Mais jovem gestora financeira do Brasil, Verônica Pimentel, 28, da Oryx, aposta na crescente indústria de ETFs

Uma image de notas de 20 reais
Empresa investe em IA para alcançar consumidor final ainda em 2025
(Divulgação)
  • "Existe um tabu de todos os lados, para ser sincera. O tabu está na minha idade, o tabu está no fato de eu ser mulher"
  • "Eles acham sempre que a figura feminina é uma pessoa brava ou histérica, é uma coisa clássica que acontece no mercado financeiro"
Por Anna Scudeller

[AGÊNCIA DC NEWS]. O mercado de ETFs (Exchange-Traded Fund) é trilionário. De acordo com uma pesquisa recém-saída do forno da PwC, ETFs 2029: The Path to $30 trillion, esses ativos cresceram globalmente 27% em 2024, atingindo US$ 14,6 trilhões, e apresentam potencial para chegar aos US$ 30 trilhões em 2029. Nas previsões menos otimistas, chegará a US$ 26 trilhões. Por aqui, as ETFs ainda engatinham e representam apenas 1% da indústria global. O produto costuma ser destinado a investidores menos agressivos, já que acompanham os diversos índices – por isso são também conhecidos como fundos de índices ou fundos listados. Esse cenário de potencial explosão de crescimento, não por acaso, chamou a atenção da paulista Verônica Pimentel, que há dois anos cofundou a Oryx Capital. Aos 28 anos, Verônica é a mais jovem brasileira a abrir uma gestora financeira registrada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Seu objetivo é fazer com que cada vez mais brasileiros invistam em produtos como o seu ETF de renda fixa americana, lançado na bolsa brasileira no final de 2024.

Em dezembro, a CEO Verônica comemorou a chegada de um aporte de US$ 19 milhões que a sua Oryx Capital recebeu da Nebula Ventures. Esse montante vai ajudar a acelerar os planos de crescimento e a atingir o break-even (ponto de equilíbrio), previsto para 2028, quando a meta é ter sob custódia na carteira de crédito R$ 2,7 bilhões. Em entrevista à Agência DC NEWS, Verônica afirmou que o caminho não foi fácil. “Não teve nada que me parou até aqui, e não vai ter nada agora também”. Confira a entrevista.

AGÊNCIA DC NEWS – Como surgiu a ideia da Oryx Capital?
Verônica Pimentel –
Foi uma construção. Estava cursando economia e, infelizmente ou felizmente, não tive apoio da minha família. Comecei a estagiar desde o primeiro ano de faculdade, o que foi muito bom para mim. No meu último ano, tive oportunidade de ser vice-presidente de sales e tradingem uma corretora em Londres. Foi lá que eu percebi que o mercado financeiro era muito maior do que eu via no Brasil.

AGÊNCIA DC NEWS – Em que sentido?
Verônica Pimentel –
No Brasil, as oportunidades de investimento são limitadas, porque estão reduzidas a investimentos em real. É difícil daqui investir em dólar, e todos os investimentos globais são em dólar. Comecei a perceber essa dinâmica enquanto estava em uma empresa europeia especializada em ETF. 

AGÊNCIA DC NEWS – E isso te interessou…
Verônica Pimentel –
Sim. Comecei a estudar o mercado brasileiro de ETF em si e percebi que no Brasil ele era ainda mais limitado. Na época, tinha por volta de dez ETFs ante os 100 de atualmente. Vi muita oportunidade nisso, porque é um investimento inserido na bolsa brasileira, mas dentro dele é um fundo, e você pode colocar investimentos do exterior. Decidi ir para Harvard Business School para ter minha educação executiva, dando um passo para trás para não abraçar o mundo de uma vez. E então percebi que queria abrir a Oryx Capital.

AGÊNCIA DC NEWS – Você estruturou a empresa em Harvard?
Verônica Pimentel –
Esperei um pouco, fui estudar, montar o business planda empresa, lá com meus professores, conversar com pessoas da área… Fui juntando as pecinhas uma por uma, aprendendo como funcionava a regulação para a gestora de ativo, o que eu precisava para montar uma ETF no Brasil da minha própria empresa…

AGÊNCIA DC NEWS – Segundo a Anbima, você é a empreendedora mais jovem a abrir uma gestora de ativos. Você sente algum tabu em relação à sua idade?
Verônica Pimentel –
Existe tabu de todos os lados, para ser sincera. O tabu está na minha idade, o tabu está no fato de eu ser mulher. Existem vários tabus aí. Mas estou feliz porque tenho visto mais pessoas novas no mercado financeiro. 

AGÊNCIA DC NEWS – Na sua visão, a presença feminina tem melhorado também?
Verônica Pimentel –
Sim. Quando eu trabalhava no mercado brasileiro, antes de morar no exterior e começar a trabalhar em Londres, eu atuava na mesa de operações. Eu e mais uma mulher entre 20 homens dentro da mesa de operações. E sempre foi muito difícil. Por se tratar de um boys club, eles sempre fecham o negócio entre eles. 

AGÊNCIA DC NEWS – Por quais motivos você acredita que isso acontece?
Verônica Pimentel –
Eles acham sempre que a figura feminina é uma pessoa brava ou histérica, algo clássico do mercado financeiro. 

AGÊNCIA DC NEWS – Ainda hoje existe isso?
Verônica Pimentel –
Sim, ainda existe, mas em menor intensidade. Estamos quebrando essa barreira, aumentando o número de mulheres. Fico muito feliz por isso e estou aqui levantando a bandeira das mulheres no mercado financeiro. Gostaria de participar mais de grupos para fazer com que aumente a presença feminina. Não teve nada que me parou e não vai ter nada agora também.

