Marçal ganha elogios de Bolsonaro e efeito eleitoral atinge Nunes em momento de crise

Uma image de notas de 20 reais
Do total de candidaturas registradas nas capitais, apenas 40 serão lideradas por mulheres, o que equivale a 20,8% dos candidatos às prefeituras
Crédito: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O efeito Pablo Marçal (PRTB), que incomodou campanhas rivais após sua participação em dois debates, atinge Ricardo Nunes (MDB) em um momento de crise do prefeito com o bolsonarismo.

A situação se tornou ainda mais delicada para a campanha do emedebista após Jair Bolsonaro (PL) elogiar Marçal nesta quinta-feira (15) e deixar explícita sua contrariedade com Nunes, apesar do compromisso partidário de apoiá-lo.

Na manhã desta sexta, no primeiro dia oficial de campanha, Nunes reagiu à fala de Bolsonaro com uma série de críticas a Marçal. Em uma missa em Santo Amaro (zona sul), o prefeito afirmou que “não tem outro M para a cidade que não o M da verdade” e disse que melhor que rede social é ação social.

“A gente está falando de uma ação da vida real. Isso aqui não é o pico dos Marins”, disse em referência ao local onde Marçal liderou uma excursão e precisou ser resgatado pelos bombeiros.

Sobre Bolsonaro ter dito que Nunes não é seu candidato dos sonhos, o prefeito afirmou que “não estamos vivendo de sonho, mas de realidade” e que “vender sonho é para outro candidato”.

Nunes ainda reiterou ter o apoio de Bolsonaro, disse que ele é bem-vindo nos atos de campanha e que o ex-presidente já teve destaque, sobretudo na convenção. “Não existe isso de esconder [o Bolsonaro]”, afirmou, sem deixar de criticar a polarização e ressaltar que é preciso “falar da cidade”.

O aval do ex-presidente à reeleição do prefeito era a aposta da campanha do MDB para mobilizar o eleitor da direita e, sobretudo, estancar o fluxo de votos para Marçal —que foi de 7% para 10% e depois para 14% nas pesquisas Datafolha desde maio.

Mas, pelo contrário, Bolsonaro e seu entorno demonstraram insatisfação com Nunes nesta semana por causa de um vídeo do prefeito em apoio a Joice Hasselmann (Podemos) como candidata a vereadora —eleita em 2018 na onda bolsonaristas, ela rompeu com o grupo e hoje é considerada traidora.

Para além desse caso pontual, persiste a cobrança para que Nunes se bolsonarize, enquanto o MDB insiste em basear sua campanha nas entregas da gestão.

E, com isso, como declarou Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao jornal O Globo, Marçal “cresce no vácuo” de acenos de Nunes à direita bolsonarista. O deputado criticou a tentativa do prefeito de se “posicionar ao centro” e ressaltou que o influenciador se alinha “com o eleitorado fiel aos nossos valores”.

Em entrevista nesta quinta à Rádio 96 FM, de Natal, o ex-presidente elogiou o que chamou de “figura nova do Pablo Marçal”.

“Fala muito bem, uma pessoa inteligente, tem suas virtudes. Não tem experiência, mas faz parte.” Bolsonaro disse que Nunes não é seu “candidato dos sonhos”, mas que assumiu o compromisso de ajudá-lo após perder uma queda de braço com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e indicar o nome do vice na chapa.

Integrantes da equipe de Nunes afirmam que Bolsonaro embarcará na campanha em seu devido tempo. Outros minimizam o avanço de Marçal, argumentando que o mundo das redes não reflete o mundo real.

A preocupação com Marçal tem mobilizado não só a campanha do MDB.

A postura do influenciador, considerada agressiva nos debates, com ataques e fake news, levou as equipes adversárias, incluindo Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB), a conversarem sobre possíveis medidas para contê-lo.

Sem um empurrão de Bolsonaro à vista, alguns aliados de Nunes dizem esperar uma resposta do mundo político tradicional a Marçal, o que beneficiaria o prefeito.

Até agora, há duas ações judiciais em curso. Uma mira a candidatura de Marçal, movida pelo PSB de Tabata, e outra já tem decisão favorável a Boulos, obrigando Marçal a excluir de suas redes os vídeos vídeos em que associa, sem provas, o deputado do PSOL ao consumo de cocaína.

