CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – O ex-governador do Paraná e ex-senador Roberto Requião (Mobiliza), derrotado nas eleições à Prefeitura de Curitiba neste domingo (6), não descartou a possibilidade de voto na candidata bolsonarista Cristina Graeml (PMB), que enfrenta Eduardo Pimentel (PSD) no segundo turno da disputa.
Requião defende que as duas propostas para a cidade sejam analisadas. Ele também voltou a criticar o governo paranaense, de Ratinho Junior (PSD), padrinho político de Pimentel nesta campanha, além do governo Lula (PT).
Em vídeo publicado em suas redes sociais nesta quarta-feira (9), Requião criticou o argumento de uma ala da esquerda que defende o voto em Pimentel, da direita tradicional, “contra o fascismo de Cristina”, da direita radical. Para ele, trata-se de “bobagem”.
“Agora estão com essa conversa mole: temos que apoiar o Pimentel contra o fascismo. Será verdade isso? Acho que a gente tem que comparar as propostas. Porque quem privatizou a Copel, privatiza a prefeitura inteira”, diz ele, em referência à recente desestatização da companhia de energia paranaense conduzida pelo governo Ratinho Junior.
“Mas não me vem com esta conversa mole de combate ao fascismo”, continua ele. “Não é bem assim. Isso é uma ilusão. A prefeitura tem limites, até operacionais. Vamos analisar as propostas reais”, defende ele, que, em São Paulo, pede voto ao candidato Guilherme Boulos (PSOL), apoiado pelo PT.
Requião continuou: “Vamos avaliar qual será melhor, qual se afasta das privatizações desonestas. Vamos deixar de lado esta palhaçada de luta contra o fascismo. Isso já foi por água abaixo. Vamos examinar com cuidado e tomar a posição correta no segundo turno”.
Em Curitiba, a principal coligação da esquerda na disputa, encabeçada por Luciano Ducci (PSB) e com apoio do PDT e PT, já sinalizou neutralidade no segundo turno e não deve declarar voto. Militantes da esquerda, contudo, avaliam votar no candidato que consideram “menos pior”. Ducci ficou na terceira posição, com 19,4% dos votos.
Cristina afirma que é conservadora nos costumes e liberal na economia, além de defensora de um estado enxuto. Ela segue toda a cartilha bolsonarista –do antipetismo à defesa do voto impresso, da desconfiança da vacina contra Covid à bandeira de impeachment do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, Cristina fala de “presos políticos”.
Também diz que é contra o que chama de “ideologia de gênero” e se define como antifeminista, conforme diretriz do PMB (Partido da Mulher Brasileira), que “está em processo de mudança de nome para Por Mais Brasil”, costuma explicar.
Embora o PL de Jair Bolsonaro esteja na chapa de Pimentel, o ex-presidente permitiu que Cristina utilizasse um vídeo no qual ele admite torcer pela candidata.
Em 2022, contra o bolsonarismo, Requião se filiou ao PT e concorreu ao governo do Paraná para dar um palanque regional ao então candidato Lula. Depois das eleições, contudo, alegou que não estava sendo ouvido pelo PT e deixou a legenda. Desde então, segue disparando críticas ao governo federal.
No mesmo vídeo, Requião também fez críticas ao diretor-geral da Itaipu, o ex-deputado federal Ênio Verri (PT), que já foi seu secretário no governo paranaense. “Foi um bom secretário, um sujeito correto, mas o que ele está fazendo em Itaipu é um absurdo. Usando politicamente, distribuindo dinheiro sem fiscalização”, diz o ex-governador.
No domingo, Requião fez apenas 1,8% dos votos válidos, ficando em sétimo lugar na corrida. Concorreu filiado a um partido nanico, sem tempo de televisão e rádio, mas admite que esperava mais votos.
“Meu resultado eleitoral foi um pouco abaixo do esperado por mim. Eu achava que eu teria ainda [do eleitor] uma memória do que eu fui na prefeitura, no governo. Mas eu fui desaparecendo na campanha”, afirma ele.
Requião diz, contudo, que não se arrepende da candidatura. “Eu não podia aceitar mais que as tais forças progressistas fossem iludidas com estas alianças amplas”, continuou ele.