Diego Perez, da Abfintechs: “Com Selic mais alta, fintechs são opção para crédito no varejo”

Uma image de notas de 20 reais
Para Perez, o crédito privado será altamente procurado pelo varejo em 2025
(Divulgação)
  • "A antecipação de recebíveis pode gerar um capital de giro muito interessante para o setor"
  • "Estamos confiantes de que o Drex (moeda digital brasileira) trará uma verdadeira revolução ao mercado financeiro"
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DC NEWS]. Entre as várias categorias de fintechs definidas pelo Banco Central (BC) – de câmbio, crédito, empréstimo, financiamento, gestão financeira, investimento, multisserviços, negociação de dívidas, pagamento e seguro – dois tipos podem atuar dentro do segmento de crédito, as Sociedades de Crédito Direto (SCD) e as Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEP). E as SEPs, desde este ano, estão autorizadas pelo BC a atuar na antecipação de recebíveis. Com isso, elas estão habilitadas a criar mecanismos de antecipação de recebíveis com uma estrutura muito similar à do crédito bancário. “Entendemos que esse tipo de fintech será muito demandado pelo varejo”, afirmou Diego Perez, presidente da presidente da Associação Brasileira de Fintechs (Abfintechs), nesta entrevista à AGÊNCIA DC NEWS.

Antecipação de recebíveis é a segunda modalidade de crédito preferida pelas PMEs (38% delas), segundo pesquisa Serasa Experian deste ano – atrás apenas dos empréstimos (42%). Isso deve se acelerar, em especial num ano em que a Selic deve continuar sua curva de alta. A taxa básica de juro encerra 2024 a 12,25%, mas a previsão do mercado, segundo o mais recente relatório Focus, divulgado segunda-feira (16), é que ela encerre 2025 a 14% – há quatro semanas, a previsão era de 12%. Má notícia para as empresas brasileiras e, é claro, para o varejo, principalmente para as PMEs, que costumam pagar mais pelo crédito. “Elas têm menos garantias e acabam recorrendo ao crédito privado”, afirmou Perez. Confira a entrevista completa com Perez suas impressões sobre o potencial das fintechs para o ambiente varejista.

AGÊNCIA DC NEWS – Como o ambiente de fintechs pode contribuir com o acesso a crédito para o varejo?
Diego Perez – As fintechs de crédito sempre estiveram próximas do varejo. Algumas delas fazem parte daqueles grupos que capturam as transações das maquininhas, e esse instrumento também é utilizado para antecipar recebíveis, que, no fim, é uma forma de crédito. O que mudou foi que, neste ano, tivemos uma nova habilitação do Banco Central para a antecipação de recebíveis.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – O que muda com essa habilitação?
Diego Perez – O Banco Central habilitou as Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEPs) para criarem mecanismos de antecipação de recebíveis com uma estrutura muito similar à do crédito bancário.

AGÊNCIA DC NEWS – Por que é interessante para o varejo?
Diego Perez – Com esse ajuste, entendemos que esse tipo de fintech será muito demandado pelo varejo, especialmente porque as operações, embora pequenas, acumulam-se em montantes relevantes. A antecipação desses valores pode gerar um capital de giro muito interessante para o setor.

AGÊNCIA DC NEWS –  Com a Selic mais alta em 2025, será a saída para conseguir crédito mais barato?
Diego Perez – Com a taxa de juros elevada no próximo ano, acreditamos que o crédito privado estará amplamente disponível para o varejo. As fintechs estão muito bem preparadas para esse cenário econômico.

AGÊNCIA DC NEWS – Você acredita que o cenário econômico atual beneficia o crescimento do setor de fintechs?
Diego Perez – O setor continuará crescendo. Nos últimos dez anos, mesmo enfrentando intempéries como a pandemia, crises geopolíticas, altas e baixas econômicas, o setor manteve um crescimento acima de dois dígitos, especialmente no Brasil. Mesmo com cenários adversos como inflação ou alta do dólar, as fintechs conseguem se adaptar e aproveitar as oportunidades para entregar produtos melhores.

AGÊNCIA DC NEWS – O Banco Central deve começar a testar o Drex no ano que vem. Qual a expectativa para as fintechs?
Diego Perez – Ele tem o potencial de ser um divisor de águas. Com ele, será possível estruturar novos produtos financeiros de forma automatizada e programável. 

AGÊNCIA DC NEWS – Como acontece atualmente?
Diego Perez – Hoje, quando você contrata um crédito, o cenário pode mudar em seis meses ou um ano, exigindo a renegociação ou expansão do crédito.

AGÊNCIA DC NEWS – E como funcionará quando o Drex estiver pronto?
Diego Perez – O Drex permitirá que cenários futuros previsíveis sejam programados na plataforma. Assim, quando esses cenários se confirmarem, o contrato se ajusta automaticamente. Os ativos digitais envolvidos equilibrarão valores a pagar, a receber, e as garantias. Ele também tem potencial para reduzir custos e intermediários, aumentando a eficiência financeira para empresas de todos os tamanhos.

AGÊNCIA DC NEWS – E como o varejo pode se beneficiar diretamente do Drex?
Diego Perez – O Drex trará eficiência para operações estruturadas, especialmente aquelas que precisam de garantias para obter crédito mais barato. 

AGÊNCIA DC NEWS – Pode dar um exemplo?
Diego Perez – Um recurso preso em um título de longo prazo pode ser utilizado como garantia financeira para contratar crédito, mas, caso haja inadimplência, o título muda de titularidade automaticamente e o crédito é liquidado sem maiores complicações.

AGÊNCIA DC NEWS – Por que isso é importante?
Diego Perez –
Isso evitará bloqueios de contas e outros problemas mais graves. Esse nível de eficiência é algo que o mercado ainda carece, apesar do grande investimento em tecnologia. Estamos confiantes de que o Drex trará uma verdadeira revolução ao mercado financeiro.

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