Fraudes no Banco Panamericano quase levaram Silvio Santos a perder SBT

Uma image de notas de 20 reais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia 22 de setembro de 2010, o apresentador Silvio Santos foi ao Palácio do Planalto para uma reunião fora da agenda com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na saída do encontro, disse a jornalistas ter pedido uma doação de R$ 12 mil para o programa “Teleton”, uma maratona televisiva com o objetivo de arrecadar dinheiro para assistência de crianças.

O problema do apresentador, no entanto, era bem maior.

Em dezembro de 2009, a Caixa Econômica Federal havia anunciado a compra de 49,5% do capital votante do banco Panamericano, braço financeiro do Grupo Silvio Santos, por R$ 739,3 milhões.

O Panamericano (atual Banco Pan) vinha crescendo em ritmo acelerado até a quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro daquele ano, e passou a ter dificuldades para captar recursos no mercado. Para não quebrar, a instituição precisava de uma injeção de dinheiro, o que foi resolvido com a venda de parte das ações para a Caixa.

No final de 2010, o Banco Central apontou novo problema nas contas do Panamericano: um rombo de R$ 2,5 bilhões. Sem essa capitalização, a instituição, que agora tinha um banco estatal como sócio, seria liquidada.

A inconsistência contábil no balanço do Panamericano foi encontrada em uma fiscalização de rotina do BC. A instituição descobriu que o banco continuava contabilizando créditos já vendidos para outras instituições financeiras e as receitas geradas por eles. A Caixa disse que não se responsabilizaria.

Investigou-se a possibilidade de uma fraude, que teria passado despercebida pelo crivo de auditores internos e externos e do próprio BC, que havia aprovado o negócio com a Caixa.

Na reunião no Planalto, Lula não havia mostrado simpatia pela ideia de oferecer ajuda oficial. Silvio voltou a procurar o presidente para abordar o tema, mas não foi atendido.

O rombo no banco foi coberto com dinheiro emprestado do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), um colchão de recursos administrados por um conjunto de bancos para cobrir perdas dos correntistas em caso de quebra de instituições financeiras.

Para obter o dinheiro, o apresentador deu seus bens como garantia, incluindo o SBT e o Baú da Felicidade.

A diretoria antiga, que incluía familiares do apresentador, foi demitida. O banco sofreu uma “intervenção branca” e passou a ser administrado por executivos indicados pela Caixa e pelo BC.

O apresentador de TV chegou a dizer que faria o que fosse preciso para pagar o empréstimo que precisou contrair para se livrar de problemas no banco. Inclusive vender algumas de suas empresas e até sua participação no banco.

Em janeiro de 2011, houve uma nova reviravolta no caso. O apresentador assinou a venda de sua parte no banco para o BTG Pactual, que tornou-se sócio da Caixa no negócio. Como parte do acerto, Silvio conseguiu a liberação das garantias dadas pelo grupo. Em 2021, a Caixa vendeu sua participação no Pan para o banco privado.

A Polícia Federal abriu uma investigação que apurou os crimes envolvendo o Panamericano, resultando no indiciamento de 22 pessoas, por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, “caixa dois” e crimes financeiros.

Em 2017, foi deflagrada a operação Conclave, para apurar suspeitas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro na transação que foi aprovada pelo Banco Central e lesou a Caixa. Em 2020, nove pessoas foram indiciadas pela PF, incluindo ex-executivos do Panamericano e da Caixa.

O apresentador sempre negou ter conhecimento sobre as irregularidades.