SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vice-secretário geral do Hezbollah, Naim Qassem, disse nesta terça-feira (8) que o grupo armado apoia esforços para alcançar um cessar-fogo no Líbano e, pela primeira vez, não condicionou a interrupção dos ataques contra Israel a uma trégua na Faixa de Gaza.
Suas declarações foram transmitidas na televisão após Tel Aviv atacar o sudoeste do Líbano, expandindo sua incursão terrestre. Em um ano, a ofensiva contra o país, que se intensificou nas últimas semanas, já deixou mais de 2.000 mortos e 1,2 milhão de deslocados, de acordo com autoridades em Beirute.
Em um comunicado de 30 minutos, Qassem afirmou que o Hezbollah apoia as tentativas do presidente do Parlamento e aliado do Hezbollah, Nabih Berri, de conseguir uma trégua. O grupo, no entanto, não seria o primeiro a ceder na guerra, continuou.
“Em qualquer caso, depois que a questão de um cessar-fogo tomar forma, e uma vez que a diplomacia possa alcançá-lo, todos os outros detalhes poderão ser discutidos e decisões poderão ser tomadas”, afirmou. “Se o inimigo continuar sua guerra, então o campo de batalha decidirá.”
Apesar dos intensos bombardeios contra bases do Hezbollah e da morte de importantes líderes da facção, Qassem garantiu que as capacidades militares do grupo estão intactas. O arsenal do Hezbollah, apoiado pelo Irã e aliado do Hamas, em Gaza, vinha sendo usado desde o início da guerra no território palestino contra o norte de Israel, onde 60 mil pessoas saíram de suas casas.
Também nesta terça, Teerã afirmou que ofensivas de Israel terão retaliação. O alerta ocorre uma semana após o regime teocrático fazer seu segundo ataque contra Israel na história em solidariedade ao Hezbollah. “Qualquer ataque às infraestruturas iranianas implicará uma resposta mais forte”, disse o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, em um comunicado veiculado pela televisão estatal.
O chanceler vai visitar a Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio a partir desta terça. “Nosso diálogo continua (…) para prevenir os crimes descarados do regime sionista no Líbano em continuação dos crimes em Gaza”, disse ele.
Apesar das ameaças do Irã e dos apelos da ONU por uma solução diplomática, as forças israelenses ampliaram sua ofensiva terrestre no Líbano nesta terça com ataques ao sudoeste do país vizinho. Durante a noite, Tel Aviv atacou os subúrbios do sul de Beirute e afirmou ter matado um alto membro do Hezbollah responsável pelo orçamento e pela logística do grupo.
Já o líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, afirmou que o grupo palestino vai se reestruturar apesar das pesadas perdas durante a guerra. “A história palestina é feita de ciclos”, disse ele em entrevista à agência de notícias Reuters. “Passamos por fases em que perdemos mártires e parte de nossas capacidades militares, mas então o espírito palestino se ergue novamente, como uma fênix”
Meshaal, que sobreviveu a uma tentativa de envenenamento de Israel em 1997, disse também que a facção ainda é capaz de montar emboscadas contra tropas israelenses. “Perdemos parte de nossa munição e armas, mas o Hamas ainda está recrutando jovens e continua fabricando uma parte significativa de sua munição e armas”, continuou.
Um funcionário do Programa Mundial de Alimentos expressou preocupação com o abastecimento alimentar do Líbano, dizendo que milhares de hectares de terras agrícolas em todo o sul do país foram queimados ou abandonados.
“Em termos de agricultura, produção de alimentos, (há) uma preocupação extraordinária com a capacidade do Líbano de continuar a se alimentar”, disse Matthew Hollingworth, diretor da entidade no Líbano, em uma entrevista coletiva em Genebra. Já o funcionário da OMS (Organização Mundial da Saúde) Ian Clarke afirmou que há um risco muito maior de surtos de doenças entre a população deslocada.