Em um país com apenas 1% de empresas exportadoras, o uso de marketplaces tem se mostrado uma alternativa para aumentar as vendas ao exterior. E o mercado detecta um movimento crescente de busca dessa ferramenta como forma de expandir negócios de maneira mais segura. “A gente observa um movimento bastante intenso de marcas nacionais, de varejistas nacionais, de procurar esse novo modelo de comercialização internacional”, afirmou o diretor de Cross Border da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Rafael Sant´Anna.
O e-commerce já crescia, mas a atividade deu saltos durante a pandemia. Segundo o diretor da ABComm, em dois anos cresceu o equivalente ao previsto para dez. Somente de 2019 para 2021, o faturamento aumentou 67,5%, de R$ 90 bilhões para R$ 150,8 bilhões. No ano passado, atingiu R$ 185,7 bilhões, alta de 9,5% sobre 2022, com tíquete médio de R$ 470 e 395 milhões de pedidos. A entidade projeta faturamento de R$ 204,3 bilhões para o ano que vem, crescimento de 10%. A atividade tem espaço para expansão: representa 9,2% do varejo tradicional.
“O consumidor entendeu como atuar no canal digital. Eu diria que a gente está no início dessa rampa, como maturidade”, disse Sant´Anna. A pandemia, segundo ele, “forçou o sistema a evoluir em suas ofertas de tecnologia e serviços”. No caso da exportação, o diretor da Abcomm acredita que faltam conhecimento e incentivo, além da ainda presente barreira do idioma. “Está acontecendo de forma gradativa, na prática. Por enquanto, a demanda está sendo empurrada. Falta puxar a demanda. O marketplace me dá conhecimento de mercado, visibilidade e tráfego.”
Entre as empresas, a Amazon, por exemplo, criou em 2021 no Brasil um programa de vendas internacionais. De um total de 78 mil vendedores parceiros – sendo 99% MPME –, 4% (ou 3.120) exportam seus produtos por esse mecanismo. “Acreditamos que a internacionalização é fundamental para o crescimento das MPME e para o fortalecimento da economia”, afirmou o presidente da Amazon no Brasil, Daniel Mazini.
PARCERIA – Em julho, a empresa firmou acordo com a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex-MDIC) para “fortalecer a cultura exportadora entre os empreendedores brasileiros”. Essa parceria prevê treinamentos online, suporte aos vendedores e mesa-redonda com mulheres exportadoras. O MDIC informou que não dispõe de dados específicos de vendas ao mercado externo via marketplaces.
De acordo com a Amazon, o marketplace é “pilar essencial” para o sucesso das operações. Os parceiros respondem por mais de 60% das vendas globais. E já reúnem 18,4 milhões de produtos listados no site da companhia.
No caso do Mercado Livre, em relatório referente ao segundo trimestre deste ano, o grupo reportou receita líquida de US$ 5,1 bilhões, crescimento de 41,5% em relação a igual período do ano passado. Mais da metade (54,9%) desse resultado (US$ 2,8 bilhões) veio do Brasil, onde a receita cresceu 51,2% na mesma base de comparação. Da receita brasileira, US$ 1,7 bilhão vem do comércio e US$ 1,1 bilhão, da fintech.
Sant´Anna, da ABComm, acredita que nos próximos anos vários países farão “ajustes” em seus marcos regulatórios sobre o setor. “O modelo de negócio já foi testado. O consumidor quer”, afirmou o diretor.
Os marketplaces podem ser uma boa ferramenta, mas Eder Max, consultor de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), recomenda cautela. “Há uma grande empolgação inicial, sem conhecimento das ferramentas. Quando a gente fala em marketplaces, duas coisas são importantes: o nicho que você vai escolher e a taxa de operação”, afirmou. Segundo ele, os custos podem determinar a margem de lucro. O consultor fez algumas recomendações (confira abaixo).
Dez dicas para quem quer usar marketplaces