González diz ter sido coagido a assinar carta em que teria acatado vitória de Maduro

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 – Dez dias depois de Edmundo González desembarcar na Espanha para pedir asilo político, o regime da Venezuela divulgou nesta quarta-feira (18) uma carta em que o opositor informa às autoridades sobre a decisão de deixar o país e também se compromete a acatar a sentença que confirmou a reeleição do ditador Nicolás Maduro. Após o documento vir a público, o ex-diplomata disse ter sido coagido a assiná-lo.

A carta é assinada por González e pelo líder da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, que a exibiu durante uma entrevista coletiva em Caracas.

“Sempre estive e continuarei disposto a reconhecer e a cumprir as decisões adotadas pelos órgãos judiciais no âmbito da Constituição, incluindo o referido acórdão da Câmara Eleitoral (do Supremo Tribunal de Justiça), que embora eu não compartilho, eu cumpro porque se trata de uma resolução do mais alto tribunal da República”, diz trecho da carta, que ainda firmava um compromisso de sigilo entre as partes.

Analistas afirmam que a divulgação do documento tenta dar credibilidade ao regime após a contestada eleição em julho, no qual Maduro foi declarado vencedor a despeito de as autoridades eleitorais, alinhadas ao chavismo, não terem disponibilizado as atas de votação, semelhantes aos boletins de urnas no Brasil.

Em um primeiro momento, José Vicente Haro, o advogado de González, afirmou que a carta havia sido forjada. Horas depois, no entanto, o ex-diplomata divulgou um vídeo no qual reconhece a autenticidade do documento. Também diz ter sido coagido e que, portanto, o texto é “viciado de nulidade absoluta”.

“Enquanto estavam na residência do embaixador espanhol, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente da República, Delcy Rodríguez, apresentaram-se com um documento em que eu teria de endossar para permitir a minha saída do país, “, disse González. “Em outras palavras: eu assinava ou enfrentava as consequências.”

“Considerei que poderia ser mais útil, livre do que preso e incapaz de cumprir as tarefas que me foram confiadas pelo soberano [Nicolás Maduro]”, continuou.

González ficou um mês escondido antes de pedir asilo à Espanha, poucos dias após a Justiça venezuelana emitir uma ordem de prisão contra ele. O ex-diplomata é acusado de desobediência das leis, falsificação de documentos públicos, conspiração, usurpação de funções e sabotagem. Em teoria, os crimes podem resultar na pena máxima de 30 anos de reclusão.

O opositor chegou a Madri em um avião da força aérea espanhola no último dia 8. Em áudio divulgado por seus assessores, afirmou que pretendia continuar lutando pela recuperação da democracia e pela liberdade dos venezuelanos a partir do exílio.

Mas no documento divulgado pelo regime, o tom é outro. González manifesta a intenção de deixar a Venezuela “para consolidar a pacificação e o diálogo político”. Também se compromete a ter atividade pública limitada. “Não pretendo em nenhum caso exercer qualquer representação formal ou informal de poderes públicos”, diz ele.

Em entrevista à Folha, o advogado Vicente Haro já havia dito que a negociação para obter o salvo-conduto do regime para ir à Espanha envolveu chantagens às quais González não sucumbiu. “Exigiram que aceitasse a decisão do Tribunal Supremo de Justiça que diz que Maduro ganhou as eleições e que se retirasse da política; sentiram que tinham vantagem no momento”, disse ele.

Já a líder da oposição, María Corina Machado, afirmou que a saída do candidato foi necessária para “preservar sua liberdade e sua vida”, em meio a uma “brutal onda de repressão”. Atualmente, 1.800 pessoas estão detidas por razões políticas na Venezuela, segundo a ONG Foro Penal.

“O regime quer que todos os venezuelanos percam a esperança”, disse González no vídeo. “O mundo inteiro sabe que eles sempre recorrem ao crime, à chantagem e à manipulação”.

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