O que Galípolo ouviu de previsões sobre a economia do Brasil, inflação nos EUA e o que importa no mercado

Uma image de notas de 20 reais

Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que Galípolo ouviu de previsões sobre a economia do Brasil, inflação nos EUA pressiona Trump e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (13).

**O FEITIÇO (EMILIA PEREZ) CONTRA O FEITICEIRO (NETFLIX)**

A história começou bem. Um filme com boas críticas e vencedor de diferentes prêmios. Ser o mais indicado ao Oscar deste ano foi a coroação que “Emilia Pérez” precisava.

Mas…deu tudo errado. Declarações do diretor, Jacques Audiard, pegaram mal. Daí foi ladeira abaixo. Publicações racistas, homofóbicas, gordofóbicas e intolerantes de Karla Sofia Gascón, a protagonista, ressurgiram nas redes sociais.

A impopularidade da estrela do longa (e ameaça de perda da grana) levou a produtora a demiti-la da campanha.

E o que isso tem a ver com a economia? Os mundos e fundos que a Netflix investiu na divulgação do musical.

↳ “Emília Perez” era a principal aposta do streaming para levar o prêmio de melhor filme na noite mais importante do cinema.

€ 25 milhões (R$ 149 milhões) é o orçamento estimado, segundo o IMDb.

US$ 14 milhões (R$ 83 milhões) é o faturamento aproximado até o momento.

A preparação…não foi pouca. A Netflix tem uma das maiores operações de divulgação para prêmios, liderada por Lisa Taback, estrategista que conhece muito bem o Oscar e seus votantes.

↳ Ela emprega cerca de 60 pessoas dedicadas a promover seus longas e séries em premiações como o Oscar e o Emmy, de acordo com apuração do New York Times.

Aprenderam? Pode ser um ponto de virada no mercado audiovisual. O investimento em exposição ainda perde para a autenticidade que o público sente vindo de um projeto.

A Netflix ainda está lucrando. Fechou 2024 com recorde de assinantes e números além das expectativas, segundo dados divulgados pela própria.

A plataforma de streaming passou por um momento de incerteza: em 2022 e 2023, o mercado se perguntou sobre a capacidade dela de angariar novos assinantes.

Por isso mesmo, ela investe pesado em novos conteúdos –mais populares e para angariar prêmios da crítica– em nome de mostrar que a assinatura vale o preço e atrair mais clientes.

**A ECONOMIA TÁ COMO?**

A situação econômica do país está em debate e rebater críticas é o cotidiano das autoridades ultimamente.

“Na UTI”…é como Armínio Fraga, que comandou o Banco Central entre 1999 e 2002, descreveu a situação econômica do Brasil.

“O BC não faz milagre, sei que é difícil comentar, mas isso precisa acontecer. Eu considero que o paciente está na UTI. O mix macro precisa mudar, e isso não parece estar na agenda”, disse.

Ele demonstrou preocupação com a dívida pública, que está acima de 75% do PIB, e em trajetória de alta. Para o economista, está atrelada ao aquecimento da atividade econômica, que não vai durar para sempre.

Fraga chamou a atenção do atual presidente da autarquia, Gabriel Galípolo –que era convidado do evento – a cobrar ações do governo na área.

“Você [Galípolo], como uma pessoa de confiança das altas autoridades do nosso país, talvez possa convencê-las de que não tem mágica […] O desemprego está baixo, é um sonho, mas agora a festa meio que acabou”, declarou.

Resposta. O chefe do BC disse que tem o desafio pessoal de encontrar o limite e a medida certa que cabe à autoridade monetária falar.

Disse que subir a taxa básica de juros vai funcionar para combater a inflação, e que esta é uma avaliação compartilhada pelos investidores.

“Uma coisa é você ser preventivo a algo que está presente, outra coisa é você lutar contra algo que não existe ainda, ou que possa nem existir”, argumentou.

Enquanto isso…Lula disse na terça-feira que a economia brasileira vai crescer este ano.

