São Paulo, 30 de janeiro de 2025 – Para Carsten Brzeski, chefe global de macro da ING, aeconomia alemã voltou a chamar a atenção pelos motivos errados, com uma contração de 0,2% noúltimo trimestre de 2024, marcando o terceiro ano consecutivo com um trimestre negativo. Os dadospreliminares indicam que as exportações foram um dos principais fatores para essa queda,consolidando o primeiro período de dois anos consecutivos de contração desde o início dos anos2000. “A combinação de desafios cíclicos e estruturais, como a perda de competitividade e amudança no papel da China de parceiro comercial para concorrente industrial, tem pressionado aeconomia alemã”, afirma.
A indústria alemã, especialmente o setor automotivo, enfrenta dificuldades significativas, coma produção industrial ainda 10% abaixo dos níveis pré-pandemia. A utilização da capacidademanufatureira está em níveis comparáveis aos da crise financeira de 2008 e dos lockdowns iniciaisda Covid-19. “Esses problemas industriais têm impactado outros setores da economia, seja por meiode efeitos reais ou de sentimentos negativos, agravando a situação geral”, continua.
No curto prazo, o analista acredita que a perspectiva para a economia alemã não é animadora.”A recuperação industrial ainda não está visível, com estoques elevados e pedidos fracos. Alémdisso, as tensões geopolíticas, a guerra na Ucrânia e o aumento do protecionismo, incluindopossíveis tarifas dos EUA, complicam ainda mais o cenário. O aumento de falências desde meados de2023 também pode afetar o mercado de trabalho e reduzir as esperanças de uma recuperação doconsumo privado”.
Ele também aponta a campanha eleitoral alemã, que inicialmente focava na economia, e que agoramudou seu foco para a imigração e como lidar com o partido de extrema-direita AfD. A recentevotação no parlamento para medidas migratórias mais rígidas, apoiada pela CDU e pelo AfD, geroudebates acalorados sobre a cooperação com partidos de extrema-direita. “Essa mudança de foco podedificultar as reformas econômicas necessárias, já que a atenção política se desvia paraquestões migratórias e divisões partidárias”.
O cenário político e econômico atual sugere que a Alemanha enfrentará desafiossignificativos nos próximos anos. A complexidade das negociações pós-eleitorais e o risco deestagnação nas reformas econômicas podem prolongar a crise. “A combinação de problemasestruturais, tensões geopolíticas e divisões políticas internas coloca a economia alemã em umcaminho incerto, com poucas perspectivas de recuperação rápida”, conclui.
Vanessa Zampronho / Safras News
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