Relatório do varejo global da Economist (quase) ignora o Brasil. Ainda assim, ele traz análises obrigatórias

Uma image de notas de 20 reais
Analistas acreditam que vendas na Índia crescerão acima da China
(Freepik)
  • Relatório afirma ainda que confiança do consumidor vai demorar a se recuperar, porque poupança está abaixo do período pré-pandemia
  • Varejistas chineses devem sentir restrições regulatórias, como nos Estados Unidos. Taxa das Blusinhas brasileira também é citada
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DC NEWS]. Produzido pela Economist Intelligence Unit (EIU), unidade de consultoria do grupo The Economist (principal veículo de economia do planeta), o relatório Consumer Goods and Retail Outlook 2025 praticamente ignora o Brasil – o país só é citado uma vez no documento, pela Taxa das Blusinhas, o imposto de 20% adotado em agosto do ano passado nas transações cross-border. Ainda assim, o documento traz pistas importantes aos varejistas. A primeira delas é um crescimento médio real de 2,2% na comparação anual por causa de uma inflação mundial em queda (o que não é o caso brasileiro) que, se confirmado, será o melhor resultado desde 2021.

Outro ponto fundamental, e que muitas vezes é esquecido na avaliação de analistas e economistas, é confrontar renda média (realidade) com nível de confiança (percepção de realidade). Em resumo, mesmo que as coisas estejam custando menos, ou que o poder de compra tenha aumentado, se a expectativa do consumidor é de um cenário de médio prazo difícil ele tende a adiar os gastos. Segundo o relatório, a baixa confiança ainda é reflexo de a “poupança das famílias permanecer abaixo dos níveis pré-pandemia na maioria dos países”. As empresas terão demanda mais lenta, com os consumidores ainda sensíveis à variação de preços.

Em termos globais, a China – segundo maior mercado consumidor do mundo em valor de compra – viverá dois dilemas. No âmbito interno e no externo. No primeiro caso, os autores do relatório afirmam que há um choque nos rendimentos médios provocados por três causas principais: um setor imobiliário em recessão, certa fragilidade no mercado de trabalho e uma população envelhecida. No âmbito externo, bloqueios e obstáculos regulatórios, por meio de aumento de taxação, serão desafios para os gigantes asiáticos do varejo online. O crescimento projetado (4% em termos reais) ainda estará acima da média global, mas será o mais lento desde o fim da pandemia e muito abaixo da média entre 2015 e 2019, de 7% ao ano.

Escolhas do Editor

VESTUÁRIO – O documento diz que esse maior rigor regulatório espalhado pelo planeta afetará especificamente dois grupos chineses, Shein e Temu, que atuam no segmento de vestuário. “Ambos os varejistas expandiram rapidamente sua participação no mercado global com preços baixos desde a pandemia, mas agora encontram-se sob ataque dos reguladores.” O varejo online não escapará de certa desaceleração em 2025. “Esperamos que ele cresça em linha com os mercados gerais de varejo, o que significa que sua participação nas vendas permanecerá estável em 16%”, afirmaram os autores no relatório.

O Consumer Goods and Retail Outlook 2025 também aponta um cenário de perdas e ganhos em dois setores especificamente. Por um lado, preocupação maior para os segmentos de mobiliário e linha branca, muito sensíveis ao comportamento do mercado imobiliário – “segmento que tem vacilado nos países desenvolvidos”. Por outro lado, parte desse dinheiro não gasto em móveis e eletrodomésticos deve migrar para uma oportunidade de crescimento acelerado com gastos em lazer, entretenimento e turismo.

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