Mercado eleva a aposta de alta na Selic e fala em elevação já em setembro

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Miguel Ângelo/CNI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diante das incertezas apontadas pelo Banco Central em suas últimas comunicações oficiais e na de seus diretores, bancos, corretoras e casas de análise estão em processo de revisão de suas projeções para a Selic. Crescem as apostas no mercado de uma alta da taxa básica de juros já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

Levantamento da reportagem com 24 instituições mostra que 6 esperam uma primeira elevação da Selic em setembro, quando ocorre o próximo encontro do colegiado do BC. Na mesa das apostas, já há instituições projetando alta de 0,5 ponto percentual nos juros no próximo mês.

Embora esse movimento ainda seja minoritário, com a maioria esperando manutenção da Selic em 10,50% até o fim do ano, e nenhuma das casas esperando corte da taxa, muitas instituições consultadas pela reportagem disseram que estão em processo da reavaliação das projeções. Algumas delas até preferiram não participar da estatística neste momento.

Além disso, declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (20) deixaram o cenário ainda mais incerto.

Com a deterioração nas projeções para a inflação, percepção de risco para as contas públicas e alta do dólar, alguns analistas já vinham projetando um novo ciclo de elevação na política monetária.

Mas depois de a ata da última reunião de juros do BC apontar a possibilidade de uma nova elevação da taxa Selic, em uma decisão unânime da diretoria, houve um movimento maior de revisão das expectativas.

Essa mudança nas projeções foi ampliada após Gabriel Galípolo, nome dado como certo entre políticos e o mercado para assumir a presidência da autarquia a partir de 2025, reforçar no início deste mês que a alta de juros estava na mesa do Copom.

Nesta semana, o BTG Pactual e a XP chamaram atenção do mercado ao mudar suas estimativas para a Selic, apostando em uma alta já em setembro.

“Posteriormente [à ata do Copom], a comunicação dos membros do comitê após o período de silêncio tornou esse risco claramente mais evidente. As opiniões do diretor Gabriel Galípolo, em especial, do presidente [do BC] Roberto Campos Neto e do diretor Diogo Guillen nos últimos dias foram dignas de nota”, disseram os analista do BTG em relatório publicado na segunda-feira (19).

O banco acredita que uma elevação total de 1,5 ponto percentual em um próximo ciclo de alta da Selic é possível. Para setembro, o BTG diz preferir traçar um nível mais modesto de subida dos juros em 0,25 ponto. Depois, o banco aposta em mais duas altas de 0,5 neste ano e um movimento final de elevação de 0,25 pontos percentuais no início do próximo ano.

“Acreditamos que um ajuste agora tenderia, inclusive, a favorecer cenários mais sustentáveis para a flexibilização da política monetária em 2025, ao passo que endereçar um cenário de inflação mais deteriorado, com mais expectativas desancoradas [distantes da meta de inflação], seria mais complicado mais tarde”, diz a instituição.

A projeção do BTG é a mesma da XP. “Acreditamos que o comitê optará por um ciclo mais rápido, pois esta seria uma estratégia melhor, tanto por razões técnicas como políticas”, disseram os analistas da corretora.

Os dados fortes de atividade econômica e de mercado de trabalho no Brasil, além da resiliência do consumo pela população, têm sido citados pelo Copom para justificar o distanciamento entre as expectativas de inflação e a meta (fixada em 3% ao ano, com teto de 4,5%).

Apesar de a inflação corrente ter apresentado melhoras em meses passados, agora o índice oficial de preços do Brasil está batendo o teto, no acumulado dos últimos 12 meses. O IPCA em um ano acelerou a 4,5% até julho, após registrar 4,23% até junho.

Grandes bancos que não alteraram suas projeções disseram em relatórios publicados recentemente que enxergam uma maior possibilidade de elevação dos juros agora, mesmo com uma melhora no câmbio brasileiro visto nos últimos dias, em parte pela postura mais dura do BC em querer controlar a inflação.

A apreciação da moeda brasileira “pode reduzir pressão sobre as projeções [de inflação]… mas o fluxo de dados reforça risco para a nossa aposta de estabilidade da Selic”, disse o JPMorgan no última sexta-feira (16).

“Mantemos a nossa projeção de Selic em 10,50% ao ano até o final de 2025, por ora. Mas, com riscos maiores, graus de liberdade estão diminuindo”, disse o Itaú em relatório publicado neste mês.

Nos modelos apresentados pelo banco, em caso de dólar a R$ 5,55 (agora está valendo cerca de R$ 5,50), o IPCA no primeiro trimestre de 2026 (horizonte relevante para o BC) estaria em 3,2% com uma Selic constante em 10,50%. Para trazer a inflação à meta, os juros precisariam subir para 11%.

Para o Bradesco, com a depreciação do real ante o dólar em um processo que começou em junho, não é mais possível contestar uma alta de juros, “diante de uma economia inequivocamente aquecida”. Paradoxalmente, porém, a equipe de análise do banco acredita que, “ao reafirmar seu compromisso com a meta de inflação, aumentam as chances de o Copom conseguir evitar uma alta de juros”.