[AGÊNCIA DC NEWS] – Depois de um 2024 “além das expectativas” e um primeiro trimestre ainda aquecido, a indústria da construção civil já admite que o crescimento deste ano poderá ser menor do que o previsto inicialmente. Durante a chamada Reunião de Conjuntura, o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP (o sindicato do setor no estado), Eduardo Zaidan, relatou um cenário interno “confuso” e o externo ainda sob o impacto recente do novo governo dos Estados Unidos. A coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), Ana Maria Castelo, afirmou que o PIB do setor poderá subir menos que os 3% projetados ainda no final do ano passado – que já seria menor do que o anterior. Entre os fatores que deverão afetar a atividade estão o menor consumo das famílias e o aumento dos juros. Um cenário pessimista estima 2,2% para o crescimento anual.
Caso se confirme, a projeção corresponderia quase à metade da alta de 2024, quando o PIB da construção cresceu 4,3%, ante 3,4% do resultado geral. O SindusCon-SP esperava alta entre 3,6% e 4%. “Isso ainda provocará um efeito positivo na atividade da construção no primeiro semestre, porém, com a elevação dos juros, deverá haver uma desaceleração no segundo semestre.” Além disso, conforme a apresentação feita pela FGV, as vendas habitacionais aumentaram 20,9%, o crédito do setor subiu 23,1% e os investimentos em infraestrutura cresceram 15,3%. A produção de materiais teve alta de 5,5% e o volume de vendas, de 4,7%. O emprego cresceu 5,3% no país e 5,7% no estado de São Paulo. Em janeiro, o estoque de empregos formais no setor chegou a quase 3 milhões, sendo 806,5 mil apenas em São Paulo e 346,9 mil na capital, mas já com desaceleração no saldo de vagas com carteira.
Na reunião realizada neste mês, a avaliação foi de que os primeiros indicadores de 2025 ainda mostram “persistência do crescimento” do setor. “O cenário interno está confuso e o cenário externo, com as mudanças nos Estados Unidos, é muito recente”, afirmou Zaidan, do SindusCon-SP. “Algumas decisões do governo norte-americano acabaram barradas pela Justiça local. A inflação nos Estados Unidos também demandará novas medidas, obrigando ao recuo de algumas delas. A relação da Europa com a guerra da Ucrânia e outras questões externas também poderão afetar diretamente o Brasil e a indústria da construção.”
As unidades habitacionais vendidas em janeiro deste ano em São Paulo mostram um mercado ainda aquecido, com um total de 4,6 mil na categoria econômica, ante aproximadamente 3 mil no mesmo mês de 2024. Já as unidades de médio e alto padrão (MAP) ficaram abaixo, de 2,5 mil para 2,2 mil. Nos últimos 12 meses, são 59,1 mil unidades vendidas no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e 45,4 mil na categoria MAP.
CAUTELA – “Na indústria da construção, há uma expectativa cautelosa de aumento dos negócios nos próximos meses”, disse o SindusCon-SP em texto de apresentação da reunião. “A preocupação com a falta de mão de obra já superou aquela com a demanda insuficiente. Uma contração do crédito imobiliário com base nos recursos da poupança é esperada, enquanto o financiamento com os recursos do FGTS deve aumentar, alimentando o protagonismo do Programa Minha Casa, Minha Vida.” A entidade também externou preocupação com possíveis novas saídas de recursos do Fundo de Garantia devido a mudanças nas regras dos saques.
Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), citados na apresentação da coordenadora da FGV, mostram projeção de R$ 282 bilhões no financiamento imobiliário, o que representa uma queda de 10% em relação a 2024. No Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), a projeção varia de R$ 150 bilhões (-20%) a R$ 160 bilhões (-15%). No FGTS, vai a R$ 127 bilhões (+1%).
Para o professor da FGV Robson Gonçalves, o país vive um “grave momento” de gestão da política econômica. “As medidas para baixar a inflação de alimentos são inócuas. Haverá mais inflação e maior corrosão do poder de compra das famílias. A criatividade do governo atual acabou, e ele irá empurrar essas contradições até a eleição”, afirmou. Ele acredita que a “contradição” entre as políticas monetária e fiscal poderá aumentar com a proximidade do processo eleitoral de 2026. “Temos de nos preparar para tempos bem mais incertos de manutenção dessas volatilidades.” Exemplo da contradição, destaca Gonçalves, é o aumento do gasto público pelo governo enquanto o Banco Central sobe os juros para tentar conter a demanda. Movimentos contrários, que levam à estagnação. “São dois cavalos puxando a carroça, cada um indo para um lado, e a carroça não vai sair do lugar.”