AGÊNCIA DC NEWS – E quantas mulheres estão no time da Oryx hoje em dia?
Verônica Pimentel –
Dos nove colaboradores da Oryx Capital, apenas três são mulheres. Quero que seja diferente e estamos focados nisso, mas quando abro uma vaga, 98% dos currículos que recebo são de homens.

AGÊNCIA DC NEWS – Falando da operação, a empresa nasceu com forte foco na intermediação de investimentos para os Estados Unidos. O foco continua o mesmo?
Verônica Pimentel –
Nosso primeiro produto é um ETF de renda fixa americana. E isso não muda. O objetivo agora é que o foco seja cada vez mais no consumidor final. Não apenas trazer produtos internacionais para a carteira dele, que é essencial, mas também educar o investidor brasileiro, ou o potencial investidor brasileiro.

AGÊNCIA DC NEWS – Com a Selic em alta, os ativos de renda fixa apresentaram bom desempenho em 2024, devendo seguir assim ao longo deste ano. Quanto a renda fixa representa do negócio?
Verônica Pimentel –
Somos uma empresa conservadora. Buscamos sempre aconselhar nossos clientes a investir a maior parte do portfólio em renda fixa. Diria que até 80% estão em renda fixa. Mas há várias vertentes, como renda fixa nos Estados Unidos, que é importante porque, por mais que a renda fixa no Brasil vá bem, o real ainda está desvalorizado.

AGÊNCIA DC NEWS – Quanto a empresa tem sob custódia atualmente?
Verônica Pimentel –
Desde que registramos nosso primeiro ETF, há cinco meses, temos um fundo de US$ 15 milhões.

AGÊNCIA DC NEWS – Para quando imaginam o break-even?
Verônica Pimentel –
Foi estipulado que ele viria de três a quatro anos depois do primeiro produto e o listamos no ano passado. Foi um marco para a empresa.

AGÊNCIA DC NEWS – No final de 2024, vocês receberam um investimento de US$ 19 milhões. Qual será o destino desse aporte?
Verônica Pimentel –
O destino é o contato com o cliente. O mercado brasileiro é muito pequeno ainda. Grandes players, mas poucos. E todos os clientes estão em alguns players, basicamente. É muito difícil porque eles dominam a distribuição, e acabam cobrando um valor que não acreditamos ser justo para o cliente final. Para 2025, pretendemos utilizar nossos recursos para ter esse contato com o cliente final, para montar a nossa distribuição. Assim, podemos não precisar cobrar mais para atingir o cliente.

AGÊNCIA DC NEWS – E como a Oryx Capital tem usado a tecnologia nos negócios? Vocês têm usado a inteligência artificial em alguma das etapas?
Verônica Pimentel –
Adoro essa pergunta. Tenho 28 anos e somos uma empresa nova. Somos muito voltados para a tecnologia. Utilizamos IA em tudo, em tudo que é pesquisa. E estamos educando o nosso agente autônomo. Vamos ainda colocar (IA) no aplicativo que estamos desenvolvendo para o consumidor final, para conversar com o investidor. Claro que teremos ainda o contato humano, caso o investidor queira conversar com o assessor dele.

AGÊNCIA DC NEWS – Sobre as ETFs, como vocês têm escolhido a carteira?
Verônica Pimentel –
É bem desafiador escolher um investimento para concorrer no mercado brasileiro por causa dessa Selic alta. Para fazer sentido, precisa ser um produto que tenha uma rentabilidade melhor ou algo a mais para oferecer. Por esse motivo, a dolarização é uma oportunidade para a gente, tendo em vista que o real vem desvalorizando e o dólar vem aumentando de preço. Nos ajuda também a trazer produtos mais rentáveis para o mercado brasileiro. 

AGÊNCIA DC NEWS – Sempre olhando os dois mercados…
Verônica Pimentel –
Buscamos sempre fazer essa comparação. Quando estamos escolhendo um produto novo, procuramos ver os itens brasileiros, a rentabilidade deles, quais as oportunidades no mercado local. Então comparamos com o que podemos oferecer no mercado internacional que bata ou seja melhor ao disponível no mercado brasileiro. Com os dados do produto internacional mais a dolarização, chegamos a um produto ideal para o mercado brasileiro.

AGÊNCIA DC NEWS – Ano passado o governo federal anunciou uma série de novas regulamentações para o sistema financeiro. Como você recebeu as mudanças?
Verônica Pimentel –
Elas foram muito boas para o mercado financeiro e ainda há mais por vir. Hoje em dia, com essas novas normas, é necessário informar, deixar aberto para o investidor todos os custos do fundo. Isso faz com que traga transparência ao mercado, traga educação. Foi positivo para nós, mas também para o mercado brasileiro financeiro como um todo, que vem crescendo. Conhecimento é a chave para o crescimento do mercado em si.

AGÊNCIA DC NEWS – Para finalizar, qual conselho você daria para uma jovem que quer entrar no universo financeiro?
Verônica Pimentel –
Estudar. Não é um mercado simples. Pelo contrário, é muito complexo encontrar maneiras diferentes para fazer algo inovador nele. Já é um mercado antigo, então é necessário estudar bastante para pensar em novas formas. E também é necessário muito foco e acreditar em si mesma, acreditar que é possível fazer, porque muitas pessoas vão falar que não é. Dirão que você não consegue por ser muito nova ou por se tratar de um mercado muito consolidado por homens. Não deixe que te puxem para baixo.

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