Tempo de TV de Nunes, de 65%, é o maior da história das eleições de São Paulo

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BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A propaganda eleitoral na TV e rádio começou na sexta-feira (30) com um marco inédito. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem 65% do espaço dos blocos fixos e também das chamadas “inserções”. Trata-se do maior tempo, disparado, de todas as 11 disputas em São Paulo no atual período democrático.

À frente de uma coligação de 12 partidos, a segunda maior da história, a candidatura de Nunes é a primeira que controla mais da metade da propaganda na TV.

O trunfo, porém, tem que ser relativizado devido à atual divisão da influência de TV e rádio com as redes sociais e aplicativos de mensagem, terreno em que o prefeito está atrás de quatro de seus concorrentes, segundo o IPD (Índice de Popularidade Digital) da Quaest.

Nunes tem que enfrentar ainda o desafio de ter conteúdo atrativo e que resulte em votos para tanto espaço. Ele também busca afastar o mau presságio vindo do passado.

O recorde anterior de maior tempo de propaganda na eleição de São Paulo era de um emdebista, João Oswaldo Leiva.

Em 1988, ele teve 41% do espaço de propaganda no rádio e na televisão e era o candidato apoiado pelo prefeito Jânio Quadros (PTB), pelo governador Orestes Quercia (PMDB) e pelo presidente José Sarney (PMDB).

Abertas as urnas, porém, ele ficou apenas em terceiro lugar, com 17,5% dos votos válidos, bem distante do segundo colocado, Paulo Maluf (30,1%), e da petista Luiza Erundina, que venceu a disputa com 36,8% dos votos válidos.

O cenário nacional de hiperinflação e a impopularidade de Sarney à época afundaram as pretensões eleitorais do partido, o que levou o próprio Quércia a culpar o presidente da República pelo fracasso em São Paulo e em outras regiões do país.

Na atual disputa, Nunes tem 6 minutos e 30 segundos em cada bloco de 10 minutos na TV (às 12h e às 20h30, de segunda a sábado), além de 55 inserções diárias de 30 segundos —essas peças são veiculadas nos intervalos comerciais das emissoras.

Guilherme Boulos (PSOL) tem o segundo maior espaço, com 2 minutos e 22 segundos em cada bloco do horário eleitoral e 20 inserções. José Luiz Datena (PSDB) tem 35 segundos por bloco (5 inserções) e Tabata Amaral (PSB), 30 segundos (4 inserções).

Os demais candidatos não têm tempo na propaganda eleitoral por serem de partidos que não tiveram um desempenho mínimo nas últimas eleições gerais —entre eles, Pablo Marçal, do nanico PRTB, que de acordo com a última pesquisa do Datafolha está em empate técnico na liderança da disputa ao lado de Nunes e Boulos.

“O Ricardo tem o que mostrar”, diz o deputado federal Baleia Rossi (SP), que é presidente nacional do MDB e coordena a campanha do prefeito.

“Tem uma gestão bem avaliada, eficiente, e a gente vai mostrar o que o Ricardo já fez enquanto gestor. Vamos mostrar o que ele vai poder fazer. Quando você mostra as maiores obras da história de São Paulo e as maiores entregas de políticas públicas, isso credibiliza as propostas futuras.”

Rossi reconhece que a propaganda na TV e rádio não tem o mesmo peso dos anos 1980 e 1990, mas diz apostar nas inserções. “Apesar de não ter o mesmo efeito do passado, eu acho que ainda é muito relevante. Temos pesquisas que mostram que a maioria da população ainda se informa pela televisão.”

O emedebista afirmou que o uso de parte desse tempo para criticar adversários será uma decisão do marketing da campanha.

Coordenador da candidatura de Boulos, o também deputado federal Rui Falcão (PT-SP) diz que a eleição servirá como mais um teste do poder da propaganda na TV e rádio, tendo em vista ao menos dois exemplos anteriores de candidatos com pouquíssimo tempo de propaganda que ou venceram o pleito ou foram para o segundo turno: Jair Bolsonaro na disputa presidencial de 2018 e o próprio Boulos na eleição da cidade de São Paulo em 2020.

“Eu acho que nós estamos com um tempo razoável e apostamos muito nas inserções, que é o que vale mais que tudo. Temos plano de governo testado, aprovado, sabemos o que fazer, amos aproveitar esse tempo ao máximo mostrando propostas e, quando for o caso, respondendo a ataques”, diz Falcão.

“O prefeito tem muito dinheiro, gasta muito, gasta mal e entrega pouco. Se a linha de TV repetir o que é incompetência dele na gestão, vai ser tempo demais para ele estragar, ele não vai sair ganhando não.”