SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar tinha alta nesta sexta-feira (30) após o leilão de até US$ 1,5 bilhão no mercado à vista do BC (Banco Central).
Às 9h51, a moeda avançava 0,16%, a R$ 5,630, depois de ter iniciado o dia com recuos de 0,81%. O leilão foi realizado entre 9h30 e 9h35, no que foi a segunda intervenção do câmbio desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A medida foi anunciada na noite de quinta-feira, após o dólar fechar em forte alta de 1,18%, a R$ 5,621, e a Bolsa recuar 0,95%, aos 136.041 pontos.
Ao atuar no mercado à vista, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. Essa foi uma alternativa mais recorrente no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante o câmbio fixo.
Segundo o BC, cada intermediário poderia ter envia do até três propostas contendo volume pretendido e o diferencial, com até seis casas decimais, a ser adicionado ou diminuído da taxa de câmbio de venda do boletim de fechamento da Ptax do dia do leilão.
Calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax é uma taxa de câmbio que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. Com isso, agentes financeiros fecham contratos de câmbio já para o próximo mês, o que, por conta de incertezas do cenário doméstico e internacional, pode fazer com que a cotação do dólar suba.
Segundo um agente do mercado financeiro, o leilão atenderá ao rebalanceamento de um dos principais índices de referência para investidores que aplicam em bolsas de valores internacionais, chamado MSCI (sigla para Morgan Stanley Capital International).
Com a mudança, os investidores precisarão reduzir suas posições no Brasil e enviar recursos ao exterior, o que poderia gerar um repique na cotação do dólar devido a uma maior demanda pela moeda norte-americana. A expectativa é de saída entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão nesta sexta.
Na primeira intervenção no câmbio sob o governo Lula, em abril, o BC realizou um leilão adicional de 20 mil contratos de swap cambial tradicional, atuando no mercado futuro. Foram vendidos todos contratos ofertados o equivalente a US$ 1 bilhão, sendo 16 mil com vencimento em 1º de abril de 2025 e outros 4 mil com vencimento em 2 de janeiro de 2025.
Na última quarta-feira (28), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a instituição chegou muito perto de fazer uma intervenção no câmbio. Na ocasião, acrescentou que a autoridade monetária ainda poderia atuar se preciso. “O Banco Central está com o dedo no gatilho”, afirmou.
O anúncio da operação de câmbio foi feito um dia depois da indicação de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, para o comando do BC. Ele é o responsável pela definição da atuação da autoridade monetária no mercado de câmbio.
O dólar atingiu seu maior patamar do ano na sessão de 5 de agosto, quando fechou cotado a R$ 5,739, chegando a bater R$ 5,865 na máxima do dia. O principal catalisador foram temores de uma possível recessão na economia dos Estados Unidos, após dados fracos de emprego terem causado pânico mundial nos mercados.
A alta de quinta-feira teve de pano de fundo a consolidação de expectativas de cortes menores nos juros nos Estados Unidos.
O PIB (Produto Interno Bruto) anualizado dos EUA cresceu 3% no segundo trimestre, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previam que não haveria revisão.
O dado acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.
Ao mesmo tempo, o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuaram na semana encerrada em 24 de agosto para 231.000, ante 233.000 da semana anterior e abaixo das estimativas de 232.000 pedidos.
A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliência do que o especulado no começo do mês.
O ritmo da atividade americana impacta na tomada de decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Na análise de Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, o resultado sugere que a política monetária implementada pela autarquia tem sido eficaz no controle inflacionário sem comprometer o crescimento econômico de forma significativa.
O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na semana passada que “chegou a hora” de cortar os juros, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, para não enfraquecer a economia americana. A dúvida, agora, é sobre o tamanho das reduções: se mais agressiva, de 0,50 ponto percentual, ou gradual, a começar com um corte de 0,25 ponto.
“Com uma economia ainda aquecida, é mais provável que o Fed mantenha uma abordagem cautelosa, optando por cortes menores de 0,25 ponto percentual, para garantir que a inflação continue sob controle”, diz Murad.
“Para o Brasil e outros mercados emergentes, isso pode implicar em um fluxo de capital internacional mais moderado do que se houvesse cortes mais agressivos nos juros americanos.”
A perspectiva de um afrouxamento gradual elevou os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro norte-americano, o que tornou o dólar mais atraente no exterior.