No mais recente Relatório Focus, divulgado na segunda-feira (19) pelo Banco Central (BC), o mercado voltou a apostar na queda do PIB e na alta da Selic para 2025. Enquanto o crescimento oscilou de 1,93% para 1,89% (no prazo de um mês), a previsão para o juro no ano que vem saiu de 9,5% para 10%. O cenário mostra uma gangorra, já que a taxa cairia dos atuais 10,5% desceria 1 ponto e voltaria a subir. O sentimento de incerteza é compartilhado pela economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli. “Embora o BC tenha alertado sobre o aquecimento do mercado de trabalho e o impacto na inflação futura, ainda é cedo para afirmar que a Selic precisará ser aumentada na próxima reunião do Copom [17 e 18 de setembro]”, disse.
A ancoragem das expectativas de inflação é o elemento essencial para assegurar a convergência para a meta. O IPCA acumulado em 12 meses até julho está no limite do teto (4,50%), e a expectativa do mercado é de que feche o ano em 4,22% – dentro da margem, mas bem acima do centro da meta, que é de 3%. Por esse motivo o BC monitora como a política fiscal tem impactado na economia. Cristiane afirmou que se o BC decidir aumentar a Selic, é uma mostra clara de que não fugirá de sua missão de fazer com que a inflação retorne à meta. “Por isso o mercado já começou a revisar para baixo as expectativas de crescimento econômico para 2025, devido à perspectiva de que a Selic se mantenha em um nível elevado”, afirmou.
DÓLAR – Na prática, as incertezas sobre os dados macroeconômicos não dependem apenas da boa vontade fiscal do governo federal. O cenário externo anda igualmente imprevisível. Os juros americanos e as eleições nos Estados Unidos explicam parte desses movimentos, seja para cima, ou para baixo – o dólar chegou a bater em R$ 5,75 no começo de agosto e recuou para R$ 5,48 na terça-feira (20). Cristiane disse que a manutenção do dólar em um patamar alto prejudicaria o varejo, além de pressionar a inflação para cima no Brasil. “Um dólar alto por um período prolongado pode aumentar os custos para o setor varejista, que depende de produtos importados.”
A possibilidade de um corte de juros nos Estados Unidos e a manutenção da Selic em patamar elevado no Brasil deve criar um diferencial de juros favorável para o câmbio. “Isso acabaria atraindo fluxo financeiro para o Brasil e impactando positivamente o câmbio”, disse. Ainda que o ano seja marcado por incertezas locais e externas, o banco mantém viés de otimismo para a economia brasileira. “Nosso viés é um pouco mais otimista devido a fatores positivos como a recuperação da economia dos EUA e da China”, afirmou. “Acreditamos que essas variáveis têm um impacto mais significativo e favorável para a economia brasileira.”