Em outra frente, coordenadores das campanhas buscam reiterar com organizadores dos próximos debates que as regras sejam cumpridas e que fake news propagadas por Marçal ensejem necessariamente a concessão de direito de resposta.

A avaliação geral é a de que o candidato do PRTB descumpriu o que foi acordado no debate de quarta-feira (14), em que, por exemplo, levou um objeto ao palco —uma carteira de trabalho, que levou a troca de agressões com Boulos.

Enquanto o prefeito patina entre os bolsonaristas, Marçal faz acenos e ativa símbolos importantes para o grupo. Essa estratégia ficou clara na convenção do PRTB. Marçal foi mencionado por dirigentes do partido como alguém que defende os valores “Deus, pátria e família”, lema de origem fascista que compôs a fundamentação ideológica do governo Bolsonaro.

O influenciador também diz com frequência que Nunes não é realmente de direita e que empregou pessoas de esquerda no seu secretariado, como a agora vice de Boulos, Marta Suplicy (PT).

Políticos bolsonaristas afirmam que não irão fustigar Nunes ou declarar apoio público a Marçal. Mas ponderam que o ecossistema digital revela que os eleitores estão animados com o influenciador e que líderes conservadores sem amarras com Bolsonaro podem acabar manifestando apoio ao empresário.

Após o debate da Band, no último dia 8, políticos bolsonaristas fizeram coro à bravata de Marçal de que Boulos seria usuário de cocaína. “Boulos vai fazer exame toxicológico? Eu faria e provaria que Pablo tá errado…”, escreveu no X o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) compartilhou vídeo de um trecho do debate em que Marçal, ao direcionar uma pergunta para Boulos, simula com o dedo estar aspirando algo pelo nariz. “Visionária: em 2020 eu já previa que o exame toxicológico em deputados federais deveria ser anual e obrigatório. E seria muito útil hoje!”, escreveu.

Desde que Bolsonaro fechou a aliança com Nunes, o prefeito tem sido cobrado por aliados do ex-presidente a ressaltar bandeiras ideológicas, que não tiveram destaque no discurso eleitoral do emedebista por enquanto, apesar de ele ser um conservador católico.

Outra cobrança é a de que nomes próximos de Bolsonaro tenham mais influência na campanha e na gestão de Nunes. A maior concessão do prefeito ao bolsonarismo foi aceitar ter como vice o nome indicado pelo ex-presidente, o ex-Rota Ricardo Mello Araújo.

Mesmo após firmar a aliança, porém, o prefeito não colou sua imagem na de Bolsonaro. Nunes segue numa corda bamba: precisa do voto do eleitorado do ex-presidente, mas teme herdar a rejeição do aliado e perder votos do campo moderado.

Em resposta ao vídeo em que Nunes apesenta Joice, que rompeu com Bolsonaro em 2019, Eduardo Bolsonaro afirmou que o prefeito “cava a própria sepultura ao apoiar a maior traidora do bolsonarismo”.

“[Nunes] tem o apoio do PL, mas falha nos acenos, nessa tentativa de se posicionar ao centro. É nesse vácuo que Pablo Marçal tem crescido, por se alinhar com o eleitorado fiel aos nossos valores. Quero ver o Nunes falando contra o aborto, contra a ideologia de gênero e sobre as perseguições que sofremos pelo Brasil. O nosso eleitor (da família Bolsonaro) está esperando esta sinalização”, disse Eduardo ao jornal O Globo.

Nesta quinta, Nunes respondeu que fez gravações genéricas para os cerca de 600 candidatos a vereador da sua coligação, como Joice. “Eu fiz a gravação para 600 candidatos, e o Eduardo Bolsonaro talvez não saiba disso, então eu vou comunicar a ele. […] As pessoas precisam ter tranquilidade, ele podia ter me ligado. […] A Joice não é minha candidata, não é nela que eu vou votar”, declarou.

Aliados do prefeito afirmam que Nunes deve dividir suas críticas entre Boulos e Marçal, como vem fazendo. A leitura é a de que o deputado do PSOL deve chegar ao segundo turno, por ser a única opção viável da esquerda, enquanto Nunes deve disputar a outra vaga com Marçal e Datena.

No debate da Band, Nunes chamou o adversário de “blá blá blá” Marçal. Na terça-feira (13), associou Marçal a “pessoas envolvidas com o PCC” e declarou que “essa turma não vai comandar” São Paulo.

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