Na fala, defendeu a tese de que o dinheiro estará circulando nas mãos da população –um indicativo de que a contenção de gastos não está nos planos do Executivo.

**FOGUETE NÃO TEM RÉ**

A inflação nos EUA aumentou para 3% em janeiro, em comparação com o mesmo período do ano passado.

O problema? A expectativa era menor: 2,9%. E 0,1% faz muita diferença quando estamos falando da economia americana.

O aumento mensal também superou as projeções. Subiu 0,5% em janeiro, enquanto a expectativa era de um crescimento de 0,3%.

O QUE ACONTECEU

Os aumentos de preços foram generalizados no mês. Produtos básicos de consumo seguem encarecendo.

A atividade econômica está muito aquecida no país, e a oferta de produtos alimentícios (e de outras naturezas) não acompanha o ritmo.

Os preços da energia também ajudam a puxar o índice para cima.

SOLUÇÃO TRUMP

O presidente americano venceu a eleição usando a economia como uma das suas principais plataformas. Prometeu baixar os preços, os juros e aumentar os empregos.

Os métodos que demonstrou nos primeiros meses de governo não convenceram economistas. A criação de tarifas de importação sobre países e produtos específicos não são eficientes na contenção da inflação…

“…pelo contrário. Independentemente da extensão e do tamanho das tarifas, o recurso tende a gerar choques de custos e preços”, disse Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial.

Em uma entrevista nesta semana, Trump baixou o tom. Quando questionado na Fox News sobre inflação alta, respondeu dizendo que tornará o país mais rico, o que melhoraria a situação das famílias.

O que ele sugere é que o fardo econômico nas residências americanas seja reduzido porque os ganhos aumentarão, e não porque os preços cairão.

O Federal Reserve não quer saber. Jerome Powell, presidente da autarquia, demonstrou preocupação com a leitura divulgada e sugeriu que as taxas de juros no país podem continuar estagnadas por algum tempo. Sem espaço para cortes.

“Se a inflação subir, com certeza usaremos nossas ferramentas, que são as taxas de juros. Vamos trazê-la de volta para a meta de 2%”, disse.

**VACAS GORDAS**

O ano de 2024 foi de recordes no setor das carnes no Brasil. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou ontem os dados de abate de animais e de produção de carne do último trimestre do ano.

Em números:

29,2 milhões de toneladas equivalente carcaça foi a produção nacional, número mais alto da série histórica.

6% é a alta do volume em relação a 2023.

↳ Tonelada Equivalente Carcaça, ou TEC, é uma unidade de medida usada na agropecuária para medir a quantidade de peso transformada em carne em comparação com o corpo inteiro –antes de cortes ou desossas, por exemplo.

Por quê? Houve uma oferta maior de animais para abate e um ganho de produtividade importante no setor nos últimos anos.

DAQUI PARA FORA

A mercadoria disponível aumentou e as exportações acompanharam.

Aos números, de novo:

2,86 milhões de toneladas de carne bovina foram colocadas no mercado exterior pelo Brasil em 2024, volume 26% maior que no ano anterior.

US$ 12,9 bilhões (R$ 74,3 bilhões) foi a receita obtida, 22% a mais.

↳ As somas são da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).

MAS carne está esvaziando a carteira do brasileiro. Os preços da commodity subiram no segundo semestre.

Cresceram 0,36% em janeiro e, em 12 meses, acumulam alta de 21,17%.

Dois fatores contribuem para o encarecimento, segundo a avaliação de André Braz, coordenador de Índices de Preços na FGV (Fundação Getúlio Vargas) para a BBC:=

A desvalorização do real em relação ao dólar ajudou o Brasil bater o recorde de exportação de carne. Apesar de beneficiar a balança comercial, deixa o produto menos disponível no mercado interno.

O preço do boi caiu em 2023. Para subir o valor, os produtores aumentaram o abate de fêmeas. Isso gera caixa e aumenta temporariamente a oferta de carne, mas reduz o rebanho no médio prazo. A queda na oferta joga os preços para cima.

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