Extrema direita alemã vence na Turíngia e fica em 2º na Saxônia, diz boca de urna

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DRESDEN, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Previsões de boca de urna apontam que o partido AfD (Alternativa para a Alemanha) venceu neste domingo (1º) as eleições para o Parlamento da Turíngia, ficando com 30,8% dos votos. Se confirmada a projeção, a sigla poderá ser a primeira de extrema direita a governar um estado alemão desde o fim do regime nazista, em 1945 —embora ficasse dependente de aliança com alguma outra sigla, o que por ora é improvável.

“Estamos prontos para assumir responsabilidade de governo”, disse o líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, segundo a imprensa alemã.

Já na Saxônia, outro estado daquela que até 1990 foi a comunista República Democrática Alemã, a AfD deverá ficar em segundo lugar, também com 30% dos votos. No entanto, reduziria a só um ponto percentual a desvantagem em relação à tradicional legenda de centro-direita CDU (União Democrata-Cristã), atual líder da coalizão governista estadual, que ficou com 31,5%.

A AfD é oficialmente considerada uma força política extremista por autoridades alemãs na Saxônia e na Turíngia, mantendo conexões com grupos neonazistas.

Estas eleições estaduais vêm sendo amplamente consideradas um termômetro da política nacional, um ano antes do pleito para o Parlamento alemão, enquanto o primeiro-ministro Olaf Scholz lidera uma pouco popular coalizão em Berlim.

Tanto na Saxônia quanto na Turíngia, aponta a boca de urna, o terceiro lugar ficou com a BSW (Aliança Sahra Wagenknecht), partido populista de centro-esquerda criado em janeiro deste ano por uma homônima ex-parlamentar do A Esquerda, mirando as eleições estaduais deste domingo.

Em um hotel de Dresden, capital saxã, o resultado foi efusivamente celebrado pelos líderes do partido ao atingir a expectativa de garantir um percentual de dois dígitos.

A candidata Sabine Zimmermann, que lidera o partido na Saxônia, subiu ao palco imediatamente após a transmissão da boca de urna, atribuindo o sucesso da sigla, em apenas oito meses, ao discurso pró-Rússia na Guerra da Ucrânia e contra a “imigração descontrolada”. A BSW divide as duas pautas com a AfD, alavancando sua popularidade no leste alemão.

“Nós conseguimos!”, bradou Zimmermann, sob aplausos. “Nós estamos escrevendo História”.

Minutos antes do fechamento das urnas, o coordenador regional da BSW em Dresden, Andreas Uhlig, disse à Folha descartar uma coalizão com a AfD, mas não com a CDU.

“Nós esperamos uma oferta (da CDU) e temos que discutir o conteúdo de um contrato de coalizão. Estamos abertos à colaboração, se fizer sentido”, disse Uhlig. “No caso da AfD, há muitas posições do partido que não estão alinhadas ao que queremos para a nossa sociedade.”

Caso confirmado, o resultado aprofundará o escanteamento dos partidos de centro e esquerda. Em ambos os estados, o SPD (Partido Social-Democrata) e os Verdes ficaram abaixo dos 10% nas primeiras previsões.

Já o A Esquerda —tido como sucessor do Partido Socialista Unificado da Alemanha, que governou a Alemanha Oriental antes da queda do Muro de Berlim— passaria de primeiro partido na Turíngia para o quarto (12,4%) e seria o sexto na Saxônia (4%).

A derrocada do partido se deve, em grande medida, à ascensão da AfD e, agora, da BSW. Ambas encontram no leste alemão um bastião para os seus projetos nacionalistas, capturando votos que já foram do A Esquerda.

Eleitora fiel do A Esquerda, Rita Kunert, 63, assiste com pesar ao esvaziamento da sigla, com parte dos seus correligionários tendo migrado nos últimos dez anos para a AfD e a BSW. Até os 29 anos, ela trabalhava como engenheira numa usina nuclear da RDA e, com a dissolução da Alemanha Oriental, perdeu seu trabalho, deixou de ter o diploma reconhecido e viu a vida que conhecia acabar.

Assim como ela, os órfãos da RDA se tornariam uma importante base do A Esquerda e, hoje, são atraídos por discursos nacionalistas quem miram as elites do oeste alemão, até hoje mais desenvolvido, e os imigrantes.

“Na RDA, nós tínhamos respostas simples para problemas difíceis. É isso que a AfD faz hoje”, afirma. “As pessoas passaram a achar que os refugiados e imigrantes é que fazem as suas vidas mais difíceis.”