Dólar fecha em leve queda e Bolsa sobe, com inflação dos EUA norteando apostas sobre juros

Uma image de notas de 20 reais
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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou próximo à estabilidade nesta quarta-feira (11), com leve queda de 0,07%, a R$ 5,649. A sessão foi marcada por ajustes nas apostas sobre a taxa de juros dos Estados Unidos, após dados de inflação virem em linha com o esperado.

Em dia de alta volatilidade, a moeda oscilou entre os sinais e chegou a marcar máxima de R$ 5,674. Na mínima, bateu R$ 5,606.

Já a Bolsa teve alta de 0,27%, aos 134.676 pontos. O Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, foi amparado pelo avanço forte dos papéis da Vale, na esteira da recuperação dos preços do minério de ferro no exterior.

Os preços ao consumidor norte-americano subiram ligeiramente no mês passado, a 0,2%, depois de terem avançado no mesmo ritmo em julho. Nos 12 meses até agosto, o PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês) desacelerou para 2,5%, o menor aumento anual desde fevereiro de 2021.

Analistas consultados pela Reuters esperavam 0,2% na base mensal e 2,6% na anual.

O indicador é um dos mais monitorados pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar a política monetária. A autoridade trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e emprego para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos ao mercado de trabalho do país.

Embora a inflação continue acima do objetivo de 2% do banco central, o PCE de agosto perdeu força em relação ao de julho, quando a base anual marcou 2,9%.

Ao mesmo tempo, o relatório de emprego “payroll” (folha de pagamento, em inglês), divulgado na sexta-feira passada, mostrou uma desaceleração ordenada e sem grandes deteriorações nas taxas de ocupação, mas ficou abaixo das expectativas de analistas e não afastou por completo temores de recessão na maior economia do mundo.

A leitura do mercado é que o Fed irá cortar os juros de forma gradual a partir da próxima reunião de política monetária, que acontece na semana que vem entre os dias 17 e 18 de setembro. A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado -o patamar mais restritivo em duas décadas.

“O dado acaba consolidando a ideia de que um corte de juros de 0,50 ponto percentual pelo Fed é muito improvável”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Isso deve mostrar que ainda há tempo para se fazer ajustes graduais da trajetória dos juros no país, e com isso consolida a ideia de que os juros não vão cair tão rápido quanto alguns previam.”

As apostas de um corte de 0,25 ponto percentual reuniam 85% dos operadores na ferramenta FedWatch, acima dos 71% de antes dos dados.

O dólar costuma se depreciar globalmente à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco. Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

Uma bateria de indicadores na semana passada reforçou a hipótese de que a Selic poderá subir no próximo encontro do Copom, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto. O mercado projetava leve variação positiva de 0,01%, de acordo com a agência Bloomberg.

Com os dados de agosto, o IPCA passou a registrar uma inflação menor, de 4,24%, no acumulado de 12 meses. É uma desaceleração ante a taxa de 4,5% até julho, quando estava no teto da meta trabalhada pelo BC.

A deflação, apesar de positiva, não reverteu as projeções de alta na Selic até o final do ano. O IPCA, para Bruna Sene, analista da Rico Investimento, não foi o suficiente para “mudar o racional de alta de 0,25 ponto da Selic”, mas enfraqueceu apenas enfraquece a possibilidade de 0,50 ponto” de aperto.

Dados de serviços consolidaram essa percepção nesta quarta-feira. A atividade do setor, segundo o IBGE, avançou 1,2% em julho e renovou o patamar recorde, ante expectativa de recuo de 0,1%.

O resultado reforça o cenário de uma economia forte e aquecida, com potencial de gerar pressões inflacionárias nos próximos meses -o que acirra apostas de alta na Selic em 0,25 ponto.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Na cena corporativa, o Ibovespa era amparado pelos fortes ganhos de 2,83% da Vale, em dia de recuperação do minério de ferro depois de perdas significativas na véspera. Já os papéis preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 0,10%, e o ordinários subiram 0,44%.

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