SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu próximo da estabilidade nesta sexta-feira (7), enquanto os investidores avaliavam os dados recém-divulgados do PIB (Produto Interno Bruto) de 2024.
A economia brasileira perdeu ritmo no quarto trimestre, mas fechou 2024 com alta de 3,4% no acumulado do ano, apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciados nesta manhã.
O avanço de 3,4% é o maior desde 2021 (4,8%), quando a base de comparação com 2020 era fragilizada pela pandemia. Além dos dados do PIB brasileiro, os investidores aguardam o relatório de emprego nos Estados Unidos e comentários do presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), Jerome Powell.
Às 9h06, o dólar à vista subia 0,03%, cotado a R$ 5,7617. Na quinta (6), a moeda dos EUA fechou em estabilidade e marcou alta marginal de 0,06%, a R$ 5,759. A Bolsa subiu 0,25%, a 123.357 pontos.
O dia foi marcado por novas informações sobre os planos tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e dados da maior economia do mundo.
Depois de adiar a implementação de tarifas de importação a montadoras do Canadá e México em um mês, Trump fez mais um grande recuo na política comercial.
Agora, produtos mexicanos e canadenses em conformidade com as regras do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA), de 2020, estarão isentos de tarifas por mais um mês, até 2 de abril. É a mesma exceção aberta na véspera aos veículos importados, requerida pelos CEOs das montadoras General Motors, Ford e Stellantis em ligação com o republicano.
A legislação USMCA impõe regras de conteúdo de toda a América do Norte para acesso livre de tarifas ao mercado dos EUA.
“Tivemos uma ligação excelente e respeitosa na qual concordamos que nosso trabalho e colaboração produziram resultados sem precedentes, dentro da estrutura de respeito às nossas soberanias”, disse a presidente do México, Claudia Sheinbaum, em postagem no X.
Ela afirmou que os dois países continuarão trabalhando juntos para conter o fluxo do opioide fentanil do México para os Estados Unidos, um ponto-chave de discórdia nas negociações sobre as tarifas de 25% que entraram em vigor no início desta semana.
Para o Canadá, o decreto também exclui os impostos sobre o potássio, um fertilizante essencial para os agricultores dos EUA, mas não cobre totalmente os produtos energéticos, sobre os quais Trump impôs um imposto separado de 10%. Uma autoridade da Casa Branca disse que isso se deve ao fato de que nem todos os produtos de energia importados do Canadá estão cobertos pelo Acordo EUA-México-Canadá sobre comércio que Trump negociou em seu primeiro mandato como presidente.
Trump impôs as tarifas depois de declarar uma emergência nacional devido às mortes por overdose de fentanil, afirmando que o opioide mortal e seus precursores químicos passam da China para os EUA via Canadá e México. Como resultado, Trump também impôs tarifas de 20% sobre todas as importações da China.
“Espero que México e Canadá façam um trabalho bom o suficiente em relação ao fentanil para que essa questão não interfira em novas tarifas”, afirmou o Secretário de Comércio Howard Lutnick em um comunicado.
As isenções expirarão em 2 de abril, quando Trump tem ameaçado impor um regime global de tarifas recíprocas a todos os parceiros comerciais dos EUA.
Os recuos parciais de Trump fortalecem a tese de que a política tarifária do republicano tem sido usada como ferramenta de barganha, enfraquecendo o dólar em relação às demais divisas globais.
A divisa disparou no final do ano passado sob a sombra das ameaças tarifárias. Isso porque o aumento de tarifas, além de estimular uma guerra comercial ampla, tem o potencial de encarecer o custo de vida dos norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.
Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.
Com os recuos, os investidores estão reavaliando as posições compradas em dólar. A moeda derreteu 2,70% na quarta-feira, a R$ 5,755, no que foi a maior queda diária desde as eleições de 2022.
“[O vai-e-vém] tem trazido incerteza e insegurança aos investidores, porque eles não conseguem antecipar qual vai ser o grau de elevação das barreiras comerciais e em qual ritmo. Isso tem diminuído a atração pelo dólar neste momento”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“Além disso, a interpretação de que os Estados Unidos serão mais seletivos sobre as tarifas tende a beneficiar os ativos de maior risco, indicando que o impacto sobre eles não vai ser tão rápido, tão importante, no curto prazo.”
A percepção de desaceleração da atividade no país também tem enfraquecido a divisa americana.
“Ainda vemos um dólar mais forte por conta da tese de que as tarifas dos EUA serão inflacionárias. O que está mudando no cenário é que estamos vendo uma desaceleração da economia norte-americana”, afirmou Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
O relatório ADP mostrou que a criação de vagas no setor privado dos EUA aumentou no menor ritmo em sete meses em fevereiro. Foram criados apenas 77 mil novos postos de trabalho, bem abaixo da expectativa do mercado, de 141 mil.
Já na quinta, os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram para 221 mil na semana passada, informou o Departamento do Trabalho nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam 235 mil pedidos. O foco está voltado para esta sexta-feira, quando serão conhecidos os números do payroll às 10h30.
“Várias medidas de atividade econômica estão apontando para uma desaceleração muito forte nos EUA. Isso vai bater inclusive no dólar, com a visão de que eventualmente o Fed vai cortar juros este ano”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
O desempenho do câmbio internamente, porém, foi afetado pela notícia de que o presidente Lula poderia anunciar, ainda na quinta, medidas para conter a alta nos preços dos alimentos. A afirmação foi dada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
“Esse anúncio pode causar mal-estar no mercado cambial. Investidores ainda não conhecem os detalhes das medidas, mas tendem a se preocupar com a possibilidade de maior expansão fiscal e com as consequências na trajetória da dívida pública brasileira”, diz Leonel Mattos, da StoneX.