Segmento de franquias cresce 18,6% no primeiro trimestre. Queda do desemprego ajuda na performance

Uma image de notas de 20 reais
Inauguração em 2023 da loja Morana em Paracatu, cidade de Minas Gerais
Crédito: Divulgação/Morana
  • Nos primeiros três meses do ano, houve aumento de 4,3% no número de franquias abertas e um encerramento de 1,9%, resultando em saldo positivo de 2,4%
  • “Decidir ir para o sistema de franquias requer um estudo aprofundado. Não é uma corrida de 100 metros. É uma maratona”, disse Jae Ho Lee, fundador da Morana
Por Bruna Galati

O primeiro trimestre de 2024 foi próspero para o mercado de franquias. Em comparação com igual período de 2023, o faturamento do setor cresceu 18,6%, de R$ 51 bilhões para R$ 60,5 bilhões. Os dados são de pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) e mostram, também, que esse resultado foi impulsionado por fatores sazonais – dia adicional em fevereiro e a Páscoa – e pelo forte desempenho dos segmentos de alimentação (tanto comércio e distribuição, com faturamento de R$ 6,5 bilhões, como food service, R$ 9,8 bilhões) e de serviços e outros negócios (R$ 8,2 bilhões).

Segundo especialistas, o cenário macroeconômico do trimestre também foi importante para o desempenho do setor. A queda de 0,9 ponto porcentual na taxa de desemprego (7,9% no trimestre encerrado em março), o crescimento de 0,8% do PIB no período, a queda de 0,75 ponto percentual na taxa Selic e a inflação mais controlada estimularam uma maior disposição da população para o consumo. “A taxa expressiva de crescimento reflete também a fortaleza do setor, que continua sua jornada de expansão e busca por eficiência e novos modelos de negócio”, afirmou Tom Moreira Leite, presidente da ABF.

No período pesquisado houve um aumento de 4,3% no número de franquias abertas e um encerramento de 1,9%, resultando em um saldo positivo de 2,4%. No entanto, muitas empresas ainda têm dúvidas sobre o momento certo para se tornarem franquias e se devem fazer parte desse modelo de negócio. Decidir franquear é uma escolha estratégica que envolve avaliar a capacidade de replicar a operação, a disponibilidade de suporte aos franqueados e o alinhamento com a cultura da marca. 

Escolhas do Editor

Fundador da Morana – loja de acessórios femininos com trezentas lojas em operação –, Jae Ho Lee é, também, CEO do Grupo Ornatus, com mais de 30 anos de experiência em varejo e em gestão de franquias. Apenas as marcas Morana e Balonè, que também faz parte do grupo, faturaram R$ 312 milhões em 2023, com previsão de crescimento para 2024 de 10%. Segundo ele, são vários os fatores a serem analisados por uma empresa que pretende virar franquia. Um deles, é entender que nem todo modelo de negócio é adequado para esse formato. Um estudo de viabilidade deve ser realizado para avaliar essa adequação. “Decidir ir para o sistema de franquias requer um estudo aprofundado. Não é uma corrida de 100 metros. É uma maratona”, disse Lee. “A preparação é mais importante do que a execução.”

Ele observa que a cadeia de logística é um dos pilares que deve estar bem estruturado, pois qualquer erro nessa área pode comprometer a operação dos franqueados e a reputação da marca. O executivo exemplifica com produtos de luxo, que podem não ser ideais para o modelo de franquia. Nesse regime, o franqueado atua como um intermediário, o que costuma encarecer o produto. Lee aponta que aumentar o preço de um item de luxo, que já tende a ter um valor alto, pode causar queda nas vendas, tornando a estratégia não competitiva.

Jae Ho Lee, fundador da Morana
Crédito: Divulgação Morana

RECURSOS — Para ele, também é crucial estar atento à questão econômica. É preciso entender se os recursos disponíveis na empresa são suficientes para sustentar a operação da franqueadora, sem depender exclusivamente da expansão para pagar as contas. “Vejo muitos franqueadores pequenos que ficam desesperados para fechar contratos de franquia apenas para pagar as contas. Isso os torna reféns de decisões meramente monetárias” afirmou Lee.

Outro ponto a ser avaliado é se o fundador da empresa tem um perfil de franqueador. De acordo com Lee, a franquia é mais um canal de distribuição, mas não é tão simples. Afinal, haverá outros CNPJs cuidando da marca. “O franqueador precisa ter habilidade de liderança para direcionar o negócio e dar manutenção para a marca”, disse. O suporte deve incluir treinamento contínuo, assistência operacional e atualizações técnicas, para garantir que o franqueado tenha todas as ferramentas necessárias para operar e se reinventar à medida em que a rede cresce. “Se o franqueado quebrar na segunda-feira, nós quebramos na terça-feira”, afirmou Lee. Ele ressalta, ainda, que a ABF desempenha papel importante nesse sentido, oferecendo capacitações para franqueadores e franqueados e gerando encontros entre associados.

A confiança no franqueado também é importante para garantir que ele tenha liberdade de criar estratégias exclusivas para a sua loja, considerando que o marketing deve estar alinhado com as particularidades e preferências dos consumidores locais. Inclui-los no processo de gestão é uma estratégia para o sucesso das franquias, conforme destacou Jae Ho Lee. Os franqueados, com as suas experiências pessoais como empresários, devem ajudar a antecipar eventuais problemas e a identificar oportunidades.

Uma das grandes vantagens do sistema de franquias é a capilaridade que ele proporciona ao negócio. A franquia permite que uma empresa alcance mercados que seriam inacessíveis se operasse apenas com unidades próprias e faz com que a marca fique conhecida. Como exemplo, Lee cita sua própria empresa, a Morana, que está presente em pequenas cidades.

Uma delas é Sant’Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com o Uruguai. Com cerca de 76 mil habitantes, o município gaúcho não estaria nos planos de expansão de Lee, se a operação fosse exclusivamente própria. Abrir uma loja em lugares distantes da sede tende a ser mais dispendioso e desafiador, mas ter um parceiro local pode reduzir esses problemas. “Em cidades pequenas, onde todo mundo conhece todo mundo, a abertura de uma loja por alguém local gera uma recepção mais calorosa e uma performance superior, em comparação à uma operação própria”, afirmou.

Voltar ao topo