São Paulo, 17 de dezembro de 2024 – As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros(DIs)fecham mistas, depois de dia de volatilidade.
As taxas abriram em alta com a divulgação da ata da ultima reunião do Comitê de PolíticaMonetária (Copom), na semana passada, que foi considerada hawkish, com uma discussão ampla sobre apiora na qualidade do cenário inflacionário de curto e médio prazo. Pouco depois da metade dopregão, o mercado acalmou com a fala do Secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, queafirmou que não há desidratação no pacote fiscal e que as instituições consideram razoável umpacote de R$ 70 bilhões em dois anos.
Há pouco, na saída de uma reunião com a liderança do PT no Senado, Durigan mencionou que háesforços para entender a divergência entre os números apresentados pelo mercado e pelo governo.Destacou, ainda, a disposição dos parlamentares em votar o pacote assim que ele for aprovado naCâmara e informou que “não haverá grandes impactos na economia de recursos com as alterações noBenefício de Prestação Continuada (BPC).”
ATA DO COPOM
Mais cedo as taxas operavam em firme alta, por conta da dura ata do Copom. O estrategista-chefe daWarren Investimentos, Sérgio Goldesntein, avalia que a ata de dezembro aponta os diversos fatoresque embasaram a decisão e o guidance hawkish do Copom.
“A conclusão da ata foi a de uma deterioração relevante no cenário de inflação, tanto dosdeterminantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, quanto dos demédio prazo, como o hiato do produto e as expectativas de inflação”, diz ele.
“O documento informa que a força da atividade e o mercado de trabalho aquecido sinalizam que a taxade juros real neutra pode ter subido, levando o Copom a subir sua estimativa para 5% – algo que jáse comentava muito no mercado, mas que o Copom resistia em fazer”, diz Nicolas Borsoi,economista-chefe da Nova Futura.
“Além disso, o Copom reconhece a necessidade de uma política fiscal harmoniosa, que há riscoselevados de um maior pass-through do câmbio para a inflação e que há uma desancoragemgeneralizada das expectativas de inflação. Por fim, a ata esclarece que a votação por subir 1%foi unânime, o que não estava claro no texto da decisão.”
“Uma ata bastante serena, refletindo muito bem sobre a piora na inflação corrente e nasperspectivas à frente, fechando incertezas com o texto da decisão e oferecendo motivos críveis doporque o Copom optou por uma ação mais agressiva de alta na Selic. Não vejo motivos para alteraras projeções e seguimos com a expectativa de duas altas de 1% e uma de 0,25%, com a Selicatingindo 14,5% na reunião de maio.”
“Mantenho a perspectiva que a decisão do Copom foi acertada em sinalizar a alta de juros, afinal aquestão na mesa para mim são os juros locais em dólares, contudo venho alertando de formasistemática os riscos dessa elevação dos juros numa economia já bastante alavancada”ressalva oeconomista André Perfeito.
Tanto empresas como famílias estão amplamente endividadas e se a elevação da Selic (taxa básicade juros) for muito persistente no tempo (mais que o patamar em si) isso pode implodir por dentro osbalanços.
“Também venho alertando sobre os riscos dos modelos dos economistas para entender o momento atual.A persistência de uma inflação acima do centro da meta para 2026 forçou a SELIC por dentro dosmodelos de equilíbrio geral para patamares muito elevados, mas curiosamente ninguém – ou quaseninguém – calculou a segunda derivada dos próprios modelos, ou seja, que o resultado líquidodessa elevação da Selic (taxa básica de juros) quer dizer necessariamente uma recessão.”
Perfeito diz que se de fato vier uma recessão uma das primeiras vítimas será a arrecadaçãofederal o que torna a questão fiscal ainda mais frágil. “Soma-se a isso que o principal problemahoje no campo fiscal é menos o resultado primário, que apesar de ter algum déficit é menor que omercado esperava, mas antes o resultado nominal, este extremamente sensível a elevação dosjuros.”
O especialista joga luz ao risco do País que entram em numa espécie de “referência circular” égigante onde a piora da percepção fiscal é “resolvida” com alta de juros que por sua vez piora oresultado fiscal nominal, que por sua vez”
“Minha esperança é que a economia embalada pela demanda e massa salarial em alta tenha quantidadede movimento suficiente para subir a ladeira da curva de juros que está mais inclinada. Casocontrário, se o carro parar e começar a ir para trás, vai dar um trabalho danado, afinal todomundo vai ter que sair do carro e empurrar este mesmo carro ladeira acima. Ladeira essa que estábem mais inclinada”, diz ele.
Por volta das 17h05 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 12,165% de11,0150% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 15,175%, de 12,270%, o DIpara janeiro de 2027 ia a 15,515%, de 12,325%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 15,420% de15,470% na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 6,0955 para venda.
Camila Brunelli / Safras News
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