SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve queda nesta quinta-feira (10), com investidores à espera de dados de inflação dos Estados Unidos em busca de sinais sobre a trajetória dos juros do Fed (Federal Reserve, o BC do país).
Às 9h04, a moeda estava em baixa de 0,14%, cotado a R$ 5,5794. No dia anterior, fechou em forte alta de 0,97%, a R$ 5,586, e a Bolsa despencou 1,17%, a 129.962 pontos.
Principal dado macroeconômico da semana, a inflação americana medida pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) pode dar pistas sobre a trajetória dos juros dos Estados Unidos.
O Fed iniciou o ciclo de afrouxamento no encontro de setembro. O corte o primeiro em quatro anos foi de 0,50 ponto percentual, levando a taxa à banda de 4,75% e 5%.
A ata da reunião, divulgada na quarta-feira, indicou que a redução agressiva foi para “alinhar a política monetária com os indicadores recentes de inflação e do mercado de trabalho”, e não deve ser interpretado como indicativo de uma “perspectiva econômica menos favorável”.
Os dirigentes ainda disseram que, se a economia se comportar conforme o esperado, “provavelmente será apropriado adotar uma postura mais neutra da política monetária ao longo do tempo”.
A autarquia dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os indicadores de inflação e de emprego para decidir sobre juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando os índices de preços convergem para a meta de 2% sem maiores deteriorações à empregabilidade do país.
Na semana passada, números benignos do mercado de trabalho selaram apostas de que o próximo corte nos juros será mais moderado, de 0,25 ponto percentual de magnitude.
“Para a economia, isso significa que está ocorrendo um ‘pouso suave’. Continuamos criando emprego em um ritmo acelerado e a taxa de desemprego está caindo”, disse Ross Mayfield, estrategista de investimentos da Baird.
“Isso significa que é improvável que o Fed corte em 0,50 ponto percentual em novembro ou dezembro, certamente, e talvez até faça uma pausa em novembro.”
A ferramenta CME Fed Watch aponta probabilidade de 80,8% para a redução de 0,25 ponto, e 19,2% de chance para a manutenção da taxa no atual patamar.
Quanto menores os juros nos Estados Unidos, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem. A perspectiva de cortes mais graduais, porém, tem favorecido a moeda em relação às outras divisas, sobretudo o real, que acumula perdas de mais de 1,50% desde o início de outubro.
Para a divisa brasileira, outro fator também entra na conta: a trajetória da taxa básica de juros do país, a Selic.
Aqui, o movimento tem sido o oposto do adotado pelos Estados Unidos. Na reunião de setembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) reiniciou o ciclo de apertos na Selic com uma alta de 0,25 ponto percentual, levando-a a 10,75% ao ano.
O comitê deixou os próximos passos em aberto, mas afirmou que as decisões estarão à mercê dos dados econômicos, sobretudo os de inflação.
Na quarta, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou a 0,44% em setembro, depois de apresentar leve queda (deflação) de 0,02% em agosto.
O resultado veio abaixo das expectativas de analistas consultados pela Bloomberg, que previam alta de 0,46%. Mas, na base anual, a inflação alcançou 4,42% próximo ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC, cujo centro é de 3%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais, e a Selic é o principal instrumento do BC para controle de preços.
Ainda que dentro da banda, o dado indica que a inflação está desancorada do centro da meta. Em declarações recentes, dirigentes do Copom afirmaram que o foco das decisões continuará sendo a perseguição do alvo de 3%, e não das margens de tolerância.
Neste cenário, a expectativa dos investidores é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para novembro.
“A inflação ainda está desconfortável, transitando em um patamar ao redor de 4,5%, e isso deve continuar mantendo a expectativa de que o BC possa acelerar o ritmo de aperto no próximo encontro”, diz Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos.
A perspectiva de uma Selic mais alta fez os juros futuros dispararem na véspera. O contrato para janeiro de 2026 subiu 1,63%, prevendo a taxa em 12,50%. O de janeiro de 2027 avançou 2,05%, a 12,58%, e o de 2028 teve ganhos de 2,12%, a 12,58%.
No Ibovespa, isso se traduziu em pressão às empresas mais sensíveis à economia doméstica, como Lojas Renner (-2,27%), Magazine Luiza (-3,97%) e MRV (-1,52%).