[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
De uma lanchonete aberta há quase 40 anos em Concórdia (SC) à 39ª posição entre as maiores redes supermercadistas do Brasil: o Grupo Passarela está no centro da transformação do varejo alimentar no Sul, em um momento de expansão acelerada das redes regionais. “As redes regionais fazem um belo trabalho onde faltam os players nacionais”, afirmou o CEO e sócio-fundador, Alexandre Simioni, à AGÊNCIA DC NEWS. Com 23 lojas em operação e planos de chegar a 36 até 2026 – uma inauguração a cada dois meses – a empresa projeta R$ 3,1 bilhões em faturamento este ano, alta de 19,2% em comparação com 2024. O crescimento acontece em uma das economias mais competitivas do país: Santa Catarina ocupa o 2º lugar no Ranking de Competitividade dos Estados, cenário que impulsiona consumo, inovação e investimento no varejo regional.
Na quinta-feira (30), o grupo inaugura sua 24ª unidade, com a bandeira Via Atacadista. A operação recebeu investimento de R$ 40 milhões. O local escolhido, inclusive, foi Concórdia, onde o grupo nasceu. O plano de expansão da empresa pelo Sul do país começou em 2018 e, após seis inaugurações este ano, tem mais 12 previstas para até o final de 2026. O plano é voltado para o Rio Grande do Sul, onde devem ser feitas nove dessas inaugurações. A escolha por permanecer regional, segundo Simioni, não foi ao acaso. “A presença de players, como Atacadão e Assaí, é muito tímida em Santa Catarina”, disse. Atualmente, o Atacadão tem 11 lojas no estado, enquanto o Assaí não tem nenhuma. O novo atacarejo terá 14 mil metros quadrados, sendo 3 mil m² de área de vendas, com 250 vagas de estacionamento, 120 postos de trabalho e cerca de 10 mil itens à venda. O fluxo de clientes projetado é de 2,5 mil por dia. “Temos um perfil de loja destinado a atender o consumidor de todas as classes sociais”.
A previsão, segundo ele, é que a nova unidade movimente R$ 8 milhões por mês, menos do que os R$ 10 milhões em vendas mensais, em média, nas outras unidades do grupo, que está presente em 17 cidades do Sul. A explicação, segundo Simioni, é que já há outra unidade da bandeira Via Atacadista na vizinhança. De acordo com o executivo, a rede de supermercados está investindo em sua expansão porque passa por um momento de “solidez”, baseado em três fatores: operação eficiente, presença dos colaboradores (são 3,8 mil no total) e atenção às oportunidades de mercado. A tendência é que o ritmo de abertura de lojas diminua em 2027. Além de ser dono do grupo empresarial, Simioni é o presidente da Associação Catarinense de Supermercados (ACATS), entidade que reúne cerca de 300 empresas do varejo catarinense e representa 85% da economia gerada pelos supermercados. Ele está em seu segundo mandato à frente da entidade.
TEMPERO REGIONAL – Sobre as características do varejo de alimentos na região, o executivo destaca dois aspectos. Primeiro, a questão logística: “É um estado pequeno, mas longo. Nós temos 700 quilômetros entre o Oeste de Santa Catarina e a capital [Florianópolis]”. Portanto, a distribuição dos produtos (armazenados em quatro centros de distribuição da companhia em diferentes municípios) é dificultada pelas longas distâncias e rodovias com falhas estruturais que não raro ficam congestionadas, segundo ele. Em contrapartida, a logística na faixa litorânea é facilitada pela presença de cinco portos que viabilizam o desembarque de produtos importados ou de outros estados. “A malha viária precisa melhorar”, afirma.
Outra questão é o nível de exigência do consumidor catarinense, que, segundo ele, é alto. Isso se reflete no próprio modelo de fiscalização sanitária aplicado em Santa Catarina. “Se você pegar as exigências para ter um açougue aqui e comparar com outros estados, é uma diferença absurda”, disse ele. “É um povo exigente. Acho que tem tudo a ver com a questão da cultura e colonização europeias.”
Para atender as expectativas e fortalecer a oferta de alimentos específicos, como a carne do açougue, confeitaria e padaria, a empresa tem investido no aprimoramento dessas ofertas, em especial nos itens produzidos dentro da operação. O executivo disse que a centralização das atividades que normalmente são fornecidas por terceiros é uma tendência já observada no varejo da China e Europa, e adaptar esse modelo ao Brasil é uma questão de tempo. Internalizar essas atividades dentro de cada supermercado é uma forma de lidar com exigências pela qualidade e reduzir custos. “Assim consigo oferecer para o consumidor um produto com a qualidade, ficha técnica e perfil exatamente como quero”, disse o executivo.
Alexandre Simioni
PREÇOS – O cenário macroeconômico de inflação dos alimentos e juros altos, com a Selic em 15%, é um desafio para os empreendedores catarinenses, segundo ele. Já resultou, neste ano, em dois pedidos de recuperação judicial: o do grupo Althoff, em 8 de agosto, que tinha sede em Criciúma, e da rede Líder, do mesmo município, em 25 de setembro. “O modelo tradicional está ficando cada vez mais obsoleto”, afirma Simioni. “A inflação em algumas categorias e, em outras, deflação são ruins para nós”, disse. “Quando o produto está muito barato, não conseguimos escalonar a venda proporcional ao preço.” Na outra ponta, quando o preço sobe demais, o volume de vendas recua.
Os últimos números da Abras, divulgados no dia 23 de outubro, mostram que os preços da Cesta Abrasmercado, que reúne os principais itens de supermercado no Brasil, recuaram 8,15% nos últimos doze meses, chegando a R$ 799,7, se aproximando dos valores registrados em dezembro de 2024. Já o consumo nos lares cresceu 2,79% na comparação anual, de acordo com a associação. “Leite, feijão, açúcar, farinha e arroz, produtos básicos que atendem à grande massa”, disse Simioni, “esses produtos tiveram deflação. Então você perde faturamento”.