absorver o aumento do cacau fez os chocolates artesanais perderem fôlego”, afirmou Claudio Felisoni, presidente do Ibevar, em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS. A indústria vem desenvolvendo muitas alternativas e ampliando bastante o leque de produtos que oferece, procurando gerar patamares de preços distintos.” Confira a entrevista.
AGÊNCIA DC NEWS – Como podemos entender o comportamento do consumidor diante da projeção para este ano de redução do volume de vendas (-2,8%), mas alta na receita nominal dos produtos (+5,8%)? CLAUDIO FELISONI – Houve impacto significativo no preço do produto final. Por volta de 11%. Isso significa dizer que o repasse não foi feito totalmente para o consumidor final. Mesmo assim, é um crescimento muito significativo no preço do produto final. Boa parte disso foi incorporada na redução de margem das empresas.
AGÊNCIA DC NEWS – Há uma variação de 53% no preço do cacau entre 2015 e fim de 2023. Desde então, porém, se torna uma volatilidade extrema. Por quê? CLAUDIO FELISONI – São questões climáticas. Afetaram o preço da matéria-prima e, no caso da África, houve também redução de investimentos, contribuindo para uma oferta menor. Essas condições climáticas desfavoráveis afetaram substancialmente o mercado de chocolate, mas também atingem outros segmentos muito relevantes na Páscoa, particularmente o azeite e o bacalhau.
AGÊNCIA DC NEWS –A volatilidade cambial do cenário internacional afeta essa conta? CLAUDIO FELISONI – Com certeza. Essa volatilidade maior em função das questões internacionais, das tarifas e dos conflitos internacionais tornam, evidentemente, os preços desses produtos mais salgados por causa do dólar.
AGÊNCIA DC NEWS – Na pesquisa do Ibevar vimos que há queda da intenção de compra dos chocolates artesanais. Reflexo desse aumento da matéria-prima? CLAUDIO FELISONI – É exatamente isso. Estamos monitorando os artesanais, que já vêm perdendo fôlego ao longo dos anos. E isso se deve exatamente a essa escala reduzida. Os produtores artesanais são incapazes de absorver os aumentos de preço da matéria-prima sem repassar para o produto final.
AGÊNCIA DC NEWS – Esse é o único motivo para o afastamento do consumidor? CLAUDIO FELISONI – Você tem também o ambiente econômico com um consumidor já bastante debilitado. Nós estamos vendo crescimento do endividamento das famílias e aumento da taxa de inadimplência. Tudo isso contribui. E [no caso da Páscoa] o consumidor procura presentear com foco nas ofertas que são industrializadas.
AGÊNCIA DC NEWS – As grandes empresas saem ganhando frente ao pequeno produtor? CLAUDIO FELISONI – A indústria vem desenvolvendo muitas alternativas e ampliando bastante o elenco de produtos que oferece. Isso vale principalmente para os ingredientes. São feitas várias combinações diferentes, procurando gerar patamares de preços distintos.
AGÊNCIA DC NEWS – Além de ter menor poder de negociação como a grande indústria, altas na Selic também devem afetar o pequeno produtor e piorar o cenário? CLAUDIO FELISONI – De um lado, a inflação corrói o poder aquisitivo das famílias. Do outro lado, a alta na taxa básica de juros impacta o próprio produtor que, sendo menor, tem menos condições de fazer frente ao ônus das altas taxas.
AGÊNCIA DC NEWS – Haverá retração no consumo este ano além do mercado de chocolates? CLAUDIO FELISONI – Nós temos feito estudos de projeção de vendas para monitorar o comportamento de consumo das famílias em momentos pontuais, como a Páscoa, e os resultados batem com as nossas projeções mensais e trimestrais para as vendas de varejo na totalidade. E as projeções estão indicando exatamente recuo das vendas. Pesquisa nossa mostra que teremos encolhimento de 3% se compararmos o segundo trimestre de 2025 com o de 2024.