Dólar cai e Bolsa oscila após Trump estender prazo para negociações comerciais

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrava queda e a Bolsa oscilava nesta terça-feira (8), conforme os investidores avaliavam as mudanças anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na política comercial do país, que incluía um novo prazo para negociações tarifárias.

Às 14h41, a moeda norte-americana caía 0,47%, cotada a R$ 5,452. No mesmo horário, a Bolsa perdia 0,25%, a 139.132 pontos. Na segunda-feira (7), o dólar fechou com uma forte alta de 1%, cotado a R$ 5,478, antes de Trump anunciar as tarifas aos 14 países.

Os movimentos do real nesta sessão tinham como pano de fundo um otimismo cauteloso por parte dos investidores após Trump estender o prazo para que os países fechem acordos comerciais com Washington até 1º de agosto. Segundo o republicano, “nenhuma prorrogação será concedida”. A data anterior para as tratativas encerraria nesta quarta-feira, 9 de julho.

Os agentes do mercado avaliam que a abordagem dos EUA, apesar de agressiva e errática, não vai gerar uma guerra comercial total.

“Pela reação dos mercados, eu interpreto que os investidores estão céticos quanto à possibilidade de realmente haver um aumento das tarifas de importação, ou pelo menos nessa magnitude, e que Trump deve estar blefando”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Trump estaria utilizando o tema das tarifas como um instrumento de negociação para pressionar outros países a fazerem acordos comerciais, mas que, no fundo, não teria a intenção de manter essas tarifas por muito mais tempo.”

As novas tarifas divulgadas na véspera são semelhantes às taxas do chamado Dia da Libertação que Trump anunciou em abril, e começariam em 25% para Japão, Coreia do Sul, Malásia, Cazaquistão e Tunísia, e chegariam a até 40% para Mianmar e Laos.

Enquanto isso, África do Sul, Bósnia, Indonésia, Bangladesh, Sérvia, Tailândia e Camboja enfrentariam tarifas entre 30% e 36%.

No início da tarde, Trump disse que vai anunciar uma tarifa de 50% sobre importações de cobre e que está a dois dias de enviar uma carta à União Europeia divulgando as taxas que irá aplicar.

Também segue repercutindo nesta sessão a ameaça do presidente dos EUA de aplicar uma tarifa adicional de 10% a países que se alinharem ao Brics, que impulsionou a alta do dólar frente ao real na segunda e a outras divisas dos países integrantes do bloco.

Nesta terça, durante uma reunião com integrantes do gabinete na Casa Branca, Trump reforçou a ameaça contra o Brics, disse que os países receberão uma tarifa de 10% “muito em breve”.

Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco foi ampliado recentemente para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto).

No domingo (6), em uma declaração conjunta na abertura da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, o grupo alertou que o “aumento indiscriminado de tarifas” ameaça o comércio global. O Brasil é um dos membros fundadores do bloco.

Horas depois, em sua plataforma Truth Social, Trump prometeu impor uma tarifa adicional de 10% a países que se “alinhem” com o Brics.

“A qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos Brics, será cobrada uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política”, ameaçou Trump.

Em reação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente as declarações do republicano, e classificou de “irresponsável” a postura de ameaçar países por redes sociais.

“Eu acho que nem deveria comentar, porque não é responsável e sério e um presidente da República, de um país do tamanho dos Estados Unidos, ficar ameaçando o mundo através da internet”, disse Lula.

“O mundo mudou, não queremos imperador. Somos países soberanos. Se ele acha que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade. Eu acho muito equivocado e muito irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros em redes digitais”, afirmou.

A China também respondeu à ameaça de Trump ao Brics, dizendo que o bloco defende abertura, inclusão e cooperação, e não tem nenhum país como alvo.

Na cena doméstica, o mercado nacional repercute falas de autoridades, que podem sinalizar algum movimento em relação ao impasse com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que as medidas do governo de ampliação de receita são focadas em combater privilégios, argumentando que esse era o caso do decreto que aumentou o IOF, que acabou derrubado pelo Congresso Nacional.

Em entrevista ao portal Metrópoles, Haddad afirmou que a medida do governo fechou brechas que permitiam que pessoas driblassem o IOF câmbio, argumentando também que o uso de previdência privada a partir de certo valor é considerado planejamento tributário.

“Nós estamos, em relação à receita, combatendo privilégios, é isso que nós estamos fazendo, e no caso do IOF não é diferente”, disse.

“Eu tenho que defender a constitucionalidade do ato do presidente da República. E eu, como advogado, te digo com todas as letras, não existe nenhum vício de constitucionalidade na decisão tomada pelo presidente da República, zero.”

O ministro disse que deve se encontrar com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda nesta semana.

A crise do IOF começou em 11 de junho, quando o governo fez novas mudanças nas cobranças do imposto depois de uma série de reuniões que buscavam um acordo com os líderes no Congresso.

Antes mesmo de o texto chegar ao Congresso, o pacote já estava sob ataque. Na quarta-feira, 25 de junho, veio a derrota da gestão petista: a Câmara e o Senado derrubaram as medidas.

Na última sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu os decretos presidenciais que aumentaram o IOF e também o decreto legislativo que barrou os reajustes.

Para Moraes, o embate entre Executivo e Legislativo sobre o IOF “contraria fortemente” o princípio da harmonia entre os Poderes. Ele determinou uma audiência de conciliação entre os chefes dos três Poderes para o dia 15 de julho, no Supremo, e a decisão vale até nova análise da Corte.

Na prática, a decisão de Moraes abre uma janela de oportunidade de quase duas semanas para que lideranças do governo e do Congresso discutam medidas fiscais alternativas.

Já o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, participou de um almoço com parlamentares da FPE (Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo) e associados do IUB (Instituto Unidos Brasil), em Brasília.

Galípolo afirmou que a economia tem subsídios cruzados que talvez não façam muito sentido e que a fluidez dos canais de transmissão da política monetária no Brasil não está funcionando tão bem como em outros países.

Na frente de dados, o mercado repercute as vendas no varejo brasileiro, que recuaram 0,2% em maio na comparação com o mês anterior e subiram 2,1% sobre um ano antes, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em resultado abaixo do esperado por economistas consultados pela Reuters.

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