O potencial da inteligência artificial é gigante, podendo se tornar um negócio de quase US$ 530 bilhões até 2028, em escala mundial. Se consideramos apenas o varejo, o mercado global de soluções de IA para o setor pode chegar a US$ 31 bilhões no mesmo período, com um crescimento de 190% em quatro anos. Hoje, esse montante gira em torno de US$ 10,7 bilhões, segundo o Statista, plataforma alemã especializada em coleta de dados. Uma das maiores consultorias em tecnologia do mundo, a Gartner, elenca as melhores aplicações dessa tecnologia para os varejistas, analisando valor agregado e facilidade de implementação.
Companhias de tecnologia como Nvidia e Semantix falaram à DC NEWS sobre as tendências para startups do segmento. Entre os destaques, estão aplicações como as de upselling (aumentar em valor ou quantidade a oferta disponibilizada ao cliente), sugestões de pedidos para clientes, personalização, atendimento, entre diversas outras possibilidades. São identificadas como sendo de baixo ou médio valor agregado, ou de difícil implementação, as aplicações que ainda dependam do olhar humano, como a criação de produtos, ou que exijam confiabilidade, como a precificação em tempo real.
TENDÊNCIAS – A Nvidia, principal fabricante de hardware e software para aplicações de IA, atua justamente nesse campo. Jomar Silva, gerente de Relacionamento com Desenvolvedores da Nvidia para a América Latina, destaca que as tendências tecnológicas, especialmente o uso de inteligência artificial, estão transformando o setor de varejo. Segundo ele, muito desse movimento ocorre por meio da reestruturação da experiência do consumidor dentro das lojas, contribuindo para a criação de um ambiente mais personalizado. “A hiperpersonalização do atendimento, com chatbots que registram o histórico de interações e compras, é cada vez mais presente, tanto em lojas físicas quanto em canais digitais”, afirmou.
O executivo ressalta, ainda, que outras soluções também visam transformar a experiência do consumidor. Entre elas, estão os provadores virtuais, que permitem ao cliente ver o caimento real de roupas com volumetria, e o uso de IA para monitoramento de comportamento dentro das lojas físicas, gerando insights sobre preferências e interações com os produtos. “Essas inovações vão acelerar e transformar o consumo, tornando-o mais eficiente e consciente”, disse Jomar Silva.
DIGITAL – Leonardo Santos, cofundador da Semantix, observa que a inteligência artificial no setor de consumo está mudando constantemente. Foi de um modelo somente físico para um digital, e agora para um híbrido, no qual a IA vai desempenhar um papel central. Em concordância com Silva, da Nvidia, Santos diz que o conceito de omnichannel está se expandindo para uma nova era, na qual a inteligência artificial possibilita uma personalização avançada da experiência. “Um exemplo é o Google, com o uso de IA para planejar viagens, oferecendo sugestões baseadas no comportamento e histórico do usuário”, afirmou. “Antes, era impensável fazer isso fora de agências de turismo especializadas.”
Ele também menciona o uso de cardápios dinâmicos no setor de fast food, como no iFood, que personalizam as opções de acordo com o perfil do cliente. “A hiperpersonalização é o futuro do consumo”, disse. Para Santos, o diferencial competitivo será alcançado com a utilização de dados locais e aplicações regionais, já que grandes empresas de IA globais não têm acesso a certas informações regionais devido às regulamentações. Para empresas de tecnologia brasileiras que querem oferecer soluções eficazes para o varejo, a dica é que os dados são a matéria-prima fundamental. “Conhecer o comportamento do seu consumidor é a chave para combater a concorrência”, disse. “E isso só é possível a partir de dados.”
INVESTIMENTOS – O Brasil acaba de ganhar um aliado para o desenvolvimento financeiro desse universo. Recentemente, a gestora de recursos Reag, que tem sob sua gestão e/ou administração mais de R$ 200 bilhões, lançou uma plataforma que visa conectar investidores de venture capital a startups de inteligência artificial de alto potencial, em estágio inicial de maturidade. Segundo Leonardo Santos, que também é sócio da Reag Growth & Ventures, o varejo será o segundo segmento mais beneficiado pela tecnologia de IA. Em primeiro lugar, estão as empresas de finanças e fintechs. Em terceiro, as de saúde. Já são mais de 400 startups mapeadas, com potencial para serem conectadas a fundos e outros players de venture capital.