BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Articuladores do presidente Lula (PT) têm traçado duas ações estratégicas após a instalação de tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro (PL): evitar a vitimização do ex-presidente e impedir que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos, herde seu capital político.
Integrantes do governo avaliam que Bolsonaro teve o futuro político abalado pela operação da Polícia Federal realizada na sexta-feira (18). As autoridades encontraram dinheiro vivo em sua casa, inclusive dólares, e o ex-presidente não pode usar redes sociais.
A tática é não deixar Tarcísio se descolar de fatos que desabonam seu padrinho político, aliada a um movimento que impeça a comoção pró-Bolsonaro junto à opinião pública.
Interlocutores de Lula minimizam essa última possibilidade sob o argumento de que as manifestações do ex-presidente não sensibilizam eleitores do centro, que serão decisivos na próxima eleição.
Além disso, a proibição pelo governo americano da entrada de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) nos EUA atrapalharia o discurso de vitimização bolsonarista. A medida mostraria que o ex-presidente brasileiro tem o apoio de uma potência estrangeira.
Bolsonaro foi alvo de busca e apreensão por ordem do ministro Alexandre de Moraes. A polícia encontrou US$ 14 mil na casa do ex-presidente e instalou uma tornozeleira eletrônica para monitorar os passos do político. Bolsonaro não pode sair de casa entre as 19h da noite e às 7h.
Os dólares encontrados, por exemplo, deverão ser frequentemente mencionados por governistas como indício de que o ex-presidente planejava fugir para os Estados Unidos –o que Bolsonaro nega.
No caso de Tarcísio, uma das possíveis formas de agir foi exemplificada ainda na sexta-feira pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Ela respondeu a fala do governador de São Paulo ligando-o ao tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, medida rejeitada pela maioria do eleitorado do país.
“Não tem autoridade para falar em pacificação quem, como o governador Tarcísio, defendeu a guerra tarifária, as sanções e ataques de Donald Trump contra o Brasil, resultantes da conspiração de Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro e seus cúmplices nos EUA”, escreveu Gleisi em seu perfil no X.
Governistas ouvidos pela Folha admitiram que o momento da operação contra Bolsonaro foi ruim para o Planalto porque mudou o tema do debate público, que estava favorável a Lula. Pesquisas têm registrado recuperação de popularidade do petista com discursos sobre justiça tributária e soberania nacional.
Esses mesmos integrantes do governo também mencionaram, porém, que alguma medida desse tipo contra Bolsonaro aconteceria mais cedo ou mais tarde.
O tempo do Judiciário é diferente do tempo da política, justificam. E a reação do governo Trump permite que, mais uma vez, o governo abrace o discurso da soberania nacional.
Além de desgastar Tarcísio, governistas querem observar os próximos passos tanto do clã Bolsonaro quanto de Donald Trump. Há uma avaliação, por exemplo, de que declarações de Trump ou do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) trarão à tona o debate sobre soberania -apesar das ameaças reais à economia brasileira.
No início do mês, quando anunciou sobretaxa de 50% para produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, Donald Trump associou a medida ao que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Isso fez com que o governo brasileiro repetisse que o bolsonarismo conspira contra o Brasil e sua economia.
Outro exemplo citado à reportagem como possível ganho político do governo foi o de empresários que apoiaram Bolsonaro e querem Tarcísio como presidente, mas exportam para o mercado americano. Esse grupo político e econômico precisará recorrer à gestão Lula para tentar contornar as tarifas, o que dá ao presidente da República a chance de se aproximar do PIB.
Na sexta-feira, o Palácio do Planalto recomendou que ministros não explorassem a operação da Polícia Federal para atacar Bolsonaro. A cúpula do governo receava que manifestações de ministros importantes soassem como perseguição do Executivo ao ex-presidente.
Ao longo daquele dia, o recado foi sutilmente passado pelo próprio presidente da República. Lula discursou em público e não mencionou o caso. No mundo político, isso foi entendido como uma ordem para os demais integrantes do governo fazerem o mesmo.
Paralelamente a isso, o PT, partido de Lula, tenta manter em alta os temas que favorecem a popularidade do presidente da República. A cúpula da legenda quer que seus filiados foquem debates sobre justiça tributária e soberania nacional. “Bolsonaro é problema do Ministério Público e do Judiciário”, disse o presidente eleito do partido, Edinho Silva.