Instituição paulistana, Sebo do Messias mantém acervo recorde de 3 milhões de itens e faz 1 mil vendas diárias
No site, 30% das compras são para livreiros: "Se não fosse o sebo, muita livraria em São Paulo fecharia"
Sebo tem 45 funcionários e recebe 500 pessoas aos sábados na loja física, na região da Sé
Por Anna Scudeller
[AGÊNCIA DC NEWS]. Instituição paulistana localizada na praça João Mendes, atrás da Catedral da Sé, o Sebo do Messias está quase sessentão – foi aberto em 1969 – e em forma como nunca. O acervo está na casa dos 3 milhões de itens, um recorde na história da casa, que vende 1 mil livros (e CDs, discos, revistas…) por dia, seja na loja física ou pelo site, com tíquete médio de R$ 10. O foco é a rotatividade. Entre a obra chegar e estar na prateleira, são apenas dois dias. “Não dá para ter apego, o livro é para girar”, disse Daniela Guimarães Coelho, filha do mineiro Messias Antonio Coelho, fundador do sebo e que morreu aos 83 anos, em dezembro de 2024. Daniela e a irmã, Lilian, mais o gerente Cleber Aquino, funcionário de mais de duas décadas, comandam a operação desde a morte de Messias.
A última movimentação orquestrada pelo patriarca foi de grande escala. O sebo adquiriu 2 milhões de exemplares da extinta rede Saraiva, que teve falência decretada em 2023. Hoje, a maior parte do acervo da loja é oriundo dessa compra, mas novas doações chegam aos montes a todo momento, e a direção do sebo adquire coleções de livros de famílias. Aquino comenta que, no caso das coleções, o preço varia bastante. Entre os 45 funcionários, há uma equipe de avaliadores e outra de triagem. Os livros que não entram no catálogo da loja são repassados para ONGs. O foco, segundo Daniela, são as grandes coleções. “A gente dá prioridade para coleções a partir de 200 livros”, disse. A depender do caso, eles vão até o local verificar a coleção. Para isso, o Sebo do Messias tem duas Kombis voltadas para a atividade.
O sebo tem movimento constante diariamente, mas o fluxo é maior aos sábados, quando recebe até 500 pessoas. São quatro pavimentos, contando o subsolo, num total de 1.100 metros quadrados, ao lado da tradicional Padaria Santa Tereza, contemplada no Prêmio Comércio Histórico, criado pela Agência de Notícias DC NEWS e pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Há, ainda, um estoque localizado nas imediações da Praça da República e duas bancas de jornal que funcionam como pontos de venda de livros, uma delas localizada na calçada do empreendimento, somente com produtos em promoção, todos a R$ 3. Segundo Daniela, o antigo dono dessa banca era cliente havia muitos anos. “Quando precisou vende-la, por motivos pessoais, ofereceu para a gente.”
Daniela Guimarães Coelho e o gerente Cleber Aquino (Andre Lessa / Agência DC News)
HERANÇA – Messias Antonio Coelho nasceu no município de Guanhães, em Minas Gerais, a quatro horas da capital mineira. Cresceu na zona rural e apenas aos 21 anos mudou-se para Belo Horizonte. Dois anos depois, partiu para São Paulo. O ano era 1964. Começou na capital paulista como garçom no antigo restaurante Don Fabrizio. Ficou lá durante dois anos, quando abriu o próprio estabelecimento, o Restaurante Messias. A empreitada não teve o resultado esperado e logo fechou. Messias começou então como vendedor externo da Lex Editora – colaboração que manteve até 2008 – até que, no final de 1969, inaugurou o Sebo do Messias no coração de São Paulo.
A filha Daniela lembra que os livros dominavam todo o ambiente familiar. “A garagem de casa, na minha vida inteira, era um depósito de livros”, afirmou. Quando ela nasceu, o sebo já tinha quatro anos. Como seria inescapável, sempre gostou do universo da literatura. “Quem critica o livro é quem não lê”, disse. Ela trabalhou ao lado do pai desde os 20 anos e conta que o pai preparou todos para quando não estivesse mais no comando da loja. “Foi um processo natural. Aos poucos ele foi saindo de cena porque veio a pandemia”, afirmou Daniela. “Sinto muita falta dele, lógico, mas ele nos preparou muito bem.”
Cleber Aquino, que está no sebo desde 2002, foi contratado para desenvolver o braço virtual do negócio. Atualmente, o site, que tem cerca de 200 mil títulos disponíveis, representa metade do faturamento – na sede física, no número 140 da Praça Dr. João Mendes, é possível utilizar painéis de autoatendimento a fim de verificar a disponibilidade de determinado exemplar na loja ou no acervo. “Se tem um livro lá [em estoque], a gente disponibiliza para o cliente na hora”, disse o gerente. Segundo cálculos de Aquino, 30% dos compradores do universo digital são livreiros. “Se não fosse o sebo, muita livraria em São Paulo fecharia.” As filhas de Messias e Aquino levam o sebo como guardiães da proposta original do fundador: a alta circulação de todos os itens disponíveis. Como resume Aquino: “Aqui tudo está à venda! Esta cadeira em que você está sentada, ela quase foi vendida anteontem.”
Messias no sebo em foto de 2021, três anos antes de sua morte (Zanone Fraissat/Folhapress)