[AGÊNCIA DC NEWS]. Entre 2 de janeiro e 30 de dezembro de 2024, o Ibovespa, principal índice da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), registrou uma queda de aproximadamente 9,4%. No primeiro pregão do ano, em 2 de janeiro, o índice fechou em 132.697 pontos. Já no último pregão, em 30 de dezembro, encerrou em 120.283,40 pontos. O resultado foi extremamente negativo em comparação com 2023, quando o índice fechou em alta de 26% ao longo do ano. Segundo Flavio Málaga, sócio fundador da MÁLAGA Assessoria, professor do MBA Executivo e de Finanças do Insper, e doutor e mestre em administração com ênfase em finanças pela USP, a taxa básica de juros e a inflação seguirão afastando o investidor da bolsa em 2025. “Com a renda fixa a 14,25%, a bolsa não têm atratividade”, afirmou.
Para ele, a retomada do mercado de capitais ainda vai demorar. “Nos próximos 18 a 24 meses, é muito difícil vermos uma alteração no mercado de capitais, e isso depende majoritariamente da queda da Selic”, afirmou. Sobre a queda da taxa de juros gerenciada pelo Banco Central, a aposta de Málaga é que fique para o segundo semestre de 2026. “Isso se tudo estiver funcionando perfeitamente na economia.” O recado vale também para o varejo, que, segundo ele, não está com os papéis baratos e o investidor está mais conservador ao apostar no segmento. “Os papéis do varejo chegaram a um preço justo. Não vale um investimento cego.”
Confira a entrevista completa.
AGÊNCIA DC NEWS – O mercado de capitais brasileiro vem enfrentando um momento desafiador. Você acha que esse cenário deve persistir?
Flávio Málaga – Sim, eu acho que esse momento deve continuar por um tempo. A gente tem visto um ambiente macroeconômico muito desafiador, com juros altos e um mercado de capitais que não tem dado muita condição para novas ofertas. Isso se reflete em menos captações e menos movimentação na bolsa.
AGÊNCIA DC NEWS – Esse momento desafiador está atrelado a alta da Selic? A bolsa perdeu sua atratividade?
Flávio Málaga – Se você pega pessoas com renda média, com alguma disponibilidade para investir, dificilmente vai conseguir convencer elas a comprar ações nesse momento. Porque, com a renda fixa, atrelada a Selic, em dois anos eu vou ganhar 30%.
AGÊNCIA DC NEWS – E quando a Selic vai voltar a cair?
Flávio Málaga – Eu acho que vai até o final do ano. A Selic está em 14,25%, com certeza deve bater 15% e pode chegar a 15,50%. Depois, precisa iniciar uma queda, porque senão o país não sustenta. Isso asfixia a economia real.
AGÊNCIA DC NEWS – Essa redução depende de quais fatores?
Flávio Málaga – De o governo entender que a economia está com febre. Se continuar injetando dinheiro via programas, pode se estender. Mas, se tudo correr bem, a queda pode começar no último trimestre do ano e seguir ao longo do ano que vem.
AGÊNCIA DC NEWS – E a retomada do mercado de capitais está atrelada a essa queda?
Flávio Málaga – Totalmente atrelada. Se eu tivesse que apostar, diria que essa retomada partiria do segundo semestre do próximo ano. Mas, de forma conservadora, eu diria que vai levar entre 18 e 24 meses para vermos uma mudança significativa.
AGÊNCIA DC NEWS – Diante desse contexto, as fintechs estão ganhando espaço com meios alternativos de captação de recursos. Essa tendência deve continuar?
Flávio Málaga – Sim, as fintechs têm ajudado a pensar em alternativas, e isso está acontecendo. Mas ainda é algo muito marginal, atingindo apenas uma camada pequena do mercado. Os grandes bancos ainda dominam o setor de forma significativa. As fintechs cumprem um papel importante ao tentar desenvolver soluções criativas, mas, no curto e médio prazo, não vão alterar a dinâmica do mercado de capitais.
AGÊNCIA DC NEWS – E abrir capital fora do Brasil? Pode ser uma alternativa?
Flávio Málaga – Depende. Se uma empresa não consegue abrir capital aqui, por que alguém lá fora compraria um título de uma empresa brasileira, cujos fluxos de caixa estão em reais? O investidor estrangeiro teria que lidar com o risco de desempenho em reais e em dólares.
AGÊNCIA DC NEWS – Os papéis do varejo brasileiro estão baratos?
Flávio Málaga – Olha, depende. Estão baratos em relação ao histórico? Sim. Agora, estão baratos porque a perspectiva é de melhora ou porque o mercado está precificando um risco muito grande? Essa é a questão. Hoje, tem muito papel que caiu porque o cenário macroeconômico está ruim. Os papéis do varejo chegaram a um preço justo. Não vale um investimento cego. Se você comprar agora e o cenário não melhorar, esses papéis podem continuar baratos por muito tempo. Então, tem que avaliar bem.