Comércio impulsiona emprego no trimestre, diz IBGE. No ano, setor chega ao recorde de 19,5 milhões de ocupados

Uma image de notas de 20 reais
País atinge recorde de 102,5 milhões de ocupados
Crédito: Agência Brasil
  • País tem recorde de ocupados e do emprego com e sem carteira assinada. Caged também mostra expansão do emprego formal
  • Mercado de trabalho aquecido é boa notícia, mas preocupa economistas pelos possíveis reflexos sobre a inflação
Por Vitor Nuzzi

Dois indicadores sobre o mercado de trabalho, divulgados nesta sexta-feira (27), confirmam o bom momento na criação de empregos e têm o comércio como destaque. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, no trimestre encerrado em agosto o setor foi o que impulsionou a ocupação, com mais 368 mil trabalhadores. Com isso, o Comércio chega a 19,5 milhões de ocupados, maior número na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012. O nível de emprego cresceu 1,9% no trimestre e 2,6% na comparação anual. No Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, o setor abriu 47,8 mil vagas com carteira assinada em agosto. No acumulado do ano, 169,9 mil. Resultados positivos, mas que também causam preocupação entre analistas pelos possíveis reflexos sobre a inflação.

A pesquisa do IBGE mostra que a taxa de desocupação (desemprego) de toda a economia recuou para 6,6%, a menor para um trimestre encerrado em agosto. Há um ano, estava em 7,8%. Em 12 meses, o número de desocupados caiu 13,4%, para 7,3 milhões (-1,1 milhão), na menor quantidade desde janeiro de 2015. Foram batidos recordes de pessoas ocupadas (102,5 milhões, +2,9% anual) e de empregados com (38,6 milhões, +3,8%) e sem carteira (14,2 milhões, +7,9%), além do setor público (12,7 milhões, +4,3%). O total de trabalhadores por conta própria (25,4 milhões) ficou estatisticamente estável.

Já o Caged, conforme os dados divulgados hoje pelo MTE, mostra saldo de 1,7 milhão de vagas formais de janeiro a agosto. Com isso, o estoque de vagas chegou a 47,2 milhões.

Escolhas do Editor

O economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), destaca o mercado de trabalho “super aquecido”, em decorrência da economia em alta, mas faz ressalvas. “É uma boa notícia, sem dúvida, mas esse crescimento da economia é sustentado por consumo das famílias e do governo. Portanto, por gasto. Não é um crescimento que seja sustentável, porque não vem pelo lado da produção. Está gerando uma inflação mais teimosa, que leva o Banco Central a aumentar juros, como vimos na última reunão do Copom“, afirmou.

FUTURO – Para o presidente do Conselho Regional de Economia da 2ª Região (Corecon-SP), Pedro Afonso Gomes, o resultado é “bastante coerente” com o que mostra o momento econômico, com uma atividade “mais firme e mais sequenciada”, segundo ele. “A confiança dos empresários é bastante forte, dos investidores e dos consumidores também. Não se emprega quando a empresa tem incerteza sobre o futuro imediato”, disse Gomes. Ele acredita que até o ano que vem a taxa de desemprego poderá cair um pouco mais e ficar perto de 5,5%. O que ele chama de “pleno emprego estrutural”, considerando a taxa de rotatividade, presente em todas as economias.

“Os dados indicam aumento progressivo da taxa de participação, já em 62,3%, mas o principal destaque ainda é crescimento do rendimento real habitual dos trabalhadores, que mostrou alta de 0,6% no mês e 5,1% no ano”, disse José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos. “Paralelamente, a massa de rendimento habitual cresceu 8,3% na análise interanual. Do outro lado, no entanto, a preocupação com as pressões inflacionárias desse crescimento tem aumentado, já que não se nota um crescimento equivalente na produtividade.  O desemprego se distancia progressivamente do seu nível de equilíbrio, e esse distanciamento, evidentemente, cria receios sobre a inflação.”

De acordo com a Pnad Contínua, o rendimento médio dos ocupados ficou em R$ 3.228 no trimestre. A massa de rendimentos atingiu R$ 326,2 bilhões, alta trimestral de 1,7% e anual de 8,3%. Isso significa R$ 24,9 bilhões a mais na economia em 12 meses.

ESCALADA – A visão de Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, se aproxima da dos analistas da ACSP e da Rio Bravo. Se por um lado o mercado de trabalho mostra recuperação consistente, por outro a “escalada” dos salários pode, segundo ele, ter “efeitos danosos” sobre a inflação, como reflexo do consumo excessivo. “Tanto que o Banco Central anunciou um ciclo de elevação da taxa básica de juros, para que a gente tenha uma contração monetária”, afirmou. Se isso não for suficiente, o país pode enfrentar um “cenário inflacionário complexo”.

O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, disse que os dados do desemprego continuam surpreendendo e a taxa pode cair até um pouco mais no último trimestre, devido às vagas de fim de ano. Ele estima que a taxa pode ficar em torno de 6%. “Um ponto que não foi tão bom é que o salário médio de admissão (no Caged) ficou um pouco abaixo de julho, mas na comparação anual cresce 1,8%, é ganho real”, afirmou. Diferentemente da pandemia, período em que o desemprego até caía, mas “com as pessoas aceitando entrar a vaga de alguém para receber menos”, agora são abertas vagas de melhor qualidade, dando inclusive opções ao trabalhador no mercado.

A pesquisa do IBGE mostrou também que o número de desalentados (3,1 milhões) é o menor desde maio de 2016. A queda é de 12,4% em um ano. Pessoas desalentadas são aquelas que desistem de procurar uma ocupação. Elas agora representam 2,8% da força de trabalho. Já os informais são 38,8% da população ocupada: 39,8 milhões de pessoas.

.

Voltar ao topo