Estante Virtual: perto de fazer 20 anos, marketplace pioneiro já vendeu 30 milhões de livros e atualiza plataforma

Uma image de notas de 20 reais
Vendas online de livros crescem, mas ainda respondem por apenas 8% do mercado total
Crédito: Min An/Pexels
  • Criado em 2005 por um administrador de empresas no Rio, plataforma passou pela Livraria Cultura e foi comprada pelo Magazine Luiza em 2020
  • Em processo de mudanças tecnológicas, que traz reclamações, site tem 5,5 mil livreiros cadastrados e mais de 25 milhões de livros disponíveis
Por Vitor Nuzzi

A Estante Virtual, que completará 20 anos em 2025, foi pioneira na área de vendas de livros online. De uma dúzia de vendedores nos primeiros tempos, tem hoje 5,5 mil sebos e livreiros e mais de 25 milhões de exemplares disponíveis – desde fevereiro de 2020, a plataforma pertence ao Magazine Luiza (Magalu), que investiu na compra R$ 31 milhões. Nestas quase duas décadas, foram vendidos 30 milhões de livros. “É um case para o mundo”, disse Christiane Bistaco, diretora da Estante Virtual. “Temos 3 mil sebos que vendem todos os meses, e 80% são pequenos livreiros.”

É igualmente um marco em um país que lê pouco e em um mercado que migra para a digitalização. De 2022 para 2023, o faturamento com a venda de livros impressos caiu 0,8%. Já a venda de digitais cresceu 38,8%. A participação dos digitais ainda é minoritária, mas avança – passou de 6% para 8% do total. Os dados são da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), elaborada pela da Nielsen BookData.

A plataforma surgiu quase por acaso, quando o administrador de empresas André Guimarães se preparava para o curso de mestrado e enfrentava dificuldades para encontrar os livros. Ele não conseguiu a bolsa de estudos que pleiteava, mas a experiência do garimpo ficou na cabeça. Juntou a oportunidade de mercado com a necessidade de acesso online de quem vivia da venda de livros. Estudou programação e montou o site sozinho.

O carioca Guimarães tocou a Estante Virtual até o final de 2017, quando o site foi vendido para a paulistana Livraria Cultura, que chegou a ter unidades no Sul, Centro-Oeste e Nordeste do país. Na época, a Cultura também havia comprado a operação da francesa Fnac no Brasil e pretendia aumentar suas vendas virtuais. Não foi muito longe: depois de anos em recuperação judicial, teve a falência decretada. Seu emblemático espaço no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, fechou neste ano – e será ocupado justamente por uma megaloja do Magalu.

VORAZES – No comunicado de aquisição, o Magalu informou que no ano anterior (2019), a Estante Virtual havia comercializado 3 milhões de livros e movimentado mais de R$ 120 milhões. A empresa não divulga os dados recentes. O site indica presença de 5.547 estabelecimentos, sendo 2,2 mil em São Paulo, 887 apenas na capital. Segundo Christiane Bistaco, 50% dos consumidores estão no meio acadêmico (professores e estudantes universitários). E em torno de 40% são o que a Estante Virtual chama de “leitores vorazes”, consumidores frequentes. “O Magalu viu esse potencial. Estamos falando de economia circular, de suporte aos empreendedores, democratização do acesso”, afirmou. A comissão de vendas varia de 8% a 12%. “O livreiro que entrega um serviço melhor pode ter melhora na comissão.”

Os novos administradores passaram a implementar mudanças tecnológicas no site, mas as alterações têm causado reclamações de parte dos vendedores, sobre perda de funcionalidades e dificuldades no processo de busca. A Estante Virtual diz que a empresa mantém canal aberto com os livreiros e que as alterações atendem a pedidos de clientes. “A plataforma ficou muito obsoleta. Agrupamentos de livros eram feitos manualmente, e às vezes o catálogo traz erros no ISBN [sigla em inglês para o padrão universal de numeração dos livros, que indica título, autor, país, editora e edição]”, disse a diretora, citando transformações como adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e introdução do Pix como meio de pagamento, além do que ela chama de investimento em visibilidade. “A gente não podia colocar um tapume no site [durante as mudanças]. Para muitos, é o único lugar de vendas”, afirmou a diretora. E para milhões de outros, um espaço único para garimpar livros.

Escolhas do Editor