A divulgação nesta sexta-feira (9) do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação no país, passou a realimentar especulações sobre o rumo da taxa básica de juros, a Selic. Alguns analistas passaram a considerar a possibilidade de mudança da estratégia do Comitê de Política Monetária (Copom) em relação aos juros, que neste momento é de manutenção. A possibilidade de correção de rota foi admitida pelo próprio Copom, que na ata divulgada nesta semana alertou que “não hesitará” em aumentar a taxa caso considere necessário. Segundo o IBGE, o IPCA acumulado em 12 meses subiu pelo terceiro mês seguido e bateu no teto da meta (4,5%, ante 4,23% no período imediatamente anterior). O Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve para 2025 a meta de inflação em 3% ao ano, com intervalo de 1,5 ponto porcentual, para cima ou para baixo (de 1,5% a 4,5%).
Antes do alarme, há no entanto alguns fatores a considerar. O índice de julho (0,38%, acima do esperado) ficou concentrado no grupo Transportes, que subiu 1,82% e representou 0,37 ponto na taxa total. Ou seja, praticamente todo o resultado do mês. De acordo com o IBGE, isso aconteceu pelo aumento (de 19,39%) das passagens aéreas, influenciado pelo período de férias. As mesmas passagens áreas, item sujeito a oscilações sazonais, acumulam queda de 31,08% no ano e sobem 10,79% em 12 meses.
Mas houve dois outros fatores de pressão. Um foi a energia elétrica residencial (1,93%), porque em julho passou a vigorar a bandeira tarifária amarela, provocando aumento de tarifas. Entre as 16 localidades pesquisadas mensalmente pelo instituto, há grandes grandes variações regionais: de 0,05% (Fortaleza) a 3,88% (Curitiba), passando por 0,98% na Região Metropolitana de São Paulo. Outro item que influenciou o IPCA foi a gasolina: 3,15% em julho, 8,83% no ano e 9,27% em 12 meses.
Em outra ponta, o grupo Alimentação teve queda de 1% no mês passado, com -0,22 ponto no índice geral. Produtos como batata, cebola, cenoura, frutas e tomate caíram de preço em julho, mas alguns têm alta forte em 12 meses – casos da batata (62,11%) e da cebola (58,04%). Apenas a alimentação no domicílio caiu 1,51% no mês, “após nove meses consecutivos de alta”, disse o gerente do IPCA, André Almeida, em relatório do IBGE sobre a divulgação dos resultados. Outra informação positiva ligada à alimentação: o Dieese informou nesta semana que os preços da cesta básica caíram nas 17 capitais pesquisadas.
DIFUSÃO – Um dado que pode aplacar as preocupações está no chamado índice de difusão, que mostra os itens em alta entre os que compõem o IPCA. No mês de julho, o índice foi de 47%, o menor do ano e praticamente no mesmo patamar de um ano atrás (46%). Em janeiro, estava em 65%. Cai para 39% entre os itens alimentícios e sobe a 53% entre os não alimentícios. Mas o sinal amarelo volta a acender quando se vê que a inflação de serviços saltou de 0,04%, em junho, para 0,75% no mês passado. Fazem parte desse grupo, além das passagens aéreas, itens como aluguel/condomínio, seguro de carro e serviços de streaming. Com isso, a inflação de serviços soma 5,01% no acumulado em 12 meses.
E os olhares se voltam para o Copom, que voltará a se reunir apenas em 17 e 18 de setembro. Nos dois últimos encontros, a Selic foi mantida em 10,50% ao ano, interrompendo uma sequência de sete cortes. “A menor sensibilidade do componente continua sendo um desafio posto para o Banco Central, que vê a desinflação reduzir a sua trajetória de convergência em direção a meta, enquanto a economia se mostra aquecida, com um mercado de trabalho dinâmico e maior rendimento real médio”, afirmou o economista José Alfaix, da Rio Bravo Investimentos.
Os especialistas consideram que essa elevação da inflação pode trazer desafios para o cenário econômico, pressionando o Banco Central a reconsiderar a política monetária, sobretudo em relação à taxa Selic. “Com a inflação no teto da meta, o espaço para cortes na taxa de juros pode se tornar mais restrito, impactando tanto os consumidores quanto os investidores”, disse o CEO da Smart House Investimentos, André Colares.