SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro comício do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo, ao lado do presidente Lula (PT), seu principal cabo eleitoral, teve como foco críticas ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao influenciador Pablo Marçal (PRTB) e a defesa da periferia como prioridade numa eventual gestão do psolista.
Boulos, Nunes e Marçal estão tecnicamente empatados na liderança das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha.
Também foram exploradas as experiências anteriores do PT à frente da prefeitura, especialmente com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), que chegou à vice na chapa de Boulos com costura de Lula.
O evento ocorreu em uma praça do Campo Limpo, bairro da zona sul da cidade, onde o psolista mora.
“Não pode olhar a raposa e achar que vai tomar conta do nosso galinheiro”, disse o presidente. “Estou vendo a campanha agora e algumas pessoas dizendo ‘vote em mim que eu não sou da política’. Eu quero votar no Boulos porque ele é da política, ele tem partido. Quem tem partido tem compromisso.”
Lula afirmou que está em jogo hoje no país a sobrevivência da democracia.
O petista disse que tem “muito orgulho” de, pela primeira vez, pedir voto em São Paulo para um candidato que não é do PT, e que isso só é possível quando se pensa no interesse da maioria.
“Estamos juntando a energia de um jovem de 42 anos com a experiência da mais bem-sucedida administração da cidade de SP, da Marta Suplicy”, afirmou, em referência ao lema da campanha, “coragem e experiência”.
Boulos afirmou que não vai deixar “um prefeito incompetente como Ricardo Nunes” continuar na prefeitura, nem “um bandido como Pablo Marçal” chegar ao cargo.
“Eles podem vir com a mentira deles, com a baixaria deles, o dinheiro sujo deles, que ninguém vai segurar o desejo de mudança na cidade de São Paulo.”
Boulos afirmou que “do lado de lá” há dois candidatos “que representam o pior da política brasileira, o bolsonarismo”.
Seguindo estratégia da campanha de apostar na polarização política no campo nacional, completou: “Do lado de cá, a gente tem o time do melhor presidente da história”.
O psolista disse que um dos candidatos trata a periferia de forma diferente do bairro nobre, em referência a Nunes e seu vice, o ex-Rota Ricardo Mello Araújo (PL), que já defendeu tratamento diferenciado em abordagens policiais em entrevista no passado.
Em referência a Marçal, condenado por furto qualificado em 2005, Boulos afirmou que outro candidato “ganhou a vida dando golpe bancário em aposentado”.
O deputado também dedicou seu discurso para prometer que a periferia será o foco de sua gestão porque ele conhece de perto os problemas da região.
“Quando a gente sente uma dor, vive um problema, a gente assume um compromisso mais forte com a solução desse problema. Uma coisa é ouvir falar, ver uma planilha, outra é viver.”
Boulos disse que o problema da cidade é falta de prefeito e prometeu fazer o maior programa de moradia e regularização fundiária da cidade de São Paulo.
O candidato fez menções ao legado na periferia das gestões do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e das ex-prefeitas Luiza Erundina (PSOL) e Marta Suplicy (PT). Boulos citou uma série de programas da gestão Marta, como os CEUs e o bilhete único. “A gente tem história nessa cidade, e essa história que vai ser continuada no ano que vem”, disse.
Em sua fala, Marta Suplicy citou o lema da campanha “coragem e experiência”, afirmando que Boulos conta com as duas virtudes. “Um homem que a vida toda lutou pelos abandonados. Você não está votando num fake news, está votando numa pessoa de verdade, que fez coisas pela cidade.”
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que é preciso ter cuidado na disputa municipal para não cair em “arapucas” dos que “só sabem fazer política pela agressividade”, em aparente referência a Marçal, criticado pelos adversários pela postura que tem assumido nos debates e nas redes.
Marina disse ainda que no passado recente já se caiu na mesma arapuca, mas que se aprendeu a caminhar e enfrentar esse tipo de pessoa, debatendo propostas.
O ato conjunto na zona sul de São Paulo é o primeiro desde que a campanha oficial teve início, no último dia 16.
Boulos e Lula foram condenados pela Justiça Eleitoral, em junho, por propaganda eleitoral antecipada, em virtude do pedido de voto no deputado feito pelo presidente durante evento do 1º de Maio na capital. O juiz impôs multas como pena, e ambos entraram com recurso.
“Ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições”, disse o petista na ocasião. “Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018… 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”, continuou.
Lula se engaja de maneira inédita na eleição paulistana, na primeira disputa pelo comando da capital desde a redemocratização, em 1985, que não tem o PT na cabeça de uma das chapas. O petista vê o pleito em São Paulo como fundamental para barrar o avanço do campo político de Jair Bolsonaro (PL), hoje dividido entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal.
O fato de que seu soldado na arena paulistana é alguém de fora do PT é resultado de uma articulação iniciada pelo próprio Lula em 2022. Para convencer Boulos a desistir de concorrer ao governo estadual e abraçar Fernando Haddad (PT), o hoje presidente prometeu apoiá-lo na disputa municipal dali a dois anos.