Morre Roberto Duailibi, ícone da publicidade brasileira e fundador da DPZ

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu nesta sexta-feira (18) o publicitário Roberto Duailibi, um dos principais nomes da publicidade brasileira, aos 89 anos. Ele foi fundador, com Francesc Petit (1934-2013) e José Zaragoza (1930-2017), da agência de publicidade DPZ, grife do setor no país.

Filho de um libanês com uma brasileira, Duailibi nasceu em Campo Grande (MS) em 1935. Teve seis irmãos. A infância foi “divertida, fantástica”, disse em entrevista ao Museu da Pessoa há pouco mais de três anos, onde “pés descalços e um calçãozinho azul de elástico bastavam para uma criança crescer em uma cidade”.

A educação primária se deu em Campo Grande -ou “deseducação”, como se referia. Estudava em um colégio de padres salesianos que, na visão deles, viviam “ressentidíssimos” por terem de usar uma batina preta e comprida em uma cidade cuja temperatura média era de 38 graus. O dito ressentimento era descontado nas crianças (“o que eu levei de reguada na vida, não está escrito”), a ponto de ele não ter conseguido aprender a ler na cidade natal.

Então, aos 7 anos, os pais o mandaram para São Paulo para morar com uma tia e, enfim, ser alfabetizado. A professora era bonita, e o contraste em relação aos “padres suados” de Campo Grande fez diferença. “Aprendi a ler em uma semana”, brincou.

Ele ia e voltava de Campo Grande com frequência. Com 12 anos, se mudou para a capital paulista em definitivo quando a morte de um irmão levou a família a sair do Centro-Oeste.

O primeiro emprego foi no Bank of Boston, aos 15 anos. Então, viu um anúncio da Colgate-Palmolive no jornal: estavam à procura de alguém para o departamento de propaganda. Com aptidão para desenho, conseguiu a vaga. Com aptidão para os estudos, trocou o então intencionado vestibular de Medicina pelo da Escola de Propaganda, hoje ESPM, e, de lá, seguiu carreira em outras agências.

De 1956 em diante, colaborou como redator para CIN (atual Leo Burnett Publicidade), JWT, McCann Ericson e Standard Propaganda, hoje Ogilvy & Mather, da qual foi vice-presidente de criação e onde começou a fazer campanhas ambientais. A SOS Mata Atlântica foi a primeira. “Eu inventei a palavra reflorestamento, não existia o conceito de reflorestamento”, disse ele.

Enquanto gerenciava o escritório da Standard, então maior agência do país, começou a colaborar como freelancer para o estúdio de design gráfico Metro3, fundado por Zaragoza e Petit em 1962, ao lado do produtor gráfico Ronald Persichetti.

Em 1968, os quatro se associaram para fundar a DPZ -sigla que carrega as iniciais dos sócios. Persichetti deixou a sociedade cerca de quatro anos depois, segundo site da agência.

A sociedade foi desacreditada em um primeiro momento: como eram “criativos”, jargão do setor para quem trabalha com a área de produção e criatividade de campanhas, criou-se um bolão entre as demais agências que estimava que a DPZ duraria no máximo três meses.

Contrariando os descrentes, a DPZ vingou. Foi a agência criadora de campanhas como a do Baixinho da Kaiser e o Garoto Bombril. Também criou para o adoçante Suíta, com o mote “Ninguém ama um homem gordo”. Para Duailibi, essa foi a campanha que introduziu “o hábito da dieta no Brasil e o padrão da magreza”.

A agência teve um início profícuo. Em 1975, conquistou o primeiro Leão de Ouro para o Brasil no Festival Cannes Lions, com o filme “Homem com mais de 40 anos”. Criado para o Conselho Nacional de Propaganda, visava ressaltar a importância de contratar pessoas acima de 40 anos -uma pauta cara para Duailibi. Em vídeos no Instagram, ele refletia sobre etarismo.

“Numa época em que não se falava em etarismo e ganhar Ouro no Festival da Sawa em Cannes (atual Cannes Lions) era papo restrito a europeus e norte-americanos, a DPZ conseguiu fazer história”, destaca a DPZ, hoje parte do Publicis Groupe, em site. “A agência mudou o referencial geográfico de Cannes.”

“A DPZ foi uma escola de talentos e criatividade, por onde passaram nomes como Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Marcello Serpa, Neil Ferreira, Stalimir Vieira, entre tantos outros. Uma verdadeira era de ouro da propaganda brasileira”, lembrou o publicitário Luiz Lara, da agência TBWA Brasil, em publicação no LinkedIn.

Em postagem nas redes sociais, a DPZ lamentou o falecimento do co-fundador. “A publicidade brasileira perdeu um de seus pais. Roberto foi muito mais do fundador da DPZ. Foi um pensador, um escritor brilhante, um criador de cultura, um construtor de marcas”, diz.

Fora do ramo corporativo, Duailibi também foi professor da ESPM e da ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP) e membro da Academia Paulista de Letras. Além disso, foi autor de livros como “Criatividade e Marketing” e “Cartas a um Jovem Publicitário”. Recentemente, passou a publicar reflexões em vídeos no Instagram.

No último, postado há dois dias, recomendava o livro “Não Precisa Acender a Luz”, de autoria de Mauro Ventura em diálogo com Eurico Cunha. “Tenho lido um livro por dia, mas esse me deixou realmente comovido”, disse Duailibi.

Considerado um dos pais da publicidade brasileira, ele também deixa os filhos Marco e Rubem e a esposa Silvia. O velório ocorre neste sábado, no Cemitério do Morumbi, zona sul da capital paulista, das 9h às 16h.

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