Mineira de Iturama, a chef Gil Gondim, que há exatos 20 anos criou a banqueteria que leva o seu nome, acaba de trazer as malas – e as panelas – de Santo André, na região do ABC, para a cidade de São Paulo. Mais exatamente, para a região da praça da Sé, no coração do Centro paulistano. “Acredito tanto na requalificação do Centro Histórico que já estou morando na praça da Sé”, disse a chef de 48 anos, na inauguração do estabelecimento, em 24 de maio. Para a Prefeitura, a chegada de estabelecimentos como a Casa Gil Gondim, além de atrair outras empresas, é sinal do acerto da política implementada nos últimos anos.
Desde 2021, segundo a Prefeitura, quase 50 mil empresas (ou exatas 47.849) se transferiram para a capital. Apenas na região central, foram quase 2 mil só no primeiro trimestre deste ano. Entre as empresas que fizeram de São Paulo a sua sede, há várias de grande porte e diversos setores, como tecnologia e varejo. Alguns dos exemplos são Amazon, Magalu, Netflix, Nike, Shopee, Tik Tok e Via Varejo. Ainda de acordo com a administração municipal, só as empresas que vieram de outros municípios já representaram acréscimo de R$ 1 bilhão em Imposto Sobre Serviços (ISS).
O emprego também dá sinais de melhora. De 2021 a 2023, a cidade de São Paulo criou cerca de 100 mil vagas com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Dos 4,8 milhões de postos de trabalho formais na capital, 893 mil (18,6%) são do comércio, que fica atrás apenas do setor de serviços, com 3,2 milhões de vagas (67%) com carteira assinada.
O secretário municipal da Casa Civil, Fabricio Cobra Arbex, coordenador do movimento #TodospeloCentro, cita uma série de iniciativas como fatores que ajudaram a impulsionar a economia da capital: incentivos fiscais, novo Plano Diretor, a regulamentação do Projeto de Intervenção Urbana (PIUs) e a chamada Lei do Retrofit, do Programa Requalifica Centro, com estímulos para requalificação de edifícios na região central da cidade. Nesse último caso, já foram aprovados 14 projetos.
Em maio, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento anunciou o segundo chamamento público para interessados em requalificar imóveis antigos no centro, no valor de R$ 100 milhões – o total do programa chega a R$ 1 bilhão. A subvenção econômica para execução das obras pode chegar a 25%.
Um desses imóveis é icônico: o antigo prédio que abrigou a sede da Telesp, na rua 7 de Abril, na região da praça da República. O projeto, da Metaforma Incorporadora, prevê a reabertura do edifício com apartamentos residenciais, lojas e restaurantes. Inaugurado em 1939, o local foi desativado em 2010. Bem ao lado, funcionou a sede dos Diários Associados – e a primeira sede do Masp.
INVESTIMENTO – A chef Gil Gondim sabe bem o que é investir alto para instalar a própria empresa num prédio histórico do Centro. Ela aplicou aproximadamente R$ 1 milhão para levar sua banqueteria a um edifício de cinco andares, erguido em 1954. No local, vai funcionar ainda o instituto de mesmo nome, que irá capacitar pessoas em situação de vulnerabilidade econômica em atividades de gastronomia, hospitalidade e eventos. A mudança não foi só comercial. Gil e sua família foram morar no mesmo prédio.
A ideia de morar no Centro de São Paulo era antiga. “Quando comecei a procurar, surgiu a oportunidade de ter um imóvel perto da Catedral. E começamos a ver toda a mobilização de requalificação”, disse a chef. “Vendo toda a transformação do Centro Histórico, não tive dúvidas de que seria a melhor opção”.
O negócio está indo bem. Atualmente com 23 funcionários fixos (sem contar os contratados para eventos), a Casa Gil Gondim está em processo de contratação. “Acho que em breve teremos o dobro de colaboradores. A cozinha aqui é maior e vamos trabalhar em dois turnos”, afirmou Gil, que montou o Projeto Marco Zero da Gastronomia, para capacitação de pessoas em situação de vulnerabilidade. “Firmamos parceria com a rede hoteleira da região, para que possam absorver as pessoas treinadas por nós. Queremos assegurar que elas saiam já empregadas”, disse. “Acreditamos na restauração das pessoas. Todo o nosso time foi formado por nós.”
A empolgação da chef paulista não é isolada. Pesquisa recente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em parceria com a Orbis, mostrou que 72% dos comerciantes do Centro estão otimistas com o futuro – e o fluxo de pessoas é apontado como principal vantagem para o setor. Nesse sentido, o projeto #VemproCentro foi criado com o objetivo de melhorar as condições de quem mora e trabalha na região e estimular mais pessoas a visitar essa área da cidade.
Para o secretário da Casa Civil, as condições estão dadas, além da própria carga histórica do Centro: ações do poder público, apoio dos comerciantes, acesso fácil, equipamentos. “É um processo de longo e médio prazo, mas já temos resultados visíveis no curto prazo, principalmente na questão da segurança”, disse Fabricio Arbex. Assim como Gil Gondim e outros comerciantes do Centro, ele se mostra animado e otimista em relação ao futuro da região central de São Paulo. “Estamos no caminho certo.”