Flávio Málaga, sócio da Málaga: “Retomada do mercado de capitais será entre 18 e 24 meses, e depende da queda da Selic”

Uma image de notas de 20 reais
Doutor pela USP, aposta é para a Selic cair no segundo semestre de 2026
(Divulgação)
  • Sobre empresas do comércio, economista entende que o valor do papeis não está barato. “Os papéis do varejo chegaram a um preço justo. Não vale um investimento cego"
  • Para Malaga, a retomada do mercado de capitais brasileiro pode demorar até 24 meses e pode não baixar tão cedo se a Selic não sair.
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DC NEWS]. Entre 2 de janeiro e 30 de dezembro de 2024, o Ibovespa, principal índice da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), registrou uma queda de aproximadamente 9,4%. No primeiro pregão do ano, em 2 de janeiro, o índice fechou em 132.697 pontos. Já no último pregão, em 30 de dezembro, encerrou em 120.283,40 pontos. O resultado foi extremamente negativo em comparação com 2023, quando o índice fechou em alta de 26% ao longo do ano. Segundo Flavio Málaga, sócio fundador da MÁLAGA Assessoria, professor do MBA Executivo e de Finanças do Insper, e doutor e mestre em administração com ênfase em finanças pela USP, a taxa básica de juros e a inflação seguirão afastando o investidor da bolsa em 2025. “Com a renda fixa a 14,25%, a bolsa não têm atratividade”, afirmou.

Para ele, a retomada do mercado de capitais ainda vai demorar. “Nos próximos 18 a 24 meses, é muito difícil vermos uma alteração no mercado de capitais, e isso depende majoritariamente da queda da Selic”, afirmou. Sobre a queda da taxa de juros gerenciada pelo Banco Central, a aposta de Málaga é que fique para o segundo semestre de 2026. “Isso se tudo estiver funcionando perfeitamente na economia.” O recado vale também para o varejo, que, segundo ele, não está com os papéis baratos e o investidor está mais conservador ao apostar no segmento. “Os papéis do varejo chegaram a um preço justo. Não vale um investimento cego.”

Confira a entrevista completa.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – O mercado de capitais brasileiro vem enfrentando um momento desafiador. Você acha que esse cenário deve persistir?
Flávio Málaga –
Sim, eu acho que esse momento deve continuar por um tempo. A gente tem visto um ambiente macroeconômico muito desafiador, com juros altos e um mercado de capitais que não tem dado muita condição para novas ofertas. Isso se reflete em menos captações e menos movimentação na bolsa.

AGÊNCIA DC NEWS – Esse momento desafiador está atrelado a alta da Selic? A bolsa perdeu sua atratividade?
Flávio Málaga
Se você pega pessoas com renda média, com alguma disponibilidade para investir, dificilmente vai conseguir convencer elas a comprar ações nesse momento. Porque, com a renda fixa, atrelada a Selic, em dois anos eu vou ganhar 30%.

AGÊNCIA DC NEWS – E quando a Selic vai voltar a cair?
Flávio Málaga
Eu acho que vai até o final do ano. A Selic está em 14,25%, com certeza deve bater 15% e pode chegar a 15,50%. Depois, precisa iniciar uma queda, porque senão o país não sustenta. Isso asfixia a economia real.

AGÊNCIA DC NEWS – Essa redução depende de quais fatores?
Flávio Málaga
De o governo entender que a economia está com febre. Se continuar injetando dinheiro via programas, pode se estender. Mas, se tudo correr bem, a queda pode começar no último trimestre do ano e seguir ao longo do ano que vem.

AGÊNCIA DC NEWS – E a retomada do mercado de capitais está atrelada a essa queda?
Flávio Málaga
Totalmente atrelada. Se eu tivesse que apostar, diria que essa retomada partiria do segundo semestre do próximo ano. Mas, de forma conservadora, eu diria que vai levar entre 18 e 24 meses para vermos uma mudança significativa.

AGÊNCIA DC NEWS – Diante desse contexto, as fintechs estão ganhando espaço com meios alternativos de captação de recursos. Essa tendência deve continuar?
Flávio Málaga
Sim, as fintechs têm ajudado a pensar em alternativas, e isso está acontecendo. Mas ainda é algo muito marginal, atingindo apenas uma camada pequena do mercado. Os grandes bancos ainda dominam o setor de forma significativa. As fintechs cumprem um papel importante ao tentar desenvolver soluções criativas, mas, no curto e médio prazo, não vão alterar a dinâmica do mercado de capitais.

AGÊNCIA DC NEWS – E abrir capital fora do Brasil? Pode ser uma alternativa?
Flávio Málaga
Depende. Se uma empresa não consegue abrir capital aqui, por que alguém lá fora compraria um título de uma empresa brasileira, cujos fluxos de caixa estão em reais? O investidor estrangeiro teria que lidar com o risco de desempenho em reais e em dólares.

AGÊNCIA DC NEWS – Os papéis do varejo brasileiro estão baratos?
Flávio Málaga
Olha, depende. Estão baratos em relação ao histórico? Sim. Agora, estão baratos porque a perspectiva é de melhora ou porque o mercado está precificando um risco muito grande? Essa é a questão. Hoje, tem muito papel que caiu porque o cenário macroeconômico está ruim. Os papéis do varejo chegaram a um preço justo. Não vale um investimento cego. Se você comprar agora e o cenário não melhorar, esses papéis podem continuar baratos por muito tempo. Então, tem que avaliar bem.


Voltar ao topo