SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu a sessão desta quinta-feira (29) em leve alta com os investidores aguardando novos dados econômicos da economia dos EUA para avaliar qual será a decisão do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) sobre a taxa de juros.
A expectativa é que a instituição anuncie uma redução na reunião que será realizada em 17 e 18 de setembro.
Às 9h07, o dólar subia 0,38%, cotado a R$ 5,5778. Na quarta-feira (28), o dólar teve avanço firme de 0,96%, cotado a R$ 5,555, e a Bolsa fechou em alta de 0,42%, aos 137.343 pontos novo recorde para o mercado acionário brasileiro.
A sessão foi embalada pelas expectativas em torno dos juros do país, em especial após a indicação de Gabriel Galípolo à presidência do BC (Banco Central), e dos Estados Unidos.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciou que Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC, será o nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da autarquia.
Se aprovado pelo Senado Federal, Galípolo assume o comando da instituição com a missão de angariar a confiança do mercado financeiro, que teme um BC leniente no combate à inflação em 2025, quando o Copom (Comitê de Política Monetário) terá maioria dos integrantes indicados pelo presidente Lula.
Ele vai suceder Roberto Campos Neto, à frente da instituição desde 2019 por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cujo mandato termina em 31 de dezembro.
A indicação de Galípolo já era amplamente esperada pelo mercado. “Desde o ano passado, os agentes financeiros já trabalhavam com a hipótese dele estar à frente do BC, e de lá para cá houve uma mudança quanto à percepção que o mercado tinha dele”, diz Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimento.
“Esperava-se que Galípolo sucumbiria às pressões do governo, mas a postura mais dura no combate à inflação reduziu essa percepção. Depois da acomodação dessa expectativa, um nome diferente nesse momento poderia trazer uma desconfiança desnecessária.”
A Bolsa, que passou boa parte do pregão oscilando entre os sinais, virou para alta após o anúncio, também em meio às disparadas dos papéis do Itaú (2,41%) e da Petrobras (2,34%).
O dólar, por sua vez, acelerou ganhos, ainda que o movimento de alta tenha sido generalizado no exterior.
Já no mercado de juros futuros, as taxas tiveram altas firmes após o anúncio, intensificando as apostas de que a autarquia subirá a Selic, atualmente em 10,50% ano ano, na próxima reunião, em setembro.
A taxa do contrato para janeiro de 2025, por exemplo, atingiu a máxima de 10,94% às 15h49, pouco depois do anúncio, em alta de 0,06 ponto percentual ante o ajuste anterior.
A reação da curva brasileira traduziu a percepção de que aumentaram as chances de alta da Selic em setembro ainda que Galípolo só vá assumir o comando do BC em 2025. Isso porque o diretor, em suas falas mais recentes, tem reforçado que o Copom (Comitê de Política Monetária) elevará a taxa básica se for necessário.
Uma das avaliações é a de que a alta da Selic em setembro poderá trazer credibilidade para Galípolo e para a diretoria que comandará o BC a partir de 2025.
O restante da agenda do dia ficou em segundo plano. Em palestra na conferência anual do banco Santander, Roberto Campos Neto disse que os dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de agosto, divulgados na quarta-feira, vieram melhores do que números anteriores, mas não fornecem “conforto” para o BC na briga contra a alta de preços.
O indicador, considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, medida pelo IPCA, desacelerou em agosto para 0,19%, em linha com o esperado por economistas. Em 12 meses, a inflação ficou em 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta do BC de 4,5%.
Ao analisar o cenário, Campos Neto afirmou que há uma desancoragem adicional nas expectativas de inflação e reiterou que o BC “vai fazer o que for preciso para atingir a meta” de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
No exterior, os mercados têm adotado cautela antes de mais dados sobre a economia dos Estados Unidos, diante das expectativas em torno das decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
Em discurso no simpósio de Jackson Hole na sexta-feira, Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, afirmou que “chegou a hora” de reduzir os juros, confirmando as apostas de que o ciclo de afrouxamento provavelmente terá início na próxima reunião da autarquia.
Tanto o Fed quanto o Copom se reunirão nos dias 17 e 18 de setembro.
Agora, investidores aguardam a divulgação de uma nova bateria de dados econômicos para calibrar as expectativas em torno do tamanho da redução. Na ferramenta CME FedWatch, 65,5% dos operadores enxergam probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 34,5% apostam no de maior magnitude, de 0,50 ponto.
A principal divulgação da semana acontece na sexta-feira com o relatório do índice PCE de julho, o indicador favorito de inflação do Fed. Nesta quinta, dados do PIB (Produto Interno Bruto) podem indicar a temperatura da economia americana.