Com 19,3 milhões de ocupados, comércio chega a nível recorde e impulsiona emprego no setor privado, segundo o IBGE. Taxa de desocupação é a menor da série

Uma image de notas de 20 reais
Comércio abriu 368 mil vagas no trimestre
Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil
  • Ocupação no setor cresceu 1,9% no trimestre encerrado em julho, o que significa 368 mil pessoas empregadas a mais. "Parte expressiva" das contratações foi com carteira assinada
  • País chegou a 102 milhões de ocupados, nível também recorde da Pnad Contínua. Total de desempregados (7,4 milhões) é o menor desde 2015
Por Vitor Nuzzi

O setor do Comércio atingiu 19,3 milhões de ocupados no trimestre encerrado em julho, número recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo os dados divulgados nesta sexta-feira (30), a taxa geral de desocupação foi a 6,8%, no menor nível para esse período. O resultado mostra economia e mercado de trabalho aquecidos, mas analistas chamam a atenção para o aumento dos gastos públicos e para a tendência de alta da inflação.

De acordo com o IBGE, o segmento de Comércio foi o “grupamento de atividade que impulsionou a ocupação no setor privado”. O nível neste segmento cresceu 1,9% no trimestre (mais 368 mil pessoas) e 2,6% em 12 meses (482 mil). “Parte expressiva da expansão da ocupação no comércio ocorreu por meio do emprego com carteira de trabalho assinada, o que contribui para a melhoria da cobertura de formalidade nessa atividade”, afirmou a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy.

O país atingiu 102 milhões de ocupados, também recorde da série, iniciada em 2012. E o total de desempregados caiu para 7,4 milhões, 1,1 milhão a menos em 12 meses (-12,8%). É o menor número de pessoas à procura de trabalho desde janeiro de 2015. Os dados da pesquisa mostram que a população à procura de emprego cresce (1,5% em 12 meses), mas o mercado segue abrindo vagas (2,7%). Em números absolutos, 1,6 milhão de pessoas entraram no mercado em um ano, período em que foram abertos 2,7 milhões de postos de trabalho, fazendo o total de desocupados cair em 1,1 milhão (-12,8%).

Segundo Adriana, “o trimestre encerrado em julho mantém os resultados favoráveis do mercado de trabalho que vinham sendo observados ao longo do ano, com queda da desocupação e expansão contínua do contingente de trabalhadores”. No setor privado, a Pnad bateu recordes tanto no número de empregados com carteira assinada (38,5 milhões) como sem carteira (13,9 milhões). Já os trabalhadores por conta própria são 25,4 milhões – 18,9 milhões sem e 6,5 milhões com CNPJ. Com alta de 4,5% em 12 meses (mais 2,2 milhões), o total de empregados no setor privado (52,5 milhões) também atingiu novo recorde.

GASTOS – Os resultados do IBGE mostram mercado de trabalho aquecido, mas VanDyck Silveira, CEO da Humaitá Digital, destaca o crescente gasto público do governo e a baixa taxa de investimento como fatores que comprometem a economia. “Nunca na história do Brasil tanta gente recebeu um cheque do governo. São 111 milhões, metade da população, 59 milhões só no Bolsa Família. Só essa transferência de renda já anima o mercado”, disse, ao mesmo tempo em que apontou um déficit nominal equivalente a 10% do PIB. O Brasil, segundo ele, “consome no presente o nosso futuro”.  

Assim, o país volta a crescer por meio do consumo, em “voos de galinha”, com prazo de validade, trocando a sustentabilidade de médio/longo prazo pela política de fôlego curto. “O consumo, dentro da matriz econômica do Brasil, está acima do investimento”, afirmou. Segundo o próprio IBGE, a taxa de investimento em 2023 foi equivalente a 16,5% do PIB, ante 17,8% no ano anterior. Um país como o Brasil precisaria de pelo menos 25%, observa o economista.

Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), se por um lado a economia mostra dinamismo, por outro já existe preocupação quanto aos preços. “É um resultado a ser comemorado. Por um lado, decorre do aquecimento da atividade econômica, mas se a gente olhar do outro lado vai ver que a inflação está aumentando, por um componente não só de demanda, mas de custos”, afirmou. “A gente vai tendo uma inflação resiliente, o que deve impactar, no mínimo, na manutenção da taxa de juros básicos.” O IPCA acumulado em 12 meses está em 4,50%, o teto da meta. Silveira estima que fechará o ano em 5%.

Na Pnad, Gamboa destaca também a queda do número de desalentados – aquelas pessoas que desistem de procurar trabalho. Além da taxa de subutilização, que também se retraiu. Esse indicador se refere a pessoas que gostariam de trabalhar mais horas.

PÚBLICO – No setor público, o total de servidores também é recorde, tanto os com carteira (1,6 milhão) como os sem (3,3 milhões). Em relação a igual período do ano passado, esses grupos cresceram 13,6% (mais 190 mil) e 4,7% (mais 149 mil), respectivamente. “A ocupação no setor público vem apresentando crescimento ao longo de 2024, principalmente entre os trabalhadores que atuam no segmento do ensino fundamental e na administração pública municipal”, disse Adriana.

A taxa de informalidade segue elevada (38,7% dos ocupados), mas caiu em relação a julho do ano passado (39,2%). O percentual corresponde a 39,4 milhões de trabalhadores informais.

Além disso, o número de desalentados (que desistiram de procurar emprego), estimado em 3,2 milhões, é o menor em oito anos, desde junho de 2016. A queda foi de 7% no trimestre (menos 242 mil) e de 12,2% em um ano (menos 447 mil), Eles representam 2,9% da força de trabalho.

Estimado em R$ 3.206, o rendimento médio dos ocupados ficou estável no trimestre e cresceu 4,8% na comparação anual. A massa de rendimentos soma R$ 322,4 bilhões, com alta trimestral de 1,9% e anual de 7,9%. Isso significa R$ 23,5 bilhões a mais na economia no período de um ano.

Na próxima terça-feira (3), o IBGE divulga os resultados do PIB referentes ao segundo trimestre. Já os números da inflação (IPCA e INPC) saem no dia 10.

Escolhas do Editor