Dólar cai e Bolsa renova máxima histórica com ata do Fed e Copom no radar

Uma image de notas de 20 reais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar tinha queda nesta quarta-feira (21), com investidores à espera de dados de emprego nos Estados Unidos que podem indicar os rumos da política monetária no país.

Além disso, é também aguardada a ata da reunião de julho do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que será divulgada por volta das 15h (horário de Brasília).

Às 10h38, a moeda norte-americana caía 0,44%, cotada a R$ 5,469 na venda. Já a Bolsa renovava o recorde histórico mais uma vez, com alta de 0,44% aos 136.687 pontos.

Os investidores seguem à procura de sinais sobre a trajetória dos juros dos Estados Unidos. A ata do Fed, principal evento do dia, deve indicar o quão profundo foi o debate sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário entre as autoridades no mês passado.

No último encontro, o comitê optou por manter a taxa de juros inalterada na faixa de 5,25% e 5,50% —o patamar mais restritivo há mais de duas décadas—, mas mudanças na comunicação após a decisão indicam que os diretores abriram a porta para um corte já na próxima reunião, em setembro.

Essa percepção foi consolidada com comentários do presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a reunião.

“Se virmos a inflação caindo mais ou menos em linha com as expectativas, o crescimento continuar razoavelmente forte e o mercado de trabalho continuar consistente com as condições atuais, então acho que um corte na taxa poderia estar na mesa na reunião de setembro”, disse ele.

Dois dias após a reunião, no entanto, os números do payroll (folha de pagamento, em inglês) mostraram uma forte desaceleração na criação de empregos em julho, com a taxa de desemprego subindo para uma máxima pós-pandemia de 4,3%.

Isso instalou temores de que a maior economia do mundo estaria a caminho de uma recessão, desencadeando uma volatilidade intensa nas Bolsas globais e levando o dólar a máximas ante diversas moedas, inclusive o real.

Operadores chegaram até a apostar em uma reunião extraordinária do Fed, antes de setembro, para um corte na taxa de juros injetar estímulos na economia e impedir a desaceleração.

Dados divulgados na esteira do payroll ajudaram a colocar panos quentes sobre os temores do mercado, e falas de outros membros do Fed começaram a indicar que um corte no próximo encontro é uma possibilidade concreta.

Os mercados, agora, dão como certo que o início do ciclo de afrouxamento será no mês que vem. A magnitude do corte, porém, divide opiniões: 67,5% dos investidores esperam redução de 0,25 ponto percentual e 32,5%, de 0,5 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.

“A ata está um pouco datada, inclusive pode mostrar justamente essa diferença, essa incompatibilidade na leitura dos cenários, digamos, a ata falando de uma economia vigorosa, mercado de trabalho aquecido”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“O que os investidores querem mesmo observar nesse documento é qual a discussão feita entre os integrantes sobre a conjuntura econômica, quais são os critérios necessários para se iniciar um processo de corte de juros”, completou.

Nesta quarta, ainda é esperada a revisão dos dados do mercado de trabalho os últimos 12 meses até março.

A agenda de hoje, no entanto, é apenas um prelúdio para o que ainda está por vir nos próximos dias. Entre quinta e sábado, ocorre o encontro de autoridades de bancos centrais em Jackson Hole, no estado de Wyoming, nos EUA.

O evento mais aguardado é o discurso de Jerome Powell na sexta-feira. A expectativa é que ele dê indicações mais firmes sobre qual deve ser o movimento do banco central na próxima reunião.

O dólar costuma se depreciar à medida que o Fed reduz os juros. Em tese, a moeda americana se torna comparativamente menos atrativa em relação a outras divisas quando os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA, chamados de treasuries, caem.

A mesma lógica se aplica à Bolsa brasileira e a outros mercados acionários. Quando há queda nos treasuries, considerados os ativos mais seguros do mundo, os investidores se voltam aos de maior risco. Isso explica, em grande parte, a atual disparada do Ibovespa.

Na cena doméstica, o mercado se voltava à política monetária do BC (Banco Central). O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista ao jornal O Globo que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima reunião está indefinida e que ainda não sabe ao certo se o risco de alta ou queda da inflação são equivalentes.

“Há opiniões divergentes no grupo sobre o balanço de riscos, se são simétricos ou não. A gente vai decidir no próximo Copom”, disse Campos Neto.

Após o último Copom sinalizar a possibilidade de subir juros, o mercado passou a precificar uma alta de 0,5 ponto percentual na reunião de setembro. Com as falas de Campos Neto, essa possibilidade fica mais incerta, dizem especialistas.

“Há dois fatores principais por trás da alta do dólar. O primeiro é externo, ligado a commodities agrícolas e ao petróleo, que se desvalorizam e impactam as divisas de países exportadores dessas matérias-primas. O segundo é interno, com o discurso de Campos Neto”, diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

“Campos Neto deu um sinal de que o BC não está tão confortável com essa visão do mercado de que ele vai subir juros. Nos últimos dias ele e o [Gabriel] Galípolo meio que deram uma tirada de pé”, afirma Borsoi.

Galípolo, diretor de política monetária do BC, enfatizou na segunda-feira (19) que a ata do Copom sinaliza que o comitê aguarda novos dados macroeconômicos para definir o futuro da Selic.

Segundo André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, as falas dos membros do Copom são, algumas vezes, mais valiosas até mesmo que dados concretos.

Para o economista, Galípolo tem dado declarações mais “hawkish”, ou seja, que indicam combate à inflação, enquanto Campos Neto tem adotado um tom mais “dovish”, que indicam queda de juros.

“Em falas recentes, Campos Neto adotou um tom mais brando sobre um eventual aumento na taxa de juros e afirmou que a inflação e componentes de inércia e do potencial inflacionário vindo oriundo da consistente melhora do mercado de trabalho. Tais discursos fizeram com que a moeda norte-americana revertesse a tendência dos últimos dias e ganhasse força nesta terça”, afirma Galhardo.

Na terça-feira (20), o dólar fechou em alta de 1,33%, a R$ 5,4854, e a Bolsa subiu 0,22%, a 136.087 pontos, renovando o recorde alcançado na véspera